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sexta-feira, 20 de março de 2009

DESABAFO EM NOME DO RESPEITO PELA POLÍTICA

Sinceramente, não sei o que vem à Madeira fazer o Presidente da Assembleia da República. Visita "oficial", pergunto, porquê e a que propósito? Lançar "pontes" dizem alguns! Mais quais pontes? Definitivamente, não é por aqui que os problemas da Região se resolvem.
Que fique claro que, embora magoado, não tenho qualquer reserva mental relativamente ao Dr. Jaime Gama. Estou, isso sim, politicamente magoado pelos despropositados elogios ao Presidente do Governo Regional, elogios maiores que a própria Região, conhecendo ele e bem o que por aqui politicamente acontece. O tal "peixe de águas profundas" prefere, agora, andar à superfície, passar uma esponja sobre as palavras ditas, esquecer-se do "défice democrático" que o Dr. Mário Soares equacionou, ignorar todas as ofensas feitas à Assembleia da República (poderia aqui referir uma que fica na história mas, por decoro, não a repito) e retirar argumentos a todos quantos, desde há 30 anos, lutam por uma Região democrática, autónoma e respeitada no plano nacional. Neste aspecto, o Dr. Jaime Gama ofendeu centenas de militantes e de simpatizantes socialistas, lutadores de causas, enfim, tantos que ao longo da história recente da Autonomia viram as suas vidas profissionais comprometidas.
É tão infeliz a caracterização de "Bokassa" atribuída ao presidente do governo regional como infeliz é o branqueamento da política regional que o Dr. Jaime Gama tem vindo a fazer. Aos políticos exige-se compostura e serenidade até nos momentos mais delicados e de maior tensão. Porque rejeito liminarmente a hipocrisia, as falsas amizades ou as amizades de circunstância, não escondo quanto gostaria de perceber o porquê dos contornos mais profundos dos discursos amistosos, desta estranha lua-de-mel política e de uma visita "oficial" que de todo não se justifica. Até porque ele não pode nem está em condições de servir de "ponte" de coisa alguma. O Dr. Jaime Gama é presidente de um Órgão de Soberania e, portanto, não deve imiscuir-se nas relações políticas que têm essencialmente a ver com relacionamentos entre governos. Trata-se, portanto, de uma visita "oficial" que valerá zero, a não ser que venha aqui equacionar e sensibilizar, sem rodeios, para a qualidade da democracia na Madeira, para os desvios do Regimento da Assembleia, para a ausência do governo nos debates, para os tempos de intervenção dos deputados, coisa que, obviamente, face às circunstâncias de convidado "oficial", não fará. Irá ver e apreciar a Madeira bonita por fora e passará ao lado da Madeira doente e corroída por dentro. E, no "briefing" com o governo regional sujeitar-se-á a engolir uma parte da história da realidade madeirense. O contraponto que apenas a oposição poderá fazer ficará para depois... se houver depois! Os quinze minutos para apresentação de cumprimentos servirão, apenas, para isso mesmo.
É evidente que estou habituado a esta ausência de verticalidade política em alguns titulares de importantes Órgãos. Foi o Presidente da República que aqui esteve, que aceitou ignorar a Assembleia Legislativa, que abdicou de equacionar as questões sérias e que dele dependem, que não se coibiu de um monumental elogio à obra feita e, agora, é a segunda figura do Estado que, estrategicamente, aceita andar de braço dado com uma situação política que deveria merecer o repúdio daqueles que detêm responsabilidades ao mais alto nível. O exercício da política impõe a defesa de princípios e de valores e impõe dar-se ao respeito. Das palavras ditas aos comportamentos mais recentes torna-se evidente que eles apenas dizem respeito ao Dr. Jaime Gama. O Partido Socialista certamente que nelas não se revê. Não ignoro mas não me afastam do caminho da seriedade e da honestidade que deve prevalecer no exercício da missão de serviço público à comunidade que a política encerra. Penso, até, que nem beliscam o trabalho sério, honesto e profundo que o grupo parlamentar tem vindo a realizar na Região, apesar de todos os constrangimentos impostos. A minha consciência e, estou certo, a dos restantes membros do grupo parlamentar ao qual tenho a honra de pertencer, não está à venda!
Que passe um bom fim-de-semana!

4 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Professor

Não sou portador de um voto fiel.
Confiro-o à formação partidária que,na circunstância,apresente um programa sério,que,não desvirtuando os valores democráticos,se revele o mais consentâneo com a realidade presente e,previsivelmente,futura.
A experiência,contudo,entre a teoria e a prática,tem-se revelado desastrosamente enganadora.
Que a Direita desempenhando o seu papel,iluda,quem,desatento, permita ser iludido,só há que lamentar;
Que a Esquerda(afirmando-se como tal) assuma,na prática, os objectivos da Direita,é fraude,é execrável.

Salvo raras e honrosas excepções (nas quais,sem favor, o incluo)cada vez mais se nos depara um rol de troca-tintas, destruidores de convicções.

Para bom entendedor...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário e pela amável referência à minha pessoa.
Concordo, totalmente, consigo. Penso que vivemos um período da história em que muitos políticos se encontram na peneira. Serão, naturalmente, filtrados porque o Povo, mesmo aquele mais simples, acabará por aperceber-se do jogo que é feito debaixo dos seus olhos. Trata-se de uma minha convicção.

Anónimo disse...

Para quem defende diálogos, pontes e relações é uma posição estranha...
Ninguém vai entender.

André Escórcio disse...

Meu Caro,
Luís de Stau Monteiro escreveu um livro a que atribuiu o título "Angústia para o Jantar". Lá no meio há um capítulo, se bem me lembro, "O Homem Vende-se". E sublinha, a páginas tantas... que o homem vende-se aos bocados. Eu não vendo a minha consciência. Uma coisa é a defesa do diálogo e das relações que conduzem à solução dos problemas, outra é participar num estranho negócio que está por desvendar. Aí, sou implacável: Não vou por aí!