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sábado, 7 de fevereiro de 2009

UMA SOCIEDADE FRÁGIL E DOENTE

Ontem fiquei estupefacto numa das "catedrais" do consumo. Num hipermercado, dirigi-me a uma prateleira e, para espanto meu, as caixas dos produtos lá estavam, todas alinhadas, mas, vazias. Procurei indagar-me e a resposta veio pronta: leve a embalagem e, no acto de pagamento, entregar-lhe-ão o produto. Na caixa questionei as razões daquele procedimento e, novamente, a resposta, dita em voz baixa, pedindo desculpa, veio célere: "sabe, há muitos roubos. Temos vigilância, circuito interno de imagem, mas não chega. Levam bebidas alcoólicas, electrodomésticos, entre outras coisas e, por isso, tem de ser assim. Nós pedimos desculpa". Foram sensivelmente estas as palavras da empregada. Face ao meu lamento por aquilo que se está a passar ela, entre dentes, adiantou: "penso que será cada vez pior".
Sempre houve, por doença, necessidade ou malandragem, quem deite a mão ao que não lhe pertence. Desde o conto do vigário, ao carteirista até ao roubo de contornos mais elaborados. Dos mais pobres e humildes até aos grandes senhores das negociatas que se enchem sem necessidade, até, de mexerem no produto. Sabe-se que assim é. Só que há um conjunto de situações que se estão a passar, tal como a acima descrita, que são preocupantes e que merecem uma reflexão de quem tem a responsabilidade de governar. Há aqui um claro sinal de uma sociedade desestruturada, de carências múltiplas, que de forma crescente não respeita princípios e valores, uma sociedade com muitos agarrados à droga e que, por via disso, precisam de roubar para alimentar o vício, uma sociedade com fome e que rouba para satisfazer uma necessidade básica. Este processo tem, obviamente, variáveis múltiplas e complexas que denunciam a existência de uma sociedade frágil e doente.
Numa outra superfície comercial li, há dias, junto às caixas, um dístico que informava a possibilidade dos clientes pagarem as contas de supermercado a 30, 60 ou 90 dias. É, indiscutivelmente, um outro sinal, por um lado, que as receitas estão a baixar, por outro, uma facilidade de resposta às carências sentidas. Só que, por este processo, penso eu, o drama das famílias só se agudizará, porque quem não tem para pagar o essencial dos alimentos, 30, 60 ou 90 dias depois só verá a sua conta corrente em níveis incontroláveis. Eu diria que o "rol das compras" regressou mas de forma mais sofisticada.
É tempo de olhar para a sociedade e de atacar os focos da doença. Até porque nem o Sócrates nem a Constituição são culpados pelo estado a que se chegou. Certo?

3 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Professor

Tem carradas de razão em tudo o que diz, até:

"Até porque nem o Sócrates nem a Constituição são culpados pelo estado a que se chegou. Certo?"

Confesso que não esperava isto de si! Habitoou-me(e creio que a todos os que estão atentos às suas avisadas e frontais opiniões)a um rigor que, com aquela sua afirmação,tropeça num raciocínio concentrado na realidade regional.

Na verdade, se Sócrates não deve ser responsabilizado pela regional (des)governação de Jardim,também, em termos nacionais, não deve ser ilibado de uma gravíssima descredibilização, da qual é o principal actor e fautor.
Por decoro e pudor,dispenso a discriminação dos inúmeros factos que a res pública conhece.

Quanto à(sucessivamente remendada)Constituição,que Jardim desejaria retomasse a forma e a letra da de 1933, não passa, ainda, de uma mitigada e recorrente "força de intervenção". Como os Bombeiros...
A ambiguidade,de muitos dos seus preceitos, dá lugar às mais cómodas e regulamentares interpretações dos diferentes poderes.
Aqui,e mais uma vez:
"Para os Amigos,Tudo; para os outros(leia-se,para o Zé Povinho) a Lei."

Desejo-lhe um Bom Domingo.

André Escórcio disse...

Bom dia.
Caríssimo,
Eu entendo e concordo com o seu comentário. Talvez não tenha sido claro nas implicações a que o último parágrafo se refere.
No essencial, quando vejo o líder local do PSD (Presidente do Governo) e a generalidade dos Deputados da maioria na ALM vociferarem contra a República em tudo, dissipando responsdabilidades locais, até parece que a Madeira não dispõe de órgãos de governo próprio. Aliás, tanto é assim que, da última Comissão Política do PSD saíu a ideia central que, doravante, o discurso político deve consubstanciar-se na figura de Sócrates. Sabe-se, também, que a Constituição tem sido visada como bloqueadora do país e da região no que concerne ao desenvolvimento económico, social e cultural. Eu não entendo assim.
Houve e há possibilidades de, AQUI, corrigir e despoletar políticas económicas favorecedoras de melhores resultados no campo social e cultural. Eu sinto, tal como o meu Caro leitor, que estamos, lenta mas seguramente, a caminhar para uma situação muito grave na Região que, todos nós, amando a nossa terra, desejamos evitar.
Enfim, há muita coisa que não depende da República mas de quem tem a responsabilidade de governar a Região. Foi isto que quis transmitir. Até porque esta é uma Região Autónoma.
Obrigado pelo comentário.

Anónimo disse...

Senhor Professor

Ainda bem que o comentário do Pica-Miolos originou a sua resposta clarificadora.
As coisas têm que ser inequívocas e muito bem explicadinhas,para vilhão burro entender...e não só.
Os meus cumprimentos.