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domingo, 2 de novembro de 2008

PALAVRAS PROIBIDAS: CRISE E POBREZA

Da última semana parlamentar duas palavras sobressaíram, ou melhor, vieram confirmar as lógicas que presidem a este governo da Madeira: crise e pobreza. Aliás, há muito que é assim. Digamos que há um pacto assumido entre governantes e deputados no sentido de as riscar do discurso político. Mas que elas existem e são, politicamente, sensíveis no dia-a-dia, disso ninguém tem dúvidas.
Queixam-se do governo da República e de alegados cortes orçamentais mas, por aqui, não há crise; as lojas fecham, as empresas declaram falência mas isso é natural, é o mercado a funcionar onde umas encerram para dar lugar a outras; o desemprego cresce, mas lá vem o mesmo de sempre, com um discurso ridículo, dizer que, em relação há cinco anos, melhorámos zero vírgula não sei quantos por cento; se não há dinheiro para pagar as ajudas de custo, logo as culpas são do Sócrates; a dívida aumenta de forma preocupante e surge o discurso que a História fala de obras, não fala de dívidas; embora pobres e dependentes, perdem 500 milhões de apoios comunitários mas o discurso é que somos uma Região objectivo 2, isto, a caminho do sucesso económico... e lá para o final do século seremos uma grande potência no Atlântico. Portanto, resumindo e concluindo, não há crise. O governo regional decretou que não há crise. E se alguém dela fala é, apenas, por má-fé.
Pobreza é outra palavra que põe os cabelos em pé do membros do partido maioritário. Dos que ainda têm cabelo! Qual pobreza! Se um político, por deslize, dela fala, é posto a andar em dois tempos, aliás, como aconteceu ao anterior presidente da Segurança Social da Madeira; se alguém denuncia os milhares de casos de pobreza persistente, é esmagado publicamente porque está a servir-se da desgraça e a tentar tirar dividendos políticos, coisa de comunas e de fascistas; se os partidos propõem um complemento de pensão de € 60,00 para os idosos, logo têm de ouvir a resposta ... o que eles pretendem é dar subsídios para os beneficiários gastarem em cerveja e carros novos; se alguém propõe um valor anual para apoio aos medicamentos dos idosos, alto e parem o baile porque todos os idosos vão à farmácia e levantam todos os medicamentos necessários; se se diz que o actual sistema de apoio da acção social escolar é indecoroso, aparece um crânio a dizer que "o facto de se apoiarem 47% dos alunos não indica que sejam todos pobres" (eu sempre andei desconfiado que também apoiavam gente com sinais exteriores de riqueza); se se pergunta porque razão a Madeira não tem o Banco Alimentar Contra a Fome, a resposta vem célere, que não existe um espaço com 600 m2 disponível; se alguém levanta a voz no sentido de dizer que a Sopa do Cardoso deve estar aberta ao fim-de-semana porque a fome não pode esperar para Segunda, há sempre alguém a desdramatizar. Portanto, resumindo e concluindo, não há pobreza. O Governo Regional decretou que não há pobreza. E se alguém dela fala é, apenas, por má-fé.
Uma nota final que vem de dentro de mim, que não aceito porque me constrange ver um idoso menos bem, uma família desesperada ou uma criança a quem negam o futuro: não brinquem nem com a crise, tampouco com a pobreza. Ambas aí estão e o crescimento da primeira, inevitavelmente, corresponderá ao aumento exponencial da segunda. Parem de desbaratar o dinheiro público ao serviço da manutenção do poder.

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