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quinta-feira, 25 de junho de 2009

LEGISLATIVAS NACIONAIS E A BANHA DA COBRA

Lamentavelmente, por vezes, o que por aqui acontece revela alguma semelhança com o humor de "Curral de Moinas". Não é que não se trate de assunto recorrente, até porque já se sabia que a lengalenga viria a bater nisto, mas não deixa de ser hilariante e simultaneamente triste ver um presidente decadente, sem mais nada para dizer ao Povo que não seja que a prioridade está na utilização das eleições legislativas nacionais para referendar a Constituição da República. No essencial, se os madeirenses e porto-santenses querem ou não mais Autonomia. E foi mais longe nas suas declarações, ao sublinhar que constitui uma questão menor o debate em redor do futuro do País, isto é, se esta nau será governada nos próximos quatro anos pelo Engº José Sócrates ou pela Drª Manuela Ferreira Leite.
Bom, isto, mais do que hilariante e triste é sobretudo penoso assistirmos ao desvio das atenções sobre tudo o que é fundamental para a Região. Aliás, depois de vários anos a castigar com palavras o governo socialista na República, depois de sistemáticas ofensas de natureza pessoal, o presidente resolveu inverter o discurso das preocupações centrando-o, agora, no pressuposto que só com a alteração da Constituição da República a Região poderá resolver os seus problemas.
Estou a ver, estamos todos a ver que os desempregados vão ter emprego depois da proposta de revisão constitucional do PSD-M, os pobres vão beneficiar de melhores enquadramentos sociais, a classe média recuperará os níveis aceitáveis de bem-estar que já teve, os idosos irão beneficiar de um apoio suplementar às magras pensões, deixarão de existir "altas problemáticas" nos hospitais e os oitocentos idosos em fila de espera terão lares à sua disposição, o consumo de estupefacientes cairá para níveis residuais e será criada uma unidade terapêutica, o consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas que tantas mortes geram será regulamentado, as empresas ficarão financeiramente desafogadas e empreendedoras, o ordenamento do território será respeitado, os instrumentos de planeamento, entre outros, os Planos Directores Municipais, finalmente, serão retirados da gaveta porque hoje são considerados "limitadores do desenvolvimento", o património natural e os elementos identificadores da nossa História ficarão salvaguardados dos grandes interesses dos grupos económicos e facilidades criadas pelas entidades com responsabilidades de governação, enfim, teremos por aqui, consequência da revisão Constitucional, o paraíso e um exemplo para o País e para a Europa. Assim parece defender o Presidente do Governo. Estou mesmo a ver, quando, em campanha eleitoral, abordar um cidadão, onde lhe fale, por exemplo, de um conjunto de medidas para melhorar o seu estado de pobreza, ele me referia que não está interessado nisso porque o que o preocupa é a revisão Constitucional!!!
Ora bem, esta é mais uma mistificação, mais uma forma de utilização das fragilidades do Povo para instrumentalizá-lo e conduzi-lo, sem perceber o que está em causa, para os desígnios partidários de um homem para quem o poder é tudo. Definitivamente, não há qualquer seriedade nem honestidade política na proposta do Senhor Presidente do Governo. Nas Legislativas Nacionais o que está em causa não é um referendo à Constituição mas uma avaliação de todos os portugueses à governação do País e, consequentemente, na "constituição" de uma nova Assembleia da República. É tão-somente isso que está em causa. Mais nada. A revisão Constitucional é um outro espaço de debate que a seu tempo será dirimido. Tudo o resto é paleio, são palavras ao jeito dos antigos vendedores de banha da cobra. Pare com isso, com essa conversa da treta, Senhor Presidente! Passe ao ponto seguinte, isto é, governe, cumpra o seu mandato mas solucionando os verdadeiros dramas da Região. Não invente artifícios para mascarar a verdade e as incompetências. Utilize as competências que estão atribuídas através do Estatuto Político-Administrativo da RAM e, por aí, muito poderá ser resolvido.
Nota:
Foto publicada no DN-Madeira de 24.06.2002 e da autoria de Agostinho Spínola.

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