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quarta-feira, 23 de abril de 2008

CREDIBILIZAÇÃO DO PARLAMENTO

O objectivo e o tom dos discursos, mormente no designado "período antes da ordem do dia" são sempre os mesmos. Assiste-se, por parte da maioria, a uma clara tendência para desviar as atenções para o Continente, como se esta não fosse uma Região Autónoma dotada de órgãos de governo próprio e, portanto, de políticas próprias. Compreendo o incómodo, ele está à vista de todos pois é difícil rebater os indicadores, mas é aqui que se deve centrar o debate sobre os vários dossiês da governação regional. Isto não significa que, a propósito, o governo da República não venha à colação. É natural que isso aconteça. A sistematização, porém, acaba por ser ridícula, ineficaz e ter o significado da incapacidade política para utilizar, em toda a sua extensão possível, os domínios que a Constituição e o Estatuto Político-Administrativo conferem.
Há, claramente, uma fuga à realidade local e um desvio da atenção para o exterior, como se tudo dependesse da República. No fundo, sintetizo, tudo o que de bom acontece constitui mérito da governação regional; as incapacidades e insuficiências, todas elas, são da responsabilidade do Primeiro-Ministro. E não é assim, como se sabe.
O Parlamento, nem a maioria parlamentar, credibilizam-se pela utilização da palavra descontextualizada da realidade regional, com os sistemáticos hinos de louvor ao Senhor Presidente do Governo Regional ou então, um ano depois, com discursos sobre a vitória eleitoral de 6 de Maio de 2007. Por aí é o descrédito.
É evidente que ninguém espera que a maioria teça considerações que coloquem em causa o governo, mas exige-se, salvo excepções que as há, outra postura, mais séria, mais honesta, de maior rigor e profundidade nas análises mesmo que tenham o incómodo de levar a água ao seu moinho. Pelo contrário, genericamente, a oposição desempenha bem o seu papel. É sensível que há trabalho, empenhamento e estudo dos assuntos em debate. Não há, grosso modo, leviandade discursiva. É, por isso que, em qualquer debate, a maioria perde e fica a léguas da capacidade argumentativa da oposição. Conjugar posicionamentos políticos distintos, discuti-los, saber ouvir e negociar não fazem parte da lógica da maioria. É pena. Todos perdemos, o povo perde, quando salta aos olhos que o objectivo, no mor das vezes, é "toca a despachar".

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