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sexta-feira, 26 de junho de 2009

DROGA: ONDE ESTÃO OS PAIS, A FISCALIZAÇÃO E AS POLÍTICAS?

Esta manhã, cerca das onze horas, estava eu em amena cavaqueira sentado numa esplanada do centro da cidade e fui confrontado com um jovem, apresentando, julgo eu, entre os dezasseis e os dezoito anos. Arengou qualquer coisa de forma imperceptível com o objectivo de pedir umas moedas. Um jovem bem parecido, vestido de forma agradável mas deixando transparecer pelos olhos e por um certo cambalear, que o seu estado não era normal. Estava, na gíria, "pedrado". Foi a leitura que fiz, talvez abusiva, confesso, mas a verdade é que fiquei com essa percepção. Dirigiu-se à mesa do lado e pediu um cigarro e umas moedas. E lá continuou. Uma cena, ao fim e ao cabo, rotineira no Funchal.
Ocorreram-me três pensamentos:
1º Os pais, coitados, que dimensão não terá o seu sofrimento;
2º Qual o futuro deste jovem;
3º Que políticas de prevenção primária e secundária existem.
Lembro-me, em meados dos anos 90, na Assembleia Legislativa, quantas vozes se levantaram no sentido de chamar à atenção para a necessidade de uma actuação séria e integrada, na raíz deste problema e no sentido de esbater este fenómeno que se apresentava em acelerado crescimento. A maioria política, sempre preocupada em varrer para debaixo do tapete, negava, justificava, secundarizava o dramatismo dos que então eram apelidados de "profetas da desgraça". Lembro-me de situações discursivas absolutamente inauditas. Passaram-se doze anos e diz-nos o DN de hoje que, nos últimos três anos e até 23 de Junho, tinham sido apreendidas 196.057 doses de cocaína; 78.885 doses de heroína e 235.420 doses de haxixe. E sabe-se que para uma apreensão desta dimensão quanta droga por aí andou e anda e que, infelizmente, escapou ao controlo das polícias. E quanta infelicidade gerou.
Embora este seja um problema com uma dimensão planetária, que envolve muito dinheiro e muita lavagem de dinheiro, a percepção que tenho é que este fenómeno nunca foi devidamente estudado na Região e do conhecimento e domínio das pessoas. Fala-se de apreensão, de um ou de outro julgamento, de umas condenações mas, aquilo que é essencial, aquilo que é fundamental se saber visando uma actuação integrada, não tem constituído matéria de interesse relevante. A sensibilização para o conhecimento dos circuitos, as características que sustentam a entrada dos diversos produtos nas ilhas, o que acontece na noite madeirense, a pedagogia a ser feita no meio escolar e junto das famílias, o combate ao tráfico e ao consumo e, entre outros aspectos, as preocupações relativamente ao tratamento constituem aspectos que poucos dominam. Há como que um abafar da realidade, uma tendência para esconder como se ganhássemos alguma coisa com o silêncio. Não se discute, não se contextualiza e não se debate um assunto muito sério que, para os do fim da linha, invariavelmente, termina numa prisão ou numa morte prematura.
Todos sabemos que o mundo do tráfico é extremamente complexo. Em Janeiro deste ano li: "(...) Em um mercado financeiro em crise e carente de liquidez o narcotráfico serviu para resgatar alguns bancos do colapso ao actuar como fonte de capital líquido, afirmou o director do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), o italiano António Maria Costa. Em entrevista publicada pelo semanário austríaco "Profil", Costa afirma que o dinheiro da droga se introduz no circuito da economia legal até tal ponto que "há indícios de que alguns bancos se salvaram desta forma" do colapso provocado pela crise financeira mundial". Ora bem, quando isto acontece e este é apenas um exemplo, obviamente que temos de considerar que o narcotráfico envolve uma complexidade que nos escapa face à sua dimensão. Mas é possível fazer muito mais do que tem sido feito. É possível prevenir e actuar de forma integrada. Apenas um breve exemplo porque este desabafo, que consubstancia uma preocupação e escrito ao correr do pensamento, já vai longo: onde estão os pais e encarregados de educação que permitem que jovens pré-adolescentes e adolescentes vagueiam pelas discotecas e ruas do Funchal, madrugada fora em clara exposição aos perigos que andam por aí à solta? E onde pára a fiscalização?
Nota:
A edição de hoje do DN (26.06.09) refere que o Serviço de Prevenção da Toxicodependência (SPT) está a "alterar a forma de trabalhar". Quem é o diz é o director do SPT, Nélson Carvalho, que explicou que a nova aposta é a de criar planos municipais de prevenção. "Vamos formar os municípios, as comunidades locais e elas próprias replicarão a prevenção junto dos seus agentes". Ora quem se der à maçada de ler o programa de candidatura da coligação PS/CDS para a Câmara Municipal do Funchal, de 2001, poderá ler, nos dez objectivos prioritários: "Combater, através da prevenção primária, o alcoolismo e a toxicodepemdência".
Conclusão: oito anos de atraso!

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