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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ELEIÇÕES À PORTA

Aproximam-se dois actos eleitorais de extrema importância para a Região: as legislativas nacionais e as autárquicas. Dois momentos que correspondem ao exame das equipas que lideraram, num primeiro momento, o Governo da República, depois, as autarquias de todo o país. Gostaria que estes momentos de dever democrático fossem considerados determinantes para todos, no pleno respeito pelas convicções políticas de cada um. Por aqui, infelizmente, não serão. Com muita mágoa e sem que daí se depreenda que sou portador de alguma verdade, gostaria de ver o POVO da minha terra mais adulto, mais maduro, mais consciente das realidades, menos partidário e com mais capacidade para olhar em redor, para as propostas políticas de todos os quadrantes. Gostaria de ver a Madeira profunda mais esclarecida, menos dependente, com outra capacidade de análise e com uma postura de, claramente, através da sua arma, o voto, dizer: não brinquem connosco!.
Só que isso não vai acontecer para mal de todos os que aqui vivem. A Escola não educou, apenas escolarizou e mal. Tal como no outro tempo, o medo anda por aí, a teia das dependências é monumental, o discurso político é condicionador e por mais que os partidos da oposição se esforcem, numa louca correria diária para transmitir outras verdades, o Povo consciencializou e endeusou a figura de um homem. E quando a este registo se chega tudo se torna muito complicado. A mensagem, as outras verdades, dificilmente atingem aqueles que dela mais precisam. É o que vejo e sinto nas campanhas eleitorais: é mais o brinde, a esferográfica, o caderno, a bandeira, o boné, etc., que estão em causa do que tentar conhecer e perceber as propostas. Isto é dramático.
Fui durante vários anos vice-presidente do PS e secretário-geral. Programei e participei em muitas campanhas. Apenas uma vez recebi, na sede, na circunstância um jovem universitário, sem filiação partidária, que vinha à procura do programa de candidatura. Queria saber o que nós defendíamos. Disse-me: quero ler para esclarecer-me porque quero votar em consciência na minha primeira ida às urnas. Para mim foi um momento de raro contentamento político. Em contraponto, nessa mesma campanha, programei um comício no largo da Assembleia. Fugi aos "artistas" da música popular considerada "pimba". Convidei o Sérgio Godinho e antes da sua actuação coloquei um conjunto madeirense de reconhecida qualidade. Andava eu por ali, quando, a páginas tantas, um sujeito abeirou-se e disse-me: "quando é que isto começa? Estão para ali a ensaiar há tanto tempo!". Bom, o espectáculo desse grupo já se tinha iniciado há vinte minutos.
Como esta, guardo outras situações, umas de lamentável e grosseira provocação, outras de ignorância que, testemunham, genericamente, as incapacidades que se reflectem no dia do acto eleitoral. É, por isso, pelas experiências vividas e que continuo a viver, que transporto o amargo da noite das eleições com o veredicto do dito Povo que, há mais de três décadas, vota, maioritariamente, no mesmo partido. Como se não existissem mais opções. Como se tudo se esgotasse na palavra de um homem. Como se todas as equipas candidatas e todos os programas apresentados não tivessem valor. Como se neste percurso de trinta e três anos de poder absoluto não exitam manchas, atropelos, perseguições e políticas desastradas!
Apesar disso, continuo a manter a esperança que um dia será. Não por mim, mas por esta terra que amo. E porque tenho essa esperança e porque tenho consciência que o povo está a passar mal, acredito que nos dois próximos actos eleitorais, apesar dos constrangimentos, sobretudo culturais, o povo, paradoxalmente, poderá dizer basta, cansado de tanta lengalenga.

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