Adsense

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

DO ALUNO PESSOA AO ALUNO PERCENTAGEM

Desde há muitos anos que assumo posições que contrariam as características do sistema educativo desenvolvidas no País e, particularmente, na Região Autónoma da Madeira. Por aqui, com o ensino regionalizado e com um excessivo e ineficaz peso dos serviços entretanto criados, entendo que estamos já a pagar uma pesada factura dos erros de orientação política. Os resultados falam por si e as angústia dos docentes confirmam o estado de desorientação organizacional que o sistema regional apresenta.
Como costumo sublinhar, ao longo de trinta anos, confundiu-se escolarização com educação, ao mesmo tempo que se encheu a escola de muitas iniciativas mas falhas de significado, isto é, o acessório tomou conta do essencial. Enfim, complicaram o que era desejável que fosse assente em um rol de competências fundamentais em cada ciclo de aprendizagem. E assim chegámos, de "complicómetro na mão", ao aluno percentagem e não ao aluno pessoa. Regulamentaram tudo ou quase tudo, roubando o acto criativo, fecundante e identificador de cada estabelecimento de ensino. Por aí fora foram, de disparate em disparate, baseados em teorias vãs, ao ponto de, até na avaliação dos alunos, o aluno pessoa ser hoje o aluno percentagem. Pouco importa de onde vem e que história traz consigo. Importante é dividi-lo, desde logo, grosso modo, em duas grandes partes: a "cognitiva" (70 a 80%) e as "atitudes e valores" (30 a 20%). Depois, na primeira, novas percentagens para testes, trabalhos, etc. (depende de cada disciplina); na segunda, outras percentagens que o situem na pontualidade, assiduidade, trabalhos de casa, caderno diário, comportamento na sala de aula, trabalhos na sala de aula, etc.). Uma extensa listagem para conferir um nível ou uma nota final. Em alguns aspectos, para além deste "complicómetro" junta-se um outro, o "olhómetro" já que ao docente se torna difícil definir, com rigor, o acto avaliador de alguns itens dada a sua clara subjectividade. É a burocracia levada ao extremo com o aluno pessoa obviamente a passar ao lado. Emerge o aluno percentagem.
Sinceramente, não entendo isto. Farto-me de vasculhar autores e investigadores da Educação e não encontro nada que, objectivamente, justifique o que por aí se vai fazendo. No limite, por exemplo, no ensino básico (níveis de 1 a 5) um aluno muito certinho, de boa relação, pontual, enfim, pode atingir os tais 30% nas designadas "atitudes e valores". Mesmo que na parte cognitiva seja fraco, no final do período pode atingir o nível 3 que é considerado positivo. Isto, no limite, mas sei, por informações que disponho de vários colegas de profissão, que esta situação não é tão rara quanto se possa depreender.
Ora bem, em tempo de avaliação de alunos, porque o primeiro período chegou hoje ao fim, esta brevíssima reflexão que aqui deixo, serve para ilustrar que o sistema educativo tem de ser urgentemente revisto. Não é a escolarização que está em causa mas a Educação para o futuro que implica uma reinvenção do sistema, onde a avaliação do aluno pessoa seja considerada de uma forma diferente, embora exigente, rigorosa e determinada na perspectiva de uma sólida formação de HOMENS E MULHERES para a Vida que, do meu ponto de vista, não passa pela aturado trabalho das percentagens. Eu sei que é difícil mas temos de tomar o fio à meada!
Desenho:
Google Imagens.

Sem comentários: