Adsense

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A PESSOA IMPORTANTE

"(…) Não se cumprirá nunca o 25 de Abril, não haverá nunca liberdade, se uma geração no gozo máximo dos seus pretensos direitos inviabilizar a liberdade de decidir das gerações futuras, privar o mundo que há-de vir da possibilidade de escolher o seu próprio caminho e de tomar em mão as suas próprias opções. Uma geração que sequestra e oprime o futuro das gerações seguintes, negue e renegue a liberdade, não é digna, não está à altura da liberdade que as mulheres e homens de Abril quiseram fundar (…)" - discurso de Paulo Rangel (PSD), na Assembleia da República, no dia 25 de Abril.
Este excerto da sua intervenção foi entusiasticamente aplaudido. Texto curioso porque, no essencial, quando o PSD da Madeira empurra para a República a responsabilidade das comemorações da efeméride, o discurso do líder da bancada parlamentar do PSD na República, amigo da Drª Manuela Ferreira Leite, por sua vez, amiga do Dr. Alberto João, acabou por atacar, sem dó nem piedade, o Presidente do Governo Regional, porque aquelas palavras aplicam-se ipsis verbis à realidade política da Região.
A assustadora e dramática situação do desemprego na Madeira a caminho de 12.000 trabalhadores em sofrimento e risco social, as obras megalómanas, descontextualizadas de um pensamento estratégico acerca do futuro, muitas sem retorno económico e social, a monumental dívida da Região de seis mil milhões e as consequências que daí derivam para as gerações seguintes, sequestradas que ficarão na capacidade de decidir, corresponde a ambições e loucuras que desprezam o equilíbrio e o bem-estar de todos em função, apenas, de uma opção: o controlo total da sociedade. Na palavra de Rangel (PSD) este quadro é próprio de uma geração de políticos que "não é digna e não está à altura da liberdade que as mulheres e homens de Abril quiseram fundar".
O dramatismo e as implicações resultantes de 32% de pobres (80.000) que estudos vários concluem, negados de forma cruel e díspar pelo Secretário dos Assuntos Sociais (4,4%) e pelo Presidente do Governo (8 a 10%), a absoluta insensibilidade do governo que, há anos, relega um estudo sobre a pobreza mas que, paradoxalmente, assume a necessidade de analisar as implicações da novela "Flor do Mar" no turismo, enquanto correm levada abaixo milhões de subsídios para manterem as aparências e coarctarem a liberdade de pensar e decidir, traz no seu bojo a intenção, perversa, de manter um baixo estádio económico, social e cultural do Povo, a partir do qual seja mais fácil a manobra de violação das consciências.
Parece-me indiscutível que o cérebro da tramóia está cada vez mais só quando assume: "o único importante dentro do partido sou eu", mas cada vez mais lúcido e obstinado no seu caminho de eliminação de quem não lhe interessa. Fala e todos, voando baixinho no pensamento, acatam como cordeirinhos. Coisa impensável à luz de um conceito de liberdade trazida por Abril. Veja-se, nas autarquias, todos à espera de um "sinalzinho" vindo de cima, que confirme a continuidade.
Deve ser, de facto, uma angústia para quem preza a liberdade, esta submissão, dependência e subserviência absolutas, imposta e com castigo político para quem sair do carril. Grave é que tudo isto parece associado ao regresso das bandeiras, atitudes e comunicados perigosos: "a FLAMA, para já de forma pacífica, reiniciará a luta"; amanhã, no 1º de Maio, cujas comemorações deveriam pertencer às instituições representativas dos trabalhadores, contará com a presença de um governo "organizador", na lógica de os dividir e distrair para reinar.
Engrenagem perfeita! Tanto que há a fazer pela Liberdade.
Nota:
Artigo de opinião publicado, da minha autoria, publicado na edição de hoje do DN.

Sem comentários: