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domingo, 15 de março de 2009

UM GOVERNO MAL PREPARADO

Nos anos mais próximos não haverá outra saída para muitos jovens da nossa terra. A emigração será o destino por uma questão de sobrevivência. Ainda hoje, o DN-Madeira, equaciona esta situação de uma forma muito clara em dois trabalhos que nos deixam a pensar: a questão dos mais velhos que regressam e dos mais jovens que partem e a questão do desemprego que atinge o turismo, principal fonte de riqueza. Trata-se de duas peças que se compaginam e ambas com a mesma raíz. Não há, para já, volta a dar quando se sabe que elas são consequência de políticas que levaram o seu tempo a produzir este desfecho e levarão, certamente, muito tempo para que a necessária correcção produza resultados positivos. Provavelmente, não se registará o drama de uma emigração semelhante há de outros tempos de má memória, mas ela é inevitável.
As razões são múltiplas entre as quais destaco duas: o modelo económico que teve sempre como objectivo ganhar a eleição seguinte e não ganhar a geração seguinte; a política educativa que não soube preparar, atempadamente, a juventude para os desafios do futuro. Bastaria, nos anos 80, entre outros, ler a Terceira Vaga de Alvin Toffler. Logo na introdução, o autor sublinhava: "a Terceira Vaga é para os que pensam a história humana, longe de terminar, está apenas a começar. E logo mais adiante, "está a emergir na nossa vida uma nova civilização e por toda a parte há cegos que tentam suprimi-la. Esta nova civilização traz consigo novos estilos de família; modos modificados de trabalhar, amar e viver; uma nova economia; novos conflitos políticos e, além de tudo isto, também uma percepção modificada". Se leram não acreditaram e não se prepararam. E nesses já longínquos anos oitenta este governo regional, da responsabilidade do PSD, já governava a Madeira há quatro anos. Por isso pasmo, ou talvez não, quando o Presidente do Governo vem com a história que o Governo da República não preparou o País para os sinais do futuro. Pergunto: que fez ele por aqui? Que respostas encontrou e que políticas educativas definiu na aurora da nova civilização? Mais, ainda, que dinâmicas criou em anos cruciais (1985/1995) o ex-Primeiro-Ministro Cavaco Silva, nas duas maiorias absolutas, para que hoje dispuséssemos de condições susceptíveis de esbater a crise internacional? Só na política de educação, durante esses dez anos, não esqueço que nomeou cinco Ministros da Educação, entre eles a Drª Manuela Ferreira Leite. Ninguém fez uma legislatura completa.
Por aqui, as políticas, nem do ponto de vista do modelo económico nem do ponto de vista do sistema educativo, foram as mais consentâneas com os desafios do futuro. Por isso, hoje, confrontamo-nos também com um quadro de pseudo-soluções económicas completamente esgotado e uma população que não consegue descolar para novos patamares de intervenção. A Escola ficou para depois como se o sistema se fundasse, apenas, na construção de edifícios. O modelo económico ficou-se pelo tão badalado Keynes. Em consequência temos, em suma, uma economia frágil, excessivamente dependente, desemprego em flecha, pobreza crescente, analfabetismo preocupante e uma incapacidade profissional extremamente limitadora.
Regresso a Tofller (pág. 173): "(...) hoje quando surge um problema procuramos imediatamente descobrir as suas causas. No entanto, até agora, mesmo os pensadores mais profundos têm geralmente tentado explicar as coisas em termos causais (...) em consequência disso, quando se nos depara um problema verdadeiramente complicado, temos propensão em nos concentrar em dois ou três factores e ignorar muitos outros que podem, individual ou colectivamente, ser muito mais importantes". A este propósito Peter Ritner, em Society of Space, num determinado contexto que pode, no entanto, ser extrapolado para este, sublinhou, também nos anos 80, que enfrentaríamos cada vez mais crises "que não seriam susceptíveis de análises de causa efeito mas exigiriam análises de dependência mútua".
Ora, quer isto significar que a situação face à qual o governo regional se confronta não pode esgotar-se num discurso de um único sentido, isto é, contra Sócrates. Há muitas variáveis, tal como refere Tofller, "dúzias de fontes independentes e sobrepostas" que devem ser analisadas e contextualizadas. Mas isso, por aqui, pouco interessa. O importante é gritar, é atacar forte e feito quem está mais à mão, despachar para outros culpas próprias porque isso resulta (tem resultado) numa população (infelizmente) com gravíssimas lacunas de conhecimento e que bebe tudo o que lhes é oferecido.

8 comentários:

Alexandro Pestana - www.miradouro.pt disse...

Ora bem, eu faço parte da geração de jovens desgraçados que por uma questão de destino, vão ter de repetir a história dos pais, que é emigrar. Já não há formação que nos valha, principalmente aqui no norte da madeira, Tudo é inviável, tudo está tecnicamente falido. Eu cometi a loucura de ter voltado de Lisboa pensando que isto aqui dava pra viver mas não dá, só a roubar às pessoas e isso é algo que eu não quero pra mim.

Pergunte na assenbleia aos PSD's porque dizem mal do Sócrates e dos magalhães e do e-escolas e das medidas para o emprego que vem de Lisboa quando eles cá na madeira não fazem nada. Se formos ver o programa madeira digital, parou, o portal regional para o emprego parece que não é actualizado desde 2006 e o que lá mostra são 16 empregos para ajudantes de cozinha e servir a mesa de tascas. O PSD-M anda a pastar e são os idosos e os que andam a comer na mesma gamela deles que estão a patrocinar esta desgraça.

Veja estes sites, espelham a hibernação do governo da madeira:

http://empregar.ire.gov.pt/inicio-2.html

www.madeiradigital.pt

Há uns bons anos atrás, quando eu cegamente era militante desse PSD-M, sugeri em documento escrito para as finanças para o plano 2007-2013 que fosse feito um portal para os estudantes da madeira, onde os estudantes fossem elucidados com estatísticas do número de formados em determinadas áreas em cada concelho para os ajudar a decidir o que estudar, os apoios existentes a jovens empresários e muitas outras coisas para tentar fazer voltar os bons jovens profissionais que temos no continente e no estrangeiro com altas formações e criatividade e competência mas nada foi feito porque o regime quer apenas burros nesta ilha para votar sempre neles e quer proteger os mesmos incompetentes e a máfia que vive à custa do regime e que não quer mais concorrência.... Esta é a verdade nua e crua. Agora quem se lixa é a minha geração e as próximas que vão ter de ir para a Inglaterra fazer pela vida, nem que seja a cascar semilhas para fritar com peixe!

André Escórcio disse...

Bom dia.
Caríssimo,
Como eu o compreendo!

Alexandro Pestana - www.miradouro.pt disse...

Bom dia!
Este documento foi escrito por mim em 2007. Na altura ainda tinha esperança que o PSD-M defendia os interesses de todos por igual, mas enganei-me, por isso entreguei-lhes os cartões e saí do PSD para ser militante do PS, o partido que investe na minha geração. Ainda abri os olhos a tempo mas há muitos por ai que ainda os têm fechados... Nunca é tarde para aprender.

Aqui está o link ao documento para o poder ler:
http://www.miradouro.pt/docs/Coment_PDES_AlexandroPestana.pdf

Ao ler, verificará que curiosamente algumas daquelas coisas posteriormente foram implementadas mas parcialmente, outras os PSDs nem lhe tocaram porque não lhes convinha. São ideias fundamentais para esta ilha sair da lama...

Por favor leia o documento e aproveitem alguma coisa que der para aproveitar e levem propostas para a ALM para mudarmos esta terra miserável...
Obrigado. Boa semana de trabalho.

André Escórcio disse...

Meu Caro,
Dedicarei a melhor atenção.
Muito obrigado.

Alexandro Pestana - www.miradouro.pt disse...

O PSD na Madeira tem uma arte de lavagem cerebral extraordinária que hoje em dia pergunto-me como é que eu ainda fui atrás das ilusões deles. Até na porcaria do discurso ia apanhando os tiques deles usando palavras como "o rectângulo" etc etc. Eles semeiam o separatismo entre Madeira e Continente e depois quem sofre as consequências disso são todos os Madeirenses.

A máquina do PSD-M deve ter uma equipa de psicólogos a trabalhar pra eles e especializados em propaganda e lavagem cerebral. Tanto repetem as mentiras que elas tornam-se realidades na cabeça dos Madeirenses...

O pior de tudo é que há ainda muita gente que está com eles e que nunca mais vão acordar pra vida... Pelo menos até o dia que lhes falte tacho na gamela...

Alexandro Pestana - www.miradouro.pt disse...

Obrigado pela atenção!

PAULO CAFÔFO disse...

É uma situação que merece atenção mais detalhada, esta da emigração dos jovens para Inglaterra e até França, até porque esses mesmos jovens são os alunos que abandonam a escola. A Autonomia tem servido para muita coisa e para muitas bandeiras, excepto quando há a necessidade de a utilizar para resolver problemas concretos. Aí a culpa é dos outros e não se pode fazer nada, a não ser criticar o Governo Central...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
De facto, poucos dão conta do que está a acontecer na Escola. A situação começa a ser muito preocupante, fundamentalmente porque constitui um gravíssimo corte na formação inicial.
E esta situação, a par de muitas outras que envolvem o frágil sistema educativo, contribuirá para um futuro pouco promissor.
Confesso que ando preocupado.