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quinta-feira, 18 de junho de 2009

EDUCAÇÃO: DE MAL A PIOR

Desde há muito que defendo a necessidade de uma profundíssima reflexão sobre o sistema educativo. Há melhorias, como não podia deixar de acontecer, consequência da própria escolarização, só que essas melhorias apresentam-se lentas e quase irrelevantes no contexto regional, nacional e europeu.
Os dados publicados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística são de facto muito preocupantes. Deixo aqui alguns:

Proporção da população activa com e sem escolaridade obrigatória
Com escolaridade: 43,5% - Média Nacional 47,7%
Sem escolaridade: 56,6% - Média Nacional 52,3%
Taxa de abandono escolar precoce (18/24 anos)
R. A. Madeira: 48,1% - último lugar do País. Trata-se de um indicador seleccionado pela Comissão Europeia como indicador estrutural.
Taxa de escolaridade do nível de ensino secundário (20/24 anos)
R. A. Madeira: 38,7% - penúltima região do País.
Média do País: 53,4%. Valor abaixo da taxa da média nacional de 1997 que era de 39,7%. A taxa da União Europeia (27): 78,1%.
Taxa de aprendizagem ao longo da vida (25/64 anos)
R. A. Madeira: 2,6% (igual aos Açores)
Média Europeia: 9,7%
Média Nacional: 4,4%
Taxa de escolarização no ensino superior
R. A. Madeira: 9,3% (penúltimo lugar)
Média nacional: 28,1%
Taxa de escolaridade do nível de ensino superior (25/34 anos)
R. A. Madeira: 18,2% (apesar de uma melhoria nos últimos dez anos)
Média Nacional: 21,4%
A Madeira regista o menor número de diplomados do Ensino Superior por 1000 habitantes (20/29 anos)

O problema é que se sabe que assim é mas não se vislumbra qualquer atitude estrutural por parte do governo no sentido de inverter esta triste realidade. Os ganhos ou melhorias que se registam são pobres e muito distantes dos valores que poderiam prognosticar um futuro melhor para a população da Madeira e do Porto-Santo. É que hoje, mais do que nunca, o investimento em Educação é fundamental e, por isso mesmo, prioritário. O próprio relatório do INE salienta que "a educação e a formação ao longo da vida constituem um requisito fundamental para a empre­gabilidade dos indivíduos". E o governo não se dá conta disso. Trata o sector educativo da mesma forma que adjudica uma qualquer obra que, passados uns meses, é inaugurada com fanfarra e discursos. Ora, a obra na EDUCAÇÃO, a obra na valorização das pessoas leva anos, é contínua, multifactorial e só com muita competência e com políticas assertivas pode ser "inaugurada" e trazer ganhos reais na economia.
Sinceramente, eu não sei o que fazem no plenário do governo, se contam anedotas ou se falam do supérfluo. A verdade é que dali não têm saído medidas estruturantes do sistema, todos os anos viram o disco e tocam o mesmo, repetem e repetem até à exaustão as políticas que já provaram estar marcadas pelo insucesso. Da Secretaria e da Direcção Regional de Educação o que as caracteriza é a rotina, é a trapalhada, são os discursos sem sentido e cheio de frases feitas, quando nós precisamos de políticas que, com segurança, garantam avanços consistentes e portadores de futuro.
Podem ler as estatísticas como quiserem, podem dar a volta que entenderem para uma vez mais disfarçar a realidade mas não se esqueçam que os valores agora apresentados (e estes são apenas alguns) compaginam-se com os resultados dos "ranking's" nacionais e das provas PISA, neste caso um estudo lançado, em 1997, pela OCDE - Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Económico), que monitoriza, de uma forma regular, os sistemas educativos em termos do desempenho dos alunos, no contexto de um enquadramento conceptual aceite internacionalmente e que mede a capacidade dos jovens de 15 anos para usarem os conhecimentos que têm de forma a enfrentarem os desafios da vida real. Comparem e confrontem esses resultados com os encargos da Educação ao longo destes trinta e três anos de Autonomia e quase tantos de regionalização do sistema. Qualquer madeirense tem razões objectivas para estar preocupado, simplesmente porque andam a brincar com a EDUCAÇÃO!
Nota:
Vale a pena ler aqui a intervenção desta manhã, na Assembleia, do Deputado Carlos Pereira. Aqui fica um excerto no que à Educação diz respeito: "(...) O sonho de uma região como a Madeira em criar riqueza baseada no conhecimento fica desfeito por completo, apesar de discursos ocos e suspeitos, nos magros resultados da I&D em percentagem do PIB, a região é só a pior do pais. Mas também o penúltimo lugar no nº de trabalhadores com profissões intelectuais e científicas (...)".

4 comentários:

Atento disse...

Ver:

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0002007&contexto=bd&selTab=tab2

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001772&contexto=bd&selTab=tab2

Sem prejuizo da precariedade dos números, os seus dados não se ajustam a estes...

Mas também há dados curiosos esquecidos por si:

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001778&contexto=bd&selTab=tab2

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001771&contexto=bd&selTab=tab2

André Escórcio disse...

Boa tarde.
Há muitos dados, inclusive, no Eurostate. Eu apenas fiz menção aos últimos publicados pelo INE e que constam dos destaques deste Instituto. E esta publicação filia-se, naturalmente, em elementos fornecidos pela Madeira.
O que me parece relevante é que não se pode ignorá-los. Não para, apenas, dizer mal da situação vigente, mas como elementos de grande preocupação numa Região que só se pode impor pela via do conhecimento. E isto preocupa-me e deve preocupar todos aqueles, governantes ou não, membros do governo ou não, partidários ou não.
Eu sei o que é a ESCOLA hoje (porque ao longo da minha vida não me refugiei atrás de uma secretária) e sei, por comparação, quanto distantes estamos de uma ESCOLA de qualidade, rigor e excelência. Só que a EDUCAÇÃO precisa de políticos formados na área da Educação e sobretudo estudiosos e não de amadores que a vida os conduziu a uma secretária e a um poderzito. O problema está também aqui.

Vilhão Burro disse...

Oh!Senhor Professor!

Mas,afinal,somos ou não somos um Povo Superior?!

O Senhor baralha-me o juízo!

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Só adianto que alguém, um dia, até disse que iríamos "exportar inteligência". Afinal, os dados provam que precisamos de importar porque o sistema não responde.
Um bom fim-de-semana.