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segunda-feira, 31 de março de 2008

DR. JAIME GAMA - UM PROBLEMA QUE VEM DE LONGE

A questão não é nova. Arrasta-se há muitos anos. O primeiro grande sinal foi dado, se bem me recordo, em 1995, tinha o Eng. António Guterres chegado ao poder. Era Presidente do PS-M o Dr. Mota Torres e eu desempenhava o cargo de Secretário Geral. Cansados de tanta marginalização resolvemos escrever ao Engº António Guterres. Redigi essa carta, politicamente dura na crítica mas sensata, tendo o Dr. Mota Torres assinado sem qualquer reparo. Tratou-se de uma carta que não confundia relações institucionais com relações partidárias, que sublinhava que o PS-M era avesso a paternalismos porque era na Madeira e com os madeirenses que a alternativa tinha de ser construída, mas exigia uma relação franca, concertada e estimuladora da criação dessa alternativa.
Essa carta transitou para a Comissão Permanente do PS e conduziu-nos a uma reunião, no Rato, com o António José Seguro. O melhor que se conseguiu foi, mais tarde, julgo por indicação do Dr. Jorge Coelho (que também esteve na Região e com quem tivemos uma longa sessão de trabalho), que o Engº José Sócrates tivesse ficado responsável pela coordenação das relações institucionais com o PS-Madeira. Nessa qualidade esteve na Madeira, reuniu com a Comissão Permanente, ao longo de toda a manhã de um Sábado. Não foi uma reunião agradável pois a tensão era elevada. Durante o almoço que se seguiu, infelizmente senti que daquele encontro não resultaria qualquer efeito. Havia ali sempre um mas... difícil de ultrapassar.
E assim foi. Os Ministros e os Secretários de Estado continuaram a visitar a Madeira sem qualquer coordenação com a estrutura partidária local, sobretudo ao nível do conhecimento dos dossiês em curso, a tecerem os mais rasgados elogios ao PSD da Madeira. Chegou-se ao ponto do governo socialista pagar uma parte substancial da dívida pública da Região (110 milhões de contos) sem qualquer coordenação com o partido na Madeira e, naturalmente, com os seus Deputados na Assembleia Legislativa. Os dividendos políticos ficaram, uma vez mais, nas hostes do PSD.
Mas houve mais. Fizemos sentir o problema da governamentalização da rádio e da televisão pública que exigia a colocação de pessoas de rigorosa independência, cujo departamento de informação diária e não diária, pudesse realizar um jornalismo sem constragimentos de espécie alguma; o grave problema do Jornal da Madeira com um financimento público abusivo; a colocação de pessoas de reconhecida qualidade técnica nos serviços dependentes da República, independententemente de pertencerem ao partido A ou B, enfim, foram escalpelizadas todas as situações possíveis demarcando bem o limite das relações partidárias com as relações obrigatórias de natureza institucional.
A história deste processo é muito longa e cheia de pormenores politicamente interessantes. Recordo-me de uma noite que o Engº António Guterres (1º Ministro e Secretário-Geral do PS) passou no Funchal. Jantámos em casa de um camarada de partido. Eramos umas dez pessoas. Curiosamente, aquele encontro que, pressupostamente, se destinava a falar de política constituiu um logro para muitos de nós. Falou-se do tempo maravilhoso que se fazia sentir, dos petiscos e do bolo de chocolate que estava excelente mas, daquilo que era essencial falar nem uma palavra. Despedimo-nos no meio de um profundo vazio. Logo que ele saiu regressei também a casa.
Mais tarde fiz o mesmo, agora a título pessoal, com o Dr. Ferro Rodrigues. Da carta, com aviso de recepção, nem resposta tive.
Portanto, esta questão que agora se levanta em redor do Dr. Jaime Gama não traz nada de novo. É apenas o corolário de um filme tantas vezes visto. O que não impede, pela gravidade política das declarações proferidas, que deva ser assumido um murro na mesa. É opinião minha que o Presidente do PS-M deve ir à Comissão Nacional e, olhos nos olhos, frente ao Engº Sócrates, lhe diga, claramente: BASTA! Tal como ele disse, embora subtilmente, ao Presidente do Governo Regional da Madeira.

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