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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

AZUL E AMARELO... E A HISTÓRIA?

Do acompanhamento diário, mesmo à distância, que tento fazer da comunicação social da Madeira, no meu pouco tempo disponível, tem-me apetecido comentar vários e importantes assuntos. Tenho vindo a guardá-los para mais tarde. Porém, um deles, parecendo de menor importância, do meu ponto de vista, não é, e, por isso, apresto-me, desde logo, a tecer algumas considerações. Trata-se do facto do Marítimo ter actuado de azul e amarelo, no Estádio da Luz, frente ao Benfica, cores apresentadas enquanto equipamento alternativo. Repito, não é de menor importância este aspecto. E não é, porque esta opção corresponde, certamente, a uma imposição de alguém, porque ela tem uma intenção política, negociada, bem definida e, sendo assim, corresponde a uma atitude manifestamente totalitária, como quem, subtilmente, quer dizer, aqui quem manda sou eu. Isto é, sem palavras, sem discursos, sem espavento, a provocação está a ser conduzida e o caminho continua a ser definido, porque há uma pessoa que não gosta de perder nos objectivos que traça, não esquece e não perdoa a monumental e histórica vaia no Estádio dos Barreiros. Significa isto que há uma personagem neste processo que continua a impor a sua vontade, em todos os sectores da sociedade e um conjunto de indivíduos, com responsabilidades, que se vergam à sua vontade ditatorial.
Se assim não é, então, pergunto, como se justifica a atitude da direcção do Marítimo? O respeito pela identidade e pela história do clube? O que de facto transparece é que o Marítimo está a ser utilizado e vendido a retalho, aos interesses políticos de uma série de pessoas imbuídas do mesmo espírito político-partidário e que à revelia dos associados e de uma série de princípios e valores, estão a atraiçoar a mais elementar identidade de um clube com 100 anos de actividade. Trata-se de um negócio: dá-me dinheiro que faço o que quiseres! Esta é a mais baixa e repugnante prostituição do associativismo desportivo com história.
E já que falo de história... esta é uma questão que bule com a história. Lembro-me, não sei se com total razão, o que me dizia o saudosíssimo verde-rubro Senhor Adelino Rodrigues, que o Marítimo era o único clube em Portugal que podia utilizar as cores da bandeira Nacional (as reais) por ter sido fundado antes de 05 de Outubro de 1910. Emerge daqui, também, o espezinhamento da história e a cega luta contra o Continente, através do Marítimo contra as cores nacionais, impondo o azul e amarelo da Região. Ao ponto a que isto chegou!
Mas também há outras leituras que podem ser feitas a partir desta atitude. É que cada vez mais o mentor de tudo isto está aflito com esta política desportiva que engendrou ou, pelo menos, apoiou, está aflito com os milhões gastos (não investidos) sem retorno e, por isso, quer a todo o custo enveredar pela solução mais barata e que corresponde aos seus desígnios políticos: um clube representativo e ponto final.
Entendo que esse é um caminho errado. O que o governo tem de fazer é sair das SAD’s, porque os dinheiros públicos têm de ser investidos em sectores e áreas prioritárias, na educação, na saúde, no sistema empresarial gerador de postos de trabalho, no turismo, no conhecimento, na erradicação da pobreza, enfim, em tudo o que possa ter retorno económico, social e cultural. Nunca no futebol profissional. Até porque há vários estudos que provam que o futebol da Madeira não é promocional do ponto de vista turístico. São os inquéritos feitos junto dos turistas, traduzidos em estudos elaborados por licenciados pela Universidade da Madeira, em várias épocas turísticas do ano, que provam isso mesmo. É mentira que a Madeira seja conhecida lá fora pelo futebol, mas sobretudo, entre outros aspectos, como um destino de natureza e tranquilidade. Resulta daqui que ao governo compete, nesta Região, pobre, sem dinheiro, assimétrica, com mais de 12.000 desempregados, investir em outros sectores e áreas e, no que ao desporto diz respeito, no desporto educativo escolar sinónimo de cultura, de princípios e de valores para a vida.
Sou sócio do Marítimo há 59 anos. Mas não é esse aspecto que se torna importante e que faz estar contra o azul e amarelo. Hoje, perdoe-me o leitor a expressão, estou-me nas tintas para esse facto, seja amarelo e azul, verde e vermelho ou outra cor qualquer. O que me preocupa é tudo quanto se esconde por detrás deste tipo de manifestações, o bast-fond político, neste caso, destruidores da identidade do clube e da cultura associativa. Actuar da forma como actuam, a cultura fica ao nível do bar do Henrique. O que é pena!

1 comentário:

il _messaggero disse...

Caro Prof. André Escórcio,


Subscrevo inteiramente o escrito. No entanto, ressalvo que a crescente politização do clube deve também em parte à passividade (e já agora cada vez maior erosão e distanciamento) da imensa massa adepta do Marítimo. Ou seja, o próprio clube acaba por ser reflexo da própria sociedade onde se insere.

Hoje em dia, dou por mim a apoiar um clube que nem o símbolo original tem no seu equipamento, estando representado em seu lugar um descaracterizado e pálido símbolo da SAD.

O velhinho Marítimo popular, nascido sobre os auspícios da República e da nova era que na altura se anunciava (daí a as cores), construído e engrandecido ao longo dos tempos sob muito suor e esforço, certamente não se reveria num clube actual totalmente submisso ao poder político, um clube cujas estruturas dirigentes vendem a sua identidade e alma, mas o que me entristece mais, um clube cuja massa associativa e adepta se tornou amorfa e meramente passiva, como se fosse um mero apêndice ou acessório. Nesse aspecto, o clube acaba por ser um bom exemplo do que acontece na sociedade madeirense.