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sábado, 2 de maio de 2009

TEMPOS DE EXCLUSÃO, ELIMINAÇÃO E DESTRUIÇÃO (II)

"Esta era de vida e sociedade ‘líquidas’, de consumo e consumidores, de avanço do precário e efémero, do fútil e falso, de descarte e reciclagem ocasiona, entre outras coisas, uma fartura em sentimentos e condições de impotência e incerteza constantes, em paralelo com uma não menor percepção de carência em matéria de segurança e protecção. Regista-se nela uma produção em grande escala de indivíduos amedrontados e sitiados por um massivo regresso de temores e medos, com reacções em tudo semelhantes às dos animais face a presenças que ponham em risco as suas vidas. Mais, os receios têm o dom da ubiquidade: a vida inteira está cheia deles e tornou-se uma longa e dura luta para os enfrentar em todo o tempo e lugar.
Desconfiamos de tudo, melhor dizendo, as confianças são assaz débeis e transitórias e não ostentam qualquer garantia que as abalize. Por isso sabemo-nos e sentimo-nos assustados e expostos a perigos do mais diverso teor, que hão-de vir e abater-se sobre as nossas cabeças como uma pesada, inclemente e cortante espada de Damocles: perigos nos domínios financeiro, climático, ecológico, nuclear, social e profissional, mais os da ordem da saúde, da família, da previdência etc.
As instituições, portadoras e garantes do sentido e dos significados dos direitos da cidadania republicana, são progressivamente esvaziadas e desmanteladas. Entronizado o supremo deus do desregulado mercado neoliberal e da globalização de feição meramente economicista, expropriado o Estado, derrubados o ideal e o modelo governamental do bem-estar social, perdido o controle sobre o mundo natural e outros mundos, as certezas da modernidade exilaram-se, deixando as pessoas abandonadas a uma ansiedade incessante e à imparável influência do medo. É também este que convida ao enclausuramento em shopping centers, nos condomínios fechados e nos automóveis blindados e com vidros fumados.
O absurdo e o incompreensível, o imprevisível e o inevitável viraram uma rotina. Aumentam as polaridades e o fosso entre os que têm muito e os que pouco ou nada têm. Progridem vertiginosamente a separação e a exclusão. Avança assustadoramente a ruptura na comunicação e convivência entre as elites e o resto da população. E assim resvalamos para a descivilização, para a guerra de todos contra todos, para o combate de vida ou morte. Como que a dar razão à gélida e crua apreciação de Konrad Adenauer (1876-1967): “A História é a soma das coisas que poderiam ter sido evitadas".
Nota:
Continuação do texto do Professor Olímpio Bento, iniciado no post anterior.

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