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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

FUTEBOL NO PAÍS BASCO E A VITÓRIA DO NACIONAL

Podem as razões serem múltiplas do ponto de vista político. Não as conheço com toda a segurança para poder comentar, mas desde logo assumo que CONCORDO com o princípio. Li, hoje, na última página do DN-M que, no País Basco (Região Autónoma de Espanha), no futebol, privilegiam os praticantes locais aos estrangeiros. Do meu ponto de vista trata-se de uma medida inteligente.
O futebol profissional, este futebol apenas para alguns, este futebol de disparatados milhões, este futebol que está a levar à falência clubes históricos, este futebol sorvedor de dinheiros públicos que tanta falta fazem a outras prioridades, este futebol miragem para jovens que julgam ali estar o futuro, este futebol não tem o meu apoio. Quem lá consegue andar, porque tem meios próprios para isso, que se aguente. Os outros devem rever posições e organizar-se de acordo com as suas possibilidades. O que por aí anda é uma vergonha, de dívidas acumuladas, processos na Justiça e de praticantes enganados por promessas e contratos não cumpridos.
É o caso da Madeira. Uma Região pobre, dependente, com uma monstruosa dívida, diariamente a solicitar do Estado mais dinheiro, mas que desde 1980 gasta muitos milhões para manter estruturas de futebol profissional claramente inconsequentes. Eu, pelo menos, não me deixo levar pela situação efémera da vitória do Nacional sobre o Zenit. Porque sei quanto custou a todos os madeirenses até agora o montante dos valores aplicados. E sei quantas carências e prioridades subsistem para as quais não há um cêntimo nos cofres. E sei, já que se fala de desporto, como anda o desporto educativo escolar, isto é, a prática desportiva dos nossos, dos que aqui nasceram e frequentam a escola pública. Sei os cêntimos que contam e as limitações impostas pela Secretaria Regional da Educação. Não me curvo perante esta vitória do Nacional, com uma equipa cheia de continentais e estrangeiros, paga, fundamentalmente, pelo erário público, mas curvo-me perante vários os madeirenses, muitas vezes sem meios, que atingem o podium das competições nacionais e internacionais.
Tomemos consciência de duas coisas: primeiro, precisamos de ter uma população que sinta a prática física e o desporto como bem cultural (e não temos); segundo, somos uma Região de múltiplas carências e, por isso mesmo, o pouco dinheiro existente deve ser destinado ao desenvolvimento económico e às prioridades sociais e culturais. Quero lá saber da Liga Europa quando temos gente a passar muito mal. É uma questão de respeito pelos direitos do Homem.
Por isso, no País Basco, a opção está correcta.

2 comentários:

Rolando Almeida disse...

Caro André,
Não tenho bem conhecimento da razão dos Bascos em tal iniciativa. São todos os clubes Bascos ou são aqueles mais próximos da direita nacionalista Basca? Também o Real Madrid até aos anos 80 não aceitava jogadores negros, por exemplo. O Valdano que por lá se aguenta como director desportivo, teve alguns problemas por ser marxista.
Mas mesmo pressupondo que há um objectivo mais nobre nos clubes Bascos, eu discordo do argumento do André em dois aspectos:
1) porque a pluralidade democrática exige a livre circulação das pessoas e das profissões
2) Porque a tese de uma região pequena ter um clube ou dois grandes não é incompatível com a tese de que a grandeza dos clubes não possa trazer riqueza a essa região. O Brasil tem regiões bem mais pobres que a Madeira onde a venda de jogadores e talentos tem um peso significativo no PIB. O problema é a forma como se apoiam essas estruturas e que essas estruturas sem apoios não sobrevivem. O caso do Marítimo parece-me particularmente grave já que o clube tem um historial impressionante de apoios governamentais. E o problema ainda maior é que se trata de um investimento público sem retorno.
É verdade que o futebol é desmesurado, mas não podemos esquecer que do ponto de vista económico, investimentos como o Ronaldo para o Madrid podem significar retornos agradáveis para o clube. São marcas que se vendem e que desenham este mundo por vezes tão sem sentido, ou com sentido muito estúpido, em que vivemos. E nada disto é comparável com os rolls royce banhados a ouro dos sheiks arábes a contracenar com um povo a morrer de fome.
abraço

André Escórcio disse...

Caríssimo,
Obrigado pelo seu comentário.
O problema é muito mais complexo. Eu nunca coloquei nem coloco em causa o alto rendimento, o espectáculo que utiliza uma modalidade desportiva para venda do seu produto. A questão essencial é se o Estado, as Regiões Autónomas e as Autarquias devem ou não fazer parte das designadas SAD's, apoiando-as com os dinheiros provenientes dos nossos impostos. A questão é esta e não outra, quando está aos olhos de todos carências sociais múltiplas. Por isso, entendo que deve haver separação de águas: ao poder público deve competir a Educação Desportiva enquanto bem cultural; às empresas privadas (clubes) o espectáculo se assim o entenderem fazer. Neste caso terão de suportar os encargos derivados das suas opções.
Depois, meu Caro Colega, na Madeira e no País (veja-se a monstruosa dívida do Benfica, Sporting e Porto, para não falar de outros - o que aconteceu ao Boavista e ao Estrela da Amadora e mais um pouco por todo o lado)não podemos, até por lei, apoiar as instituições ditas desportivas que se dediquem ao espectáculo. Está na LEI. Por aqui têm arranjado artimanhas em sede de lei de orçamento regional e o problema vai andando...
Depois, quero que saiba que, relativamente à Região, há vários estudos que provam que o futebol não é promocional. São estudos realizados por Licenciados pela Universidade da Madeira e até há um realizado por uma Licenciada pela Escola Superior de Turismo do Estoril.
E repito, a Madeira tem muito mais a ganhar na batalha da Educação, da investigação e do desenvolvimento do que andar a brincar aos futebóis, quando NÃO TEM uma escola a educar para a prática física e para o desporto. 77% da população não tem hábitos de prática regular nem física nem desportiva. Concluem os estudos europeus sobre esta matéria.
Quanto ao País Basco, tive o cuidado de dizer que não conheço os pormenores, inclusive, os fundamentos políticos, mas isso não obsta que não assuma que têm razão por uma questão de princípio.
Meu Caro, entre a fome e o futebol eu prefiro matar a fome, e essa fome pode ser alimentar ou outra qualquer, como compreende. Dizia o Socólogo Lucien Romier, ironicamente, claro: "uma equipa de futebol por cada 1000 habitantes e o problema social estará resolvido". Obviamente que não vou por aí.
A Madeira está afogada em dívidas e precisa de distribuir o seu orçamento de forma equilibrada, prioritária e justa. O que não significa que também goste de ver um espectáculo de alto nível no futebol. Quando acontece. Mas isso é para aqueles que podem. E eu pago o serviço de televisão para o ver.
Um abraço.