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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

QUANDO A SOLIDÃO MATA...

O assunto não é novo. Há quanto tempo dele se fala. Mas nem por isso a peça da jornalista Marta Caires, inserta na edição de hoje do DN-Madeira, deixa de ser oportuna e importante. Sobretudo importante no sentido de manter viva a situação dos idosos, muitos deles que vivem em condições difíceis, de isolamento e indefesos. Homens e mulheres, uma grande parte com vidas extremamente dolorosas, em que nada lhes foi fácil, e que chegados aos últimos anos da sua vida são tratados de forma indigna por quem detém o poder. Muitos que nasceram pobres, que apesar disso lutaram contra a cruz de uma vida, suportaram as infinitas dores das carências, face ao encolher de ombros de quem tem a responsabilidade política de operar as mudanças necessárias no sentido do seu bem-estar, mínimo que seja.
Política, ética e moralmente é inaceitável que a Madeira tenha 757 idosos em lista de espera por um lugar num lar. Muitos deles nunca terão a hipótese de serem chamados a ocupar uma cama e a beneficiar dos cuidados fundamentais, não só no plano da saúde mas também do carinho e do amor necessários ao seu equilíbrio. E diz-se este governo de matriz social. Ora, ter uma matriz social implica conhecer e ter sensibilidade ao que por aí vai, desde logo, descer à Madeira real, à Madeira profunda, à Madeira com a qual nos confrontamos quando percorremos o centro da cidade mais escondido, o anfiteatro dos becos e travessas ou as localidades mais recônditas. É conhecer a situação de muitos acamados em locais de difícil acesso, o abandono ou falta de cuidado na assistência de muitas famílias perante os seus entes, as dezenas de altas problemáticas, os níveis das pensões face aos encargos, enfim, um mundo de situações face às quais a política não pode ser cega nem estrábica. A matriz social mede-se, enfim, pela capacidade de estabelecer prioridades, de dizer não a mais um túnel ou um estádio de futebol e destinar os dinheiros públicos disponíveis para a satisfação das necessidades básicas. Qualquer político com responsabilidades deveria sentir vergonha pelo facto de, logo no primeiro dia de 2009, na Madeira Nova, cinco idosos terem sido encontrados mortos em casa. Estavam sós e ninguém os pôde socorrer.
E a propósito da morte e da falta de solidariedade, acabo de chegar de um funeral. Um funeral que me custou muito pela profunda amizade que nutria pelo HOMEM BOM, o exemplo de cidadão e político, que foi o Arq. João Conceição. Ali, na frieza e no silêncio de um cemitério, onde tudo acaba, dei comigo a vaguear os olhos pela multidão numa permanente interrogação: para quê tanta luta pelo poder e pelos milhões na conta bancária, para quê tanta falta de solidariedade, para quê tantas palavras insensatas ditas boca fora, para quê tanta agressividade e tanto espezinhamento dos outros, quando tudo termina num dado momento sem qualquer hipótese de regresso. Para quê? Para quê tanto discurso inflamado, tanto ódio destilado, tanta ofensa, apenas pela manutenção do poder, quando tudo se resume a quatro tábuas e umas flores. Para quê?

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