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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

MORRER AOS BOCADOS

Ano terrível o que agora termina. Um ano que deixa muita gente aflita. O movimento nas ruas, praças e espaços comerciais, menor do que em tempos idos, transmitiu a imagem daquilo que a Madeira realmente é: uma Região deprimida no plano económico e que não consegue descolar para patamares de satisfação social. As dificuldades estão aí e para durar. Atingirão todos e fragilizarão, ainda mais, os que pouco ou nada têm. Porém, por escassos dias, a pequena Região no meio do imenso Atlântico, travestiu-se, pintou-se, engalanou-se, cantou, comeu, bebeu, deixou-se levar na ilusão de um tempo único e hoje, ao cair do pano, fará rebentar os foguetes multicolores, qual grito paradoxal do descontentamento da maioria. De permeio, uns empanturraram-se de iguarias e prendas, desfizeram-se em convites, amabilidades e lembranças pelas facilidades criadas e a criar; outros, milhares, os da zona social cinzenta, engoliram, inevitavelmente, o pão que o diabo amassou e que, para o ano, não venha pior, dizem, vergados que andam ao peso do Senhorio.
As políticas a isso conduziram, às falências, ao desemprego, à emigração de famílias inteiras, à crescente e preocupante desestruturação familiar, ao Homem desrespeitado e esmigalhado através do cilindro do mais forte, por ausência de um projecto colectivo aglutinador e dinamizador do corpo social; as políticas a isso conduziram, a uma terra progressivamente sem alma, desumana em relação aos direitos do Homem, à ausência de uma dimensão económica assente em objectivos culturais, a uma terra cheia de coisas mas vazia de significado; as políticas a isso conduziram, à progressiva morte dos princípios e dos valores intemporais, ao impiedoso esquecimento dos idosos e dos milhares que sobrevivem nas margens da sociedade.
O quadro social não se compagina com o estonteante champanhe de hoje. Há gente com responsabilidades políticas, de smoking e charuto, mas descalça. Charmosos por fora mas amargos por dentro. Esquecem-se que a sua segurança e a sua festa dependem da segurança e da festa dos outros. Terminado o apoteótico fogo e apagado o colorido do anfiteatro, ficará a nuvem de fumo a impedi-los de ver a realidade violenta na qual mergulham homens, mulheres, crianças e idosos, ver esse doloroso quadro da existência onde há mais direitos que justiça.
O próximo ano, apesar dos votos e das palavras de circunstância, não será de feição. Sê-lo-á, apenas, para alguns. A dívida pública de 6 mil milhões de Euros, se integrados forem os valores irresponsavelmente escondidos, não oferecerá margem de manobra para que os 50.000 pobres possam cobrar a monstruosa dívida social. Este governo está a pôr em causa a Autonomia e a cavar a nossa própria sepultura. E a Constituição da República nada tem a ver com isto.
Este governo que grita e canta de olhos fechados, chutando para longe a bola de neve das responsabilidades, padece de sintomatologia grave. Caminha para a fase agonizante. Morre aos bocados. Há uma septicemia galopante, uma debilidade generalizada, com picos de febre inauguracionista acompanhada de imensos calafrios, batimentos cardíacos acelerados, mal-estar, queda de pressão, confusão mental e múltiplas feridas na pele governativa. Arrasta-se, também, como um sem-abrigo!
Logo, no Te Deum e Missa, artistas deste circo, oiçam a Palavra (oxalá seja exaltada olhos nos olhos), batam no peito e peçam perdão pelo egoísmo, a arrogância, o desenfreado oportunismo, o regabofe do controlo da sociedade através de meios politicamente fraudulentos, curvem-se pela falta de verdadeiro amor às gentes desta terra, gente que precisa de pão e não de mais cimento e, quando o dia terminar, lembrem-se que brindam ao insucesso das políticas económicas, sociais e culturais.
Nota:
Artigo de opinião, da minha autoria, publicado na edição de hoje do DN-Madeira.

2 comentários:

Unknown disse...

Srº Prof.
Passei por aqui para desejar-lhe umas boas saídas e entradas e faço votos para que o ano novo traga alguma mudança na nossa politica regional.Continue com a mesma vitalidade, pois segundo dizem,a esperança é a última coisa a morrer."Água dura tanto bate que até fura".Esperemos que asssim seja.Um abraço.

André Escórcio disse...

Caríssimo,
Muito obrigado. Que seja muito feliz em 2009 na companhia de toda a família.