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sexta-feira, 24 de julho de 2009

CONTRIBUTOS PARA REPENSAR BOLONHA

Esta manhã teve lugar, na Assembleia Legislativa da Madeira, em sede de Comissão Especializada de Educação, uma audição que contou com a presença do Senhor Reitor da Universidade da Madeira, Professor Doutor Castanheira da Costa.
Na sua longa exposição mostrou-se um indefectível apoiante das transformações que estão em curso nas universidades no âmbito do designado "Processo de Bolonha". Eu que venho, desde há algum tempo, a cruzar múltipla informação sobre este Processo, fiz o contraponto, porque entendo que existem muitos interesses e histórias mal contadas que se escondem atrás da capa diáfana de tal Processo. É evidente que há aspectos (muitos) pacíficos quando se discute Bolonha". Nem tudo é negativo, obviamente. Há princípios e fins que merecem plena concordância. Não discuto uma maior flexibilidade, a maior mobilidade dos estudantes e investigadores e um mais amplo reconhecimento dos diplomas. Outros, porém, são demasido obscuros e quanto mais o processo se desenvolve, paradoxalmente, mais à mostra ficam.
Bolonha, salienta, por exemplo, o Professor Doutor Olímpio Bento, da Universidade do Porto, "está associado à transformação da educação superior numa área de negócio, muitas vezes desonesto (...) foi fabricado de encomenda para impor o figurino de competências, aptidões e destrezas adequadas a esta era de modelação das vidas e aos interesses redutores de alguns. (...) É, por isso que "Bolonha é uma mistificação, uma manipulação, pois está cheio de falsidades e inverdades, enganos" (...) Enfatiza-se a aquisição de habilidades, aptidões e ‘aprendizagens’ direccionadas para os inconfessos objectivos, interesses e estratégias de abdicação, subjugação e dominação em nome da economia e do mercado neoliberal". (...) "O que conta não são disciplinas, matérias, abordagens e exigências contribuintes para a sabedoria e o desenvolvimento pessoal, mas sim aquilo que constitua uma ferramenta reconhecida pela ordem comercial, política e ‘mercadológica’ que tudo supervisiona".
Não está aqui em causa qualquer saudosismo pela formação clássica que dominou larguíssimos anos. Não é isso, até porque em contexto de globalização, justificam-se novas disposições e adaptações. Só que Bolonha é muito mais profundo do que se possa imaginar. Bolonha traz no seu bojo o pensamento único, ao qual sou avesso, quando a diversidade é muito mais enriquecedora. E a propósito, trago à colação o Antropólogo e Mestre em Social Education pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos, Professor Luís Souta: "Bolonha põe e dispõe: é o ensino superior de curta duração. As actuais licenciaturas estão próximas dos antigos bacharelatos de três anos e isso tem implicações várias, não apenas académicas mas também as que se referem ao desenvolvimento cultural e à participação cívica dos estudantes. O conhecimento implica tempo para a respectiva maturação e o tempo universitário é um tempo muito significativo na vida das pessoas. Reduziu-se o tempo logo reduziu-se esse tempo marcante. Bolonha implica o empobrecimento do processo educativo: tudo se faz em fatiados semestres que, na prática, são quase trimestres. É tudo demasiado fugaz, rápido e superficial. Bolonha trouxe também a redução do corpo docente porque a formação tem de ser mais barata. No fundo as grandes questões, não explícitas, são de natureza económica e financeira. Todo o discurso à volta de uma nova forma de trabalhar centrada no aluno é mera retórica".
Ficam aqui duas posições de académicos que reflectiram Bolonha. Poderia trazer a posição de muitos outros. E também a dos que acreditam nesta via. Nada mais me move do que deixar alguns contributos para repensar o Processo. Deixo, ainda assim, uma nota final: admitamos que, do ponto de vista da concepção global do "Processo de Bolonha" existe uma pureza infindável de princípios. Fica a pergunta: então essa convergência na formação de nível superior não implicaria a readaptação total do sistema educativo deste o pré-escolar ao secundário? Parece-me óbvio que sim. E isso não foi feito.
Apenas para reflectir.
Foto: Google-imagens.

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