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sábado, 14 de junho de 2008

EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO DESPORTO (XI)

Continuação.

Mas vamos por partes, relativamente aos cinco pontos que considero fundamentais:

Organização Estratégica dos Estabelecimentos de Ensino

Do Pré-Escolar ao último ano do Ensino Secundário, de uma forma sequencial e por ciclos, há que assumir a educação motora (pré-escolar), as actividadespré-desportivas curriculares (1º ciclo), a iniciação desportiva (2º ciclo), a orientação desportiva (3º ciclo) e a especialização desportiva (secundário)
[1]. Uma opção destasimplica, óbvia e necessariamente, uma mudança organizacional e faseada nosestabelecimentos de ensino que reflicta um projecto educativo sustentado, assente em três princípios fundamentais do desenvolvimento: o da prioridade estrutural, o da transformação graduada e o da continuidade funcional. Esta opção implica, necessariamente, uma nova perspectiva na organização dos horários escolares que vá ao encontro ao projecto educativo e não aos múltiplos interesses particulares que subsistem no interior da comunidade escolar.
Compreendo que não é fácil destruir rotinas, algumas impostas, outras, porque é mais fácil ser conduzido do que conduzir. Aliás, o problema não é só do nosso País. Acontece sobretudo nos países que ainda procuram um fio condutor para uma política educativa portadora de futuro. Li, recentemente, um artigo em co-autoria dos Professores Maria Fernandes e Ricardo Santos, do Centro Universitário Moura Lacerda, Brasil
[2], no qual assumiam:

“(…) Transformar uma escola por dentro não é fácil, nem rápido. Trabalhar de um jeito novo na educação, significa pensar de maneira diferente o acto de ensinar. Isso reflecte-se na postura frente ao aluno, aos colegas, ao que se deseja transmitir e ao modo de fazê-lo. Tudo isso envolve subtilezas de comportamento e de atitudes”.

Eu próprio tenho a experiência das dificuldades e dos entraves. Quando, há sete anos, na minha escola, apresentei um projecto, simples mas objectivo, visando, por etapas, a implementação do essencial das preocupações que aqui venho desenvolvendo, contei com o empenhamento maioritário dos meus pares de grupo de disciplina relativamente à importância de operacionalizarmos a experiência da mudança, porém, já não tive o mesmo êxito, em sede de Conselho Pedagógico e o projecto ficou pelo caminho. Foi uma batalha perdida, porventura por inabilidade minha, no que concerne ao convencimento dos restantes professores representativos dos restantes grupos de disciplina. Penso, no entanto, que terá restado alguma coisa desse debate e, hoje, embora seja muito pouco, saliento, vejo os pátios, enfim, todas as zonas de recreio, a merecerem uma outra atenção. Há inúmeras actividades que, livremente, estão à disposição dos alunos. Há professores com horas de substituição no quadro da designada “Animação de Recreios”. Cerca de 25% das horas lectivas dos turnos da manhã e da tarde contam com professores disponíveis para desenvolverem acções junto daqueles que, por uma ou outra razão, não tiveram uma qualquer aula. Desfrutam de alguns jogos tradicionais, praticam xadrez, damas, badminton, ténis de mesa, tentam resolver puzzles de madeira que obrigam a uma grande concentração, saltam à corda e até, no bar dos alunos, um professor desfia-os para a descoberta de enigmas com valor cultural. Trata-se, é certo, de uma fase experimental e ainda pouco consistente. E porque é experimental terá de ser aprofundada numa dimensão diferente, mais integrada no Projecto Educativo e interligada nas mudanças que defendo para a actual Educação Física
[3] e para o Desporto Escolar. Numa perspectiva de optimização dos meios e visando o alargamento deste tipo de actividades de carácter informal, de ocupação útil do tempo livre, não considero despiciendo que o pessoal auxiliar de acção educativa venha a beneficiar de formação adequada para o desempenho de funções de animação de recreios, alargando assim a capacidade de resposta do estabelecimento de ensino. Tudo isto enquadra-se, do meu ponto de vista, numa lógica em que a Escola deixe de ser o “Templo da Sabedoria Imutável”.

[1] O modelo organizacional proposto, recentemente, pelo Doutor Gustavo Pires é o que mais se adequa ao que aqui venho desenvolvendo e que, no essencial, há muito defendo.
[2] A Página da Educação, Dezembro/03, pg. 10.
[3] Fui aluno, em 1969, do Professor Nelson Mendes, autor do livro “A Humanização do Movimento” (1969). Na parte que consagra à Antropologia – ponto de partida, salienta: “É nossa opinião que a expressão Educação Física é actualmente uma expressão limitadora, estática e não válida. Não está mais em causa o físico ou soma como realidade existente em si própria. O físico não pode, actualmente, existir como objectivo específico de qualquer acção de âmbito educativo”. “(…) Esta expressão enquanto persistir como expressão actual, limitará forçosamente o seu verdadeiro significado e, portanto, qualquer acção nesse sentido”. “(…) Há que situarmo-nos na corrente filosófica actual quanto à natureza do Homem e daí partir”. Há 39 anos…
Continua.

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