Adsense

quarta-feira, 10 de junho de 2009

"PÁTRIA DO DESPORTO"? MAS QUAL?

COM QUE ENTÃO... Dr. Rui Mâncio Caires, esta é a Pátria do Desporto! Não se percebendo muito bem se se refere ao País (penso que sim) ou à Madeira (em sentido figurado), a verdade é que, quer no caso do País ou da Região, não somos a "pátria do desporto". Somos, isso sim, pelas estatísticas europeias onde se incluem as nacionais, um dos povos da cauda da Europa no que concerne à prática física e desportiva, pese embora o facto das "estatísticas sobre a participação desportiva revelarem claras assimetrias entre os países europeus. As taxas de participação desportiva são bastante mais elevadas nos países do Norte do que nos do Sul. Nos países do Norte encontra-se uma maior paridade entre a participação masculina e feminina, um envolvimento mais elevado dos jovens no desporto, e a diminuição da prática desportiva ao longo da vida é menos acentuada. Contrariamente, nos países do Sul, a participação feminina é mais fraca e mais distante da dos homens, o envolvimento dos jovens é menor, e a diminuição da prática desportiva ao longo da vida mais acentuada", salienta a socióloga, investigadora e professora universitária Salomé Mariovet. Isto tem a ver com algumas variáveis mas uma delas é, certamente, a de um investimento na cultura.
Por isso torna-se excessivo e pouco consentâneo com a relidade falar-se de uma "pátria do desporto" (para lá e para cá) quando a realidade apresenta uma taxa de participação desportiva na ordem dos 23% (destes apenas 8% três vezes por semana), na sequência de estudos à escala europeia (Projecto Europeu COMPASS), taxa essa que engloba, obviamente, as Regiões Autónomas. Com uma agravante, é que aquela taxa refere-se ao intervalo 15/74 anos o que significa a integração da idade escolar. Mais, ainda, constitui um erro grosseiro assumir que o desporto foi neste "(...) passado recente uma forma de democratização, como tal de dar voz e notoriedade às gentes e às suas actividades. No contexto de então, promoveu essa forma de afirmação, marcadamente virada para o "exterior", pois a conquista desse espaço e visibilidade foram fundamentos para implantação da autonomia regional". Logo a seguir, em nítida contradicção, o articulista fala de um desporto agora "(...) mais virado para o nosso "interior", de acordo com novos valores emergentes, sem prejudicar uma representatividade de excelência deve ser o novo trilho". Afinal, pergunto, qual "democratização" se só agora parece assumir a necessidade de promovê-lo e generalizá-lo no plano interno?
Ora bem, o que isto significa é que o autor do artigo de opinião confirma que a Madeira procurou, desde sempre, "UM DESPORTO AO SERVIÇO DA POLÍTICA E NÃO UM DESPORTO AO SERVIÇO DO DESENVOLVIMENTO". Isto é, a cultura desportiva nunca foi considerada com um direito Constitucional (Artigo 79º) mas numa lógica da representatividade externa deixando, por isso, 77% da população numa situação de claro analfabetismo desportivo e muito distante de um desporto entendido como bem cultural. É, por isso, que relativamente a 2007 (últimos dados disponíveis da "Demografia Federada", por comparação ao sector educativo escolar no mesmo ano) a disparidade seja flagrante como provam os dois seguintes quadros:
Depois registam-se aspectos reveladores de uma péssima organização da política desportiva, como, por exemplo, tomando ainda os dados de 2007, que dos praticantes no sector federado, 72% pertençam ao sexo masculino e apenas 28% ao feminino. Mais um facto que não deixa de ser importante: em 2007 verificou-se existirem mais SENIORES (5.868) que o conjunto das categorias de INICIADOS, JUVENIS E JUNIORES (5.458) – Formação; e existiam mais SENIORES (5.868) que o conjunto das categorias de INFANTIS E MINIS (5.596).
Os dados são inúmeros que provam que esta, mesmo no sentido figurado da expressão, não é a "pátria do desporto". Quanto muito é a "pátria" desportiva de alguns que muito dinheiro têm feito à custa do analfabetismo desportivo. Só em 2007 foram necessários 203 continentais e estrangeiros para suprirem as carências da Região no diálogo competitivo nacional, nas modalidades de atletismo (40), futebol (137), Badminton (11), futsal (13), ténis de mesa (30), hóquei (15), andebol (15), voleibol (18) e basquete (18). E enquanto o desporto educativo escolar anda à míngua de verbas e extremamente condicionado na participação competitiva intra e inter-escolas, entre 2001 e 2007, do orçamento regional voaram para o sector desportivo (federado) um total de € 202.792.384,00, enquanto ao desporto escolar não terão chegado € 4.000.000,00.
Muito mais podia aqui adiantar. Como já uma vez referi, o desporto na Região veste-se muitas vezes de smoking mas anda descalço. Aqueles são os dados da estatística oficial, embora esteja interessado na leitura do designado "Estudo da procura e consumo desportivo da população da Região Autónoma da Madeira" da autoria do Professor Carlos Colaço, apresentado, segundo li, no dia 05 de Junho corrente. Deve ser interessante para comparar com outros estudos, se o protocolo de investigação for o mesmo. Não sei do que se trata mas vou ler.

Sem comentários: