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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

TAXA DE RETENÇÃO E DESISTÊNCIA NO ENSINO BÁSICO

É a receita do costume: para o Instituto Nacional de Estatística, a Madeira "é a região do país com maior taxa de retenção e desistência no ensino básico, registando mais do dobro dos valores dos Açores, segundo os Anuários Estatísticos Regionais divulgados pelo INE. De acordo com os documentos, que compilam as indicações estatísticas nacionais à escala regional e municipal, a Região Autónoma da Madeira regista uma taxa de retenção e desistência na ordem dos 16,2%: 8,3% no 1º ciclo, 16,7% no 2º ciclo e 26,8% no 3º ciclo. A Região Autónoma dos Açores tem uma taxa de retenção e desistência de 7,7%: 4,8% no 1º ciclo, 11,7% no 2º ciclo e 9,3% no 3º ciclo; para a Secretaria da Educação a retenção e desistência escolar é de 14,4%. Cerca de 1,8% a menos. E neste preocupante quadro vem o Secretário Regional da Educação com a cantilena do costume que tal se deve ao rigor que impera no sistema educativo da Região, ao contrário do facilitismo que grassa no Continente.
Ora, isto não tem nada a ver com o rigor, tampouco com a ideia que andam a vender que, no Continente, tudo é mais facilitado, daí as menores taxas. Isto tem a ver com a sociedade que temos, o modelo económico que temos, a pobreza que temos, o álcool que temos, a cultura que temos, a falta de investimento na educação que temos, com os enquadramentos organizacionais da escola que temos. Tem a ver um pouco com tudo isto. Tanto assim é que no 3º Ciclo a taxa de retenção e desistência chega aos 26,8%. Precisamente numa idade onde, por múltiplos factores (há tanto a dizer sobre isto!), começam também a procurar trabalho para compensar as carências. E quando os nossos estudantes chegam ao patamar do ensino superior, pergunto, então, com tanto rigor e tão pouco facilitismo, para quê um contigente especial para a Madeira no sentido do ingresso nas faculdades, obviamente, mais facilitado?
É tempo de não brincar com os números e de olhar de frente, com profundidade e seriedade para o sistema educativo regional. Ademais, ainda a propósito do rigor e do não facilitismo, chego à conclusão que a Secretaria, ao argumentar com as designadas "diferenças legislativas e regulamentares" entre o Continente e as Regiões Autónomas, isto é, para justificar que enquanto nos 2.º, 3.º e 4.º anos "as recomendações nacionais vão no sentido da não-retenção", ao contrário do que sucede na Região, onde se mantém o princípio de "quem não sabe não deve transitar de ano", a Secretaria, repito, para explicar as taxas de insucesso, denuncia, claramente, que ainda não entendeu, o que é grave, o que significa o conceito de avaliação contínua; não entendeu que rigor no ensino-aprendizagem não significa chumbar nos primeiros anos entendidos como lastro da formação; que "facilitismo é chumbar, rigor e exigência é trabalhar" (talvez a frase mais feliz da Ministra da Educação); não entende que é possível rigor e um alto grau de sucesso no processo ensino-aprendizagem quando se compaginam uma série de factores que não podem ser descurados. A Secretaria não entende que se a sociedade está mal a escola não pode estar certa! E vai daí, politicamente, tenta mascarar os números, tenta dizer que estamos melhor que no século passado e, por este andar, não faltará muito tempo que sublinhará que no tempo de D. Afonso Henriques era bem pior!
Não gosto que brinquem com a Educação, porque ela é a base e o fundamento do nosso futuro colectivo.

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