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sábado, 1 de agosto de 2009

REVISÃO CONSTITUCIONAL

Lembro-me, em criança, na escola primária, chamava-se então assim, que as culpas pelos nossos actos menos adequados eram, normalmente, empurradas para os outros. Havia uma tendência colectiva para alijar responsabilidades ou, então, envolver outros ao barulho como forma de repartir culpas próprias. Não sei explicar o porquê científico, confesso, deixo isso aos especialistas das ciências do comportamento, mas dei conta, ao longo do percurso na docência, que uns crescem porque incorporam na sua matriz comportamental a fronteira entre o correcto e o incorrecto, a honestidade e a aldrabice, o respeito e a ofensa, o diálogo e a imposição, a democracia e a ditadura, por aí fora, e outros não. Uns emancipam-se e geram confiança, respeitabilidade, credibilidade, idoneidade, notoriedade social e muitas vezes política. Ficam na memória. Outros não, falam alto, barafustam, parecem permanentemente zangados, secundarizam a cultura de cooperação e levam a vida a tentar impor a sua vontade. Mandam, mas não lideram. São chefes, jamais líderes. Normalmente os seus comportamentos estão associados e condicionados no seu cérebro por um passado distante. E "quanto mais velhos menos facilmente improvisam novas respostas; a tendência, então, é fazer o ambiente ajustar-se às suas respostas cada vez mais previsíveis", adianta William Sargant, psiquiatra já falecido, in "A Luta Pela Mente". Evidenciam uma permanente perturbação comportamental e um conflito que se expressa em sinais bipolares, que tanto dá para a euforia disparatada como para babujar frente a algumas plateias. As emoções, as ideias e o comportamento ficam, obviamente, afectados por uma qualquer mania com perda da noção da realidade. O que é estranho, embora, por exemplo, no sector da política a História evidencie inúmeros casos, é o facto de os comportamentos serem cegamente apadrinhados, sem réstia de dúvida e sem a mínima indecisão. Das duas, uma: ou se trata de profunda convicção sobre um dada matéria ou está presente o medo de qualquer eventual represália ou perda de privilégios. Comum às duas situações emerge a concordância. Em outros espaços, mais recatados, aí sim, os desabafos acontecem. Puro jogo de conveniência e de sobrevivência.
Detesto ambientes claustrofóbicos, de pressão, demagógicos e subordinados à vontade de uma só pessoa. Perguntar-me-á o leitor, mas afinal o que tem isto a ver com o título desta opinião? Eu diria tudo. Sou autonomista de convicção profunda mas não sou pateta. Até na minha vida pessoal sempre fui autónomo e respeitei a autonomia dos outros, próximos ou não, até como necessidade emocional de boa comunicação. Nunca me subordinei a obediências cegas e a concordâncias abstrusas, sempre entendi que a autonomia constitui uma condição básica para conviver e resolver situações. Como sublinha o Professor Holgonsi Soares "(...) somente um indivíduo autónomo terá sucesso nas esferas económica, psicológica, sociocultural ou política, pois é um indivíduo que interroga, reflecte e delibera com liberdade e responsabilidade" ou, como escreveu o filósofo da autonomia Cornelius Castoriádis, "é capaz de uma actividade reflectida própria" e não de uma actividade que foi pensada por outro sem a sua participação. Ora, se assim penso e actuo, também entendo que a Autonomia Político-Administrativa Regional é um pressuposto de base para construir o futuro, o que não significa concordar com esta mistificadora e ilusória revisão constitucional. Repugna-me, por isso, o epíteto de "marginal da política". Uma expressão primária por falta de escola.
Nota:
Artigo de opinião, da minha autoria, publicado na edição de hoje do DN-M.

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