Adsense

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A QUE PONTO CHEGA A MALDADE

Não tenho a mínima noção do que é ficar sem emprego. Apenas imagino, as dificuldades decorrentes de menos um salário, de um golpe nas responsabilidades assumidas, do querer virar-se para qualquer opção e ver as portas fechadas. Dramático. Sinto a situação como se ela fosse comigo.
O que se está a passar no DN-M (vale a pena ler o dramatismo do artigo de hoje assinado pelo Director Luís Calisto) é uma pouca-vergonha por parte de um governo regional que, sorrateira e paulatinamente, foi colocando pedra a pedra no sentido de matar alguma liberdade que ainda se respira. Não sei quais os jornalistas que foram dispensados mas por todos eles nutro a simpatia (embora nada possa fazer de concreto) pelo desânimo e pela traição perpetrada por estranhos à empresa que apenas desejam que ali funcione a lógica da "voz do dono".
Deixo aqui um excerto do texto do Jornalista Luís Calisto:
"O artífice e protagonista do regime vergasteiro em exercício na Madeira há 30 anos vive um final de semana glorioso. Captado pelas televisões ao lado dos Reis de Espanha e do Presidente de Portugal, nas partes que lhe competem de um programa cheio de foguetório, paradas militares, banquetes, hinos, flores, multidões, batedores, seguranças, cerimónias oficiais, cerimónias na Confraria do Vinho, roteiros turísticos e folclore, com os postais da 'Madeira nova' em cenário de fundo - fotografado e filmado como exige que esteja sempre a acontecer, Alberto João Jardim saboreia com mal contida euforia o despontar dos resultados de um maquiavélico e execrando plano que pôs em marcha há muito tempo: o abate do Diário de Notícias, jornal insular com 133 anos. É o culto da personalidade na sua plenitude: propaganda das virtudes e obras verdadeiras e forjadas do chefe narcisista; perseguição àqueles a quem o capricho do todo-poderoso condenou ao desterro.É assim que, enquanto o homem que acaudilha o povo insular há três décadas se passeia de Mercedes ou entra na história da comitiva real, entre opíparos almoços e jantares com vinho de marca e charuto do melhor, 13 profissionais competentes e dedicados do DN, dos quais 10 jornalistas, metem projectos e sonhos na sacola da despedida, se calhar sendo transferidos para o batalhão de desempregados madeirenses constituído pelo dramático número de 13 mil. E que fizeram esses honestos trabalhadores para serem atirados ao vácuo da incerteza? Nada, a não ser estarem ao alcance do espírito vingativo e do instinto ditatorial de um profissional da política especializado na criação dos fantasmas e moinhos de vento que alimentam a sua governação pelo medo. Na aplicação dessa estratégia, muitas vezes inspirado pelos conhecidos alvissareiros e louvaminheiros que o rodeiam, leva o dia-a-dia floreteando impropérios tão baixos quão mentirosos contra o Diário de Notícias. Denuncia caluniosamente os jornalistas, atribuindo-lhes funções e truques políticos quando eles não ganham um centavo com a política, antes pagam impostos para manter o vencimento daquele que os ataca. Acusa sem provas os quadros dirigentes do jornal, julgando a honra dos outros pela compostura própria. Tenta pressionar o desempenho informativo com ameaças de toda a ordem. Dispara ofensas pessoais de calibre ordinário nos momentos em que os ofendidos não estão presentes para se defenderem e contra-atacarem com a solenidade e a firmeza devidas (...)".

7 comentários:

Rolando Almeida disse...

Olá André, como está?
Nem sempre acompanho o evoluir das notícias na Madeira, mas estou realmente confuso com esta história e creio que o André me pode clarificar, se puder dispor de um ou dois minutos para resposta a este meu comentário. Segundo entendo o que o DM reclama é concorrência desleal já que o Governo Regional apoia financeiramente o NM. Pessoalmente nunca leio o NM já que aquilo não é um jornal, mas um pasquim de propaganda da igreja e do governo regional, além da muitíssima má qualidade dos dos textos. Mas vejamos lá uma coisa: não é típico nas democracias os governos apoiarem os seus órgãos de informação? Claro que o podem fazer de forma mais ou menos exigentes, mas o governo nacional tem um canal de TV, por exemplo, que é pago com os nossos impostos e que também tem má qualidade (apesar de não roçar o ridículo da rtp madeira). Os canais privados vivem da concorrência do canal público e organizam-se com os seus próprios recursos. Eu compreendo a forma aparolada como o governo regional trata destas questões, mas será assim tão ilegítimo? Vamos que agora o governo regional comece a apoiar o DM e a controlá-lo como o faz ao NM? Que interesse tem isso?
Cerio que a questão da crise no DM tem mais a ver com a organização do mercado. Como sabemos temos na região um diário gratuito. É bom? Não, não é e é escrito cheio de erros ortográficos, mas as pessoas que reclamam qualidade nunca estão dispostas a pagar a qualidade. Pagar a bons jornalistas custa dinheiro. Ainda há bem pouco tempo vi um colega nosso reclamar da falta de qualidade do diário gratuito. Mas torceu o nariz quando lhe perguntei se estava disposto a pagar a cultura bem feita? Claro que não está, claro que só estará disposto a pagar o telemóvel topo de gama, mas nunca a cultura. E este estigma é muito nacional, o de que a cultura tem de ser subsidiada. Acontece que depois temos um problema em mãos. Quem trabalha na cultura não vive do ar e tem todos os seus encargos, tal como um médico, um carpinteiro ou um político. E também não vejo razão para que numa cultura livre de mercado o governo tenha de subsidiar a cultura. Portanto, a haver culpados da miséria em que está a cair – infelizmente já que se trata de um jornal com história sólida – o DM, esses culpados são as pessoas e a sua deficiente visão das coisas e da vida. Por outro lado é o corpo editorial do DM que tem de encontrar soluções para fazer face aos novos desafios. Já se sabe que as pessoas em geral são pouco exigentes, que não se importam de levar com o aborrecimento da publicidade em doses impossíveis a troco do gratuito. Mas creio que vale a pena pensar se a responsabilidade directa do sucedido ao DM é do governo regional, ou da cultura do free, do grátis, que ameaça o profissionalismo impondo uma ditadura do fácil e do amadorismo? É que o mundo está cheio de casos como este da Madeira. Isto que lhe digo não vem em defesa do governo regional nem de partido algum, mas de uma reflexão em torno do que é o mundo e de como é que ele culturalmente e economicamente se organiza. Ainda assim tenho de dar o benefício da dúvida e por essa razão tomo a liberdade de lhe escrever, já que não tenho bem a certeza do que se tenha passado para que a situação tenha chegado onde chegou.
Obrigado e um abraço pelo bom trabalho desenvolvido
Rolando Almeida

André Escórcio disse...

Caríssimo Colega,

Desde logo poderá melhor compreender a situação se entrar no sítio da internet (www.dnoticias.pt) e logo na primeira página, clicando em "edição electrónica", poderá ter acesso à queixa apresentada ao Conselho da Autoridade da Concorrência. Esse será o primeiro passo para perceber toda a situação.
De qualquer forma a história conta-se em poucos passos:
1. O JM foi, inicialmente, um jornal criado e liderado pela Diocesse.
2. Mais tarde, já depois de 1974, o governo Regional adquiriu, não estou certo, mas quase 100% do seu capital. Tornou-se dono, assumindo com isso que havia a necessidade de contrapor a liberdade de imprensa na Madeira, considerando que o DN seria um matutino não alinhado com o poder.
Neste pressuposto, são milhões que, anualmente, voam do orçamento regional para suportar esse Jornal.
3. No JM apenas escrevem pessoas da confiança do governo regional.
4. Não faz qualquer sentido que os governos e as autarquias sejam portadoras de órgãos de comunicação social para promoção das suas políticas partidárias, pagos com dinheiros públicos.
5. O caso da RTP e RDP são excepções porque, de acordo com a Constituição da República estão obrigados ao designado "serviço público". Por isso têm os canais África, Regiões Autónomas, Notícias, Cultura, etc. etc. São aspectos diferentes. E mesmo aí, o governo não pode nem deve imiscuir-se nos critérios editoriais.
6. No caso no DN/JM o que se pede é que o governo não apoie nem um nem outro, para além da publicidade institucional de carácter obrigatório. Não podem, como compreenderá, uns estarem no mercado numa luta diária para poderem subsistir e outros, gastando porque quem paga é o contribuinte. Mais. Não pode um fazer baixar os preços da publicidade e ser de distribuição gratuita. O mercado tem regras, ainda por cima, quando neste caso está a funcionar com o recurso a muitos milhões dos nossos impostos.
Sumariamente o problema é este ao qual acresce, obviamente, o interesse partidário.
Um abraço.

Rolando Almeida disse...

André,
Obrigado pelo esclarecimento. Realmente, não sendo madeirense de raíz, quando cá cheguei uma das formas de me inteirar da realidade insular (que em muitos aspectos abracei para sempre) foi comprar tudo quanto era publicação regional. O que descreve do JM já tinha alguma noção, inclusivé que o jornal no período da ditadura pertencia a uma facção da igreja católica que se opunha brandamente ao regime. Pelo contrário - não posso confirmar isto já que recolhi estas informações junto das pessoas - o DN é a continuidade do antigo diário do Funchal, um jornal a páginas cor de rosa no qual escreviam continentais como forma de fugir à ditadura. Descobri-o pela música já que o Marxista - na altura da ditadura - e musicólogo Jorge Lima Barreto escreveu nesse jornal. Mas estas informações são fruto da recolha com pessoas, já que nunca fiz investigação histórica da Madeira. Conheço pelo menos duas histórias da Madeira, uma muito fraquinha e uma outra já muito interessante de Rui Nepumuceno (ed Campo das Letras). Vim a descobrir que o autor se inscreve nas fileiras do PC e isso é algo notório nos últimos capítulos da obra. Ainda assim é a história da Madeira mais conseguida que consegui ler.
Mas é verdade que as circunstâncias actuais se revestem de uma investida do poder. Que mais se podia esperar de uma democracia que nunca muda de figura?
Obrigado por tudo

Anónimo disse...

o dn-m precisa de ajj e vice-versa.
o resto são truques.

André Escórcio disse...

Boa tarde.
O problema não pode, desculpar-me-á, ser visto dessa maneira tão simplista. A questão é politicamente muito profunda e empresarialmente muito delicada.
Não se pode brincar com o mercado porque aí estamos a brincar com a vida das pessoas; não de se deve brincar com os dinheiros públicos porque aí aqueles que, circunstancialmente, detêm o poder, estão a utilizar indevidamente o nosso dinheiro em actividades políticas desonestas porque desvirtuam o tal mercado.

Anónimo disse...

Uma reflexão interessante, e dramática para os que perderam emprego. E como o próprio autor do blogue diz, não sabe o que é estar nessa situação. E aí se divide a sociedade, entre os que não sabem o que é estar nessa situação de desemprego (porque quer queiramos quer não governo e oposição o têm, e o resto da sociedade, como a minha geração, que está a lidar constantemente com isso). Como tal, e porque considero que tanto o discurso da oposição quanto o do governo são distantes dessa sociedade a que pertenço, não tenho votado nem vou votar nos próximos tempos! Mas admiro-o enquanto político Dr. André Escórcio!

André Escórcio disse...

Muito obrigado pelo seu comentário.
Tem toda a razão. A política e os políticos afastaram-se da realidade. Desde que estejam bem os outros que se desenrasquem. É com esta política que não me conformo; é com esta insensibilidade que convivo e que me irrita. Pergunto: para quê tanta ganância, tanto lucro, tanta perseguição, tanta loucura pelo poder (o DN é consequência dessa loucura pelo poder) tantos a viverem faustosamente e uma maioria a roer os ossos.
Não tenho nada contra quem muito tem. É coisa que não invejo. Mas não posso aceitar uma sociedade de tanta assimetria e sobretudo de muita gente que quer ser feliz e não pode, porque ela própria está desequilibrada. Um dia, acredito, tudo tenderá para novos equilíbrios. Espero.