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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ENQUANTO É TEMPO...

Ontem acompanhei os vários trabalhos de reportagem apresentados pelos operadores nacionais de televisão. Senti-me chocado, porque uma coisa é acompanhar a sucessão de acontecimentos no momento em que eles estão a acontecer, outra é, serenamente, ver pormenores, analisar as intervenções produzidas e sobretudo cruzar os vários pontos de vista dos comentadores especialistas em direito. As imagens, embora traduzindo a realidade, são muito mais chocantes que o momento em que elas aconteceram. Há muito que escrevo sobre as características do poder regional e sempre destaquei a minha convicção que os madeirenses não sabem para onde estão a ser levados. A gritaria, a ignorância altifalante e o acesso facilitado aos meios de comunicação social, por um lado, os baixíssimos padrões culturais, os constrangimentos à liberdade e a política da subsidiodependência, por outro, criaram uma Região domesticada e ao sabor dos interesses de uma bandeira partidária.
São 32 anos a transpirar política ao segundo, de muitas ofensas, de afastamento de muitas pessoas, de subtis perseguições, de medo, de divisão dos madeirenses entre bons e maus, de apego ao poder, de compadrios, de favorecimentos, de gastos supérfluos que apenas garantiram o florescimento de conhecidos grupos, eu sei lá, tudo quanto aconteceu nestas três décadas. A História um dia relatará e julgará. Aconteceram, também, algumas coisas boas para a Madeira, não tenho dúvidas. O problema, porém, não é esse, pois se alguém ganha o poder é precisamente para trabalhar em prol de todos. E isso não aconteceu. Tome-se em consideração o indicadores da educação, da economia, da cultura, da pobreza e lá chegaremos ao ponto de elencar os dramas que aí temos por resolver mas que, diariamente, são varridos para debaixo do tapete político.
É minha convicção que este PSD-M não está preparado para perder umas eleições. Os seus problemas internos, os grupos que, discretamente, se digladiam e a força dos privilégios adquiridos ao nível dos pequenos poderes concelhios e associativos, fazem cocktail muito perigoso e de consequências imprevisíveis. As reacções que se vão dando no Parlamento pelos inflamados discursos entre o poder e as oposições, traduzem isso mesmo, uns, desesperadamente, a sentirem que o poder se esvai, outros, 32 anos depois, fartos e cheios de uma luta que parece inglória, a dizerem bem alto: Basta!
É evidente que ninguém de bom senso pode estar de acordo com certas posturas parlamentares, faltas de respeito e com excessos de linguagem. Não as entendo nem as suporto. Mas também é verdade que os epítetos desferidos pelo líder do PSD ao longo dos anos (ainda ontem ouvi, na SIC, o presidente do governo chamar, várias vezes, no Parlamento Regional, fascista a um orador da oposição) são, incomparavelmente muito superiores aos ataques menos corteses e impróprios da oposição em relação ao poder. Isso é indiscutível.
Portanto, a Madeira está numa encruzilhada. Diria mais, está num beco de difícil saída. E não será uma mensagem do Presidente da República que atenuará esta tensão. É que ele também tem medo como se viu pela sua última visita à Região onde, perante tanto atropelo, assobiou para o lado e acabou por fazer um elogio ao mentor de tudo isto, maior que a própria Região. Os ódios que por aí andam, as indisfarçáveis tensões acumuladas podem descambar. O ritmo dos acontecimentos em progressiva aceleração, a imparável radicalização dos procedimentos, os olhares enviesados, a desconfiança, o medo que paira ao nível superior, partidário e de grupos afins, podem criar uma situação muito complicada de gerir. Os Órgãos de Soberania têm deixado o marfim correr e eu que entendo que os nossos problemas devem ser aqui resolvidos, portanto, sem paternalismos vindos de fora, acabo por reconhecer da necessidade de alguém pôr ordem na casa, aflita que anda em tantos sectores da governação. Enquanto é tempo.

1 comentário:

Unknown disse...

Realmente só vendo o que as televisões mostraram acerca deste lamentável episódio é que podemos ver a dimensão da falta de nível a que chegou a assembleia regional.O presidente do governo é o rosto de toda esta verborreia.Basta ver a maneira como os deputados do PSD estavam a se comportar no hemiciclo,o vanglariolismo,a festança,as gargalhadas,etc.Ou é desta que se tomam medidas para pôr cobro a tudo isto ou então que se feche de vez a assembleia.Vamos ver o que fará o SRº SILVA - Presidente da Républica.