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domingo, 1 de fevereiro de 2009

NÃO LEVARÁ MUITO TEMPO E O POVO ACORDARÁ DA ANESTESIA

A Madeira caminha para uma situação de grave conflito social. Penso que poucos duvidarão. Há um conjunto de factores que dia-a-dia se conjugam em completo desacerto com o discurso oficial. Ao mesmo tempo que, aos olhos de todos, a crise, que não é de agora, instalou-se e agrava-se, o discurso político continua a despachar para fora os problemas que são de cá de dentro.
A intervenção política do presidente do governo no recente jantar-comício na Ponta do Sol, provou isso mesmo. Ali, na Ponta do Sol, a avaliar pelas palavras ditas, não há problemas para resolver, a agricultura em geral está resolvida, o concelho cresce, não há problemas sociais, há um bem-estar de causar inveja. Por isso, o discurso foi todo ele dirigido para o inimigo externo, para a República, como se o governo regional não existisse. Daí os disparos: "a Madeira está metida numa República que não funciona", há um "sufoco colonial" e abençoado povo madeirense que me diz "Alberto João aguenta-te e luta contra eles" porque a "Madeira está a ser roubada, discriminada", portanto, "temos de tentar pôr o Sócrates no olho da rua".
Ele pergunta e dá a resposta. A questão da boa ou má governação não está aqui, nos órgãos de governo próprio, mas sempre em alguém de fora, pouco compreensivo com a Madeira. Sempre foi assim. Há que anos é assim!
Só que, agora, o problema já não é apenas com os de fora, com a República, é também com os milhares que votaram e não concordam com estas orientações políticas. E para condicioná-los nada melhor do que utilizar a maioria que dispõem na Assembleia Legislativa da Madeira. É o Regimento que foi alterado para condicionar o debate, são os secretários regionais que, sucessivamente, não se apresentam na Assembleia para responder pelos seus actos políticos, é o presidente que foge da Assembleia como o diabo da Cruz, é a passagem dos projectos de resolução para o âmbito das Comissões Especializadas, estas, por sua vez, com um regimento extremamente condicionador da palavra, enfim, é, agora, a tentativa de colocar fora da Assembleia todos os partidos que não atinjam 5% de votos nos actos eleitorais. Mais. É a retirada da "confiança política" ao Representante da República que está atento ao desmando e, a juntar a isto, um vergonhoso "jackpot" para encher os cofres e gastar em monumentais campanhas eleitorais. Há, aqui, uma ideia de puzzle, onde todas as peças (internas e externas) estão a ser colocadas e que visam, no futuro, espezinhar e manter, sob uma capa democrática, uma ditadura da maioria de efeitos muito graves.
Seria bom que o governo regional, até 2011, final do seu mandato, governasse a Madeira em função das realidades e das necessidades. É isso que o Povo quer e é isso que a oposição deseja. Em 2011 logo se verá no acto eleitoral. Até lá está obrigado a rever comportamentos e estratégias políticas respondendo, sem manhas e subterfúgios, aos problemas da Madeira.
Estou certo que o Povo, não levará muito tempo, acordará desta anestesia, diariamente alimentada com novas doses.

4 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Professor

"...o povo acordará..."

Não estou tão certo que isso aconteça nos próximos tempos!
A "droga" é das pesadas,e vem sendo,continuadamente,injectada há mais de trinta anos!

André Escórcio disse...

Caríssimo,
Em 1974, dias antes da Revolução, a designada "brigada do reumático" reuniu-se com Marcelo Caetano prestando-lhe vassalagem. O Povo aplaudiu (tinha de aplaudir). Dias depois estavam na rua contra aqueles a quem deram palmas. E no dia 26 de Abril, como sabe, as duas principais figuras (Tomás e Marcelo) já estavam na Madeira a caminho do Brasil.
Não gostaria que houvesse convulsão social pelos caminhos que a Madeira está a percorrer, mas gostaria que a Democracia funcionasse, através do voto livre expresso nas urnas. É difícil, compreendo, mas pressinto que tal irá a acontecer. Para bem de todos nós e desta terra que, desinteressadamente, amamos!

Anónimo disse...

Senhor Professor
O senhor é um homem de fé, ao contrário de mim que não acredito em milagres.
Trinta anos,em Democracia(note-se) de "vira o disco e toca o mesmo",corrobora a minha descrença.

Todos os ditadores, como Salazar e Jardim, sempre souberam explorar a psicologia das multidões.
Multidões que aplaudem,sempre,o Poder ou uma sua muito credível perspectiva(o fenómeno Humberto Delgado prova-o à exaustão).

De resto, não fora a Guerra Colonial(que feriu as famílias portuguesas - com os seus filhos, mortos e estropiados - e massacrou, com sucessivas comissões,os mais jovens Oficiais do Quadro Permanente)muito provavelmente, ainda hoje, perduraria a "democracia orgânica" do Estado Novo.
Neste sentido, Abril não teria acontecido e continuaria a ser a aspiração de uma minoria, Democrata, atenta à iníqua realidade socio-política.

No caso concreto da Madeira - contrariamente à realidade Açoriana - a "insularidade cultural", da sua maioria, tem tido, e mantem, um peso inamovível.
A "Madeira Nova",filha dilecta do Estado Novo, constitui a mais descarada forma de revanchismo que a ofensa, bronca e maioritariamente consentida...continua a aplaudir e a branquear.

Infelizmente, a crescente descredibilização, das Instituições Nacionais, não ajudam ao acordar em que, o Senhor Professor,deposita tanta fé.

À Oposição compete - assumindo a sua quota de responsabilidade - reflectir, seriamente,nos caminhos, até então, trilhados, e,corrigindo os seus próprios e persistentes erros,reencaminhar esta terra na senda da Dignidade.

Queira aceitar as minhas democráticas saudações.

André Escórcio disse...

Caríssimo,
Concordo consigo na análise que fez através do seu excelente texto.
Mas lá diz o Povo, que não há bem que sempre dure nem mal que perdure. É neste quadro que me posiciono no sentido de uma mudança que traga o desenvolvimento económico, social e cultural que anseamos. Penso que é possível pois esta máquina está velha e ferrugenta apesar do muito óleo que derramam nas hostes apaniguadas.
Respeitosos cumprimentos.