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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

RIGOR, MAS O QUE É ISSO?

Há uma tendência discursiva (política, claro) que cada vez mais se generaliza, orientada no sentido que aquilo que se faz no Continente em matéria de Educação é errado comparativamente às políticas vigentes na Região Autónoma da Madeira. Volta e meia o disco toca, como quem quer disfarçar as suas insuficiências. Ora, nem oito nem oitenta, eu que sou crítico, há muitos anos, relativamente a muitos aspectos da política educativa nacional.
Vem isto a propósito de ontem ter escutado o Director Regional de Educação da Madeira, durante a entrega de uns prémios, onde falou do rigor no processo ensino-aprendizagem registado na Madeira em contraponto ao facilitismo que impera no Continente. Sobre esta matéria, frontal e politicamente, tenho de dizer que aquele responsável político continua a não acertar no alvo. Afinal, a que rigor se refere? Aos resultados que, infelizmente, os indicadores que os "ranking’s" nacionais demonstram, colocam a escola madeirense numa preocupante posição, quer no ensino básico quer no secundário? Às taxas de abandono e de insucesso registadas na Madeira? À taxa de analfabetismo? À ausência de qualificação profissional? Se é esse o rigor que o sistema educativo regional politicamente enforma, apenas digo, NÃO, OBRIGADO! Por aí fica demonstrado que o conceito de rigor do governo regional é uma falácia.
Mas pode-se enquadrar a palavra rigor em um outro domínio: referir-se-á o governante à questão de haver ou não exames na escolaridade obrigatória? Ora bem, se é por aí que a palavra rigor vem à colação, novamente, atirou para fora do alvo. Simplesmente porque numa estrutura de escola moderna, exigente e orientada no sentido do sucesso, tais exames formais na formação básica são absolutamente dispensáveis. A avaliação contínua é muito mais vantajosa. Há mais de quarenta anos que vários países de sucesso abandonaram tal pressuposto no que diz respeito ao imprescindível lastro da formação que, agora, mais do que nunca, não se esgota em nove ou doze anos de escolaridade mas num processo de contínua aprendizagem ao longo da vida. Para esse processo de contínuo sucesso os alicerces são fundamentais, não os exames no sentido clássico.
E nessa formação básica, nesse lastro de conhecimentos essenciais, de cultura, inclusive, a escola tem de estar preparada para responder a todos os níveis. Só que isso implica um sentido organizacional de escola completamente diferente do actual, novas lógicas e dinâmicas de funcionamento, um racional número de alunos por escola, um novo rácio entre o número de professores e alunos, separação entre aprendizagens fundamentais e as acessórias, novos desenhos curriculares e programáticos, exemplar formação ao nível dos auxiliares de acção educativa, uma vez que a Educação não se faz apenas na sala, consistentes apoios educativos logo à primeira situação detectada de insucesso, enfim, um infindável número de aspectos que têm muito a ver com rigor e seriedade mas que nada têm a ver com o rigor que o Director Regional fala.
Portugal, incluindo a Madeira, gasta, diariamente, quase dois milhões de euros devido às repetências de ano escolar. Muito mais barato ficará mudar-se o sistema e apostar numa escola de qualidade e mais próxima do aluno. Ah, tudo isto sem esquecer um trabalho integrado e multifacetado ao nível das famílias e da organização social do mundo do trabalho. Coisa que este governo não sabe o que é.
Eu pouco sei disto, confesso, apenas vou estudando aqui e ali estes processos, mas acho que é preciso ter algum desplante para se falar de coisas que, provavelmente, estariam certas no final do século XIX.

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