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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

UM ACORDO QUE SABE A POUCO

Tratou-se do acordo (de princípios) possível. Significa, por isso, que houve negociação, coisa que há muito não se verificava. Quando há negociação há cedências das partes envolvidas no processo e isso é de louvar. É evidente, pelas posições que tenho vindo a assumir, continuarei a defender a não existência de quotas para a progressão nos escalões da carreira docente, todavia, com alguns constrangimentos, todos, com um mínimo de BOM no desempenho docente, poderão, agora, atingir o topo da carreira. Um outro aspecto que caiu foi a divisão da carreira em duas categorias hierarquizadas. Era uma situação ridícula que a ex-ministra nunca quis entender. Mas este, estou em crer, foi apenas um primeiro passo. Há muitas matérias a rever no sentido de uma Escola pública de qualidade e promotora da excelência.
É um erro admitir-se que o problema do sistema educativo está na avaliação do desempenho docente. É óbvio que não está. Olhe-se para o caso da Finlândia, país que tem servido de referência pelo sucesso no plano dos resultados da educação. Coexistem, pois, muitos outros e importantes factores susceptíveis de conduzirem à excelência: as políticas de família e a tomada de consciência da importância da educação, a mudança de mentalidade e o sentido de rigor transversal a toda a sociedade (que leva anos), a reorganização social no que concerne aos períodos de trabalho, a melhoria das condições de vida, estabelecimentos de ensino com um novo sentido organizacional, mais autónomos e capazes de assumirem uma identidade própria em função da diversidade, uma profunda mudança na formação inicial dos professores, o seu acompanhamento nos primeiros anos de serviço e, entre variadíssimos aspectos nos planos curricular e programático, o desenvolvimento de uma CULTURA DE DESEMPENHO onde emerja o trabalho em equipa e o sentido colectivo do exercício da profissão.
O que se anda a discutir tem uma marca claramente economicista e a Educação não pode ser vista apenas por essa via demasiado estreita. Aliás, porque todos conhecemos o preço da ignorância. Durante quatro anos a teimosia centrou-se na criação de estrangulamentos vários que impedisse um professor de chegar ao topo da carreira. A questão central nunca foi a da melhoria dos resultados do sistema. O professor foi considerado como a causa do problema e não a consequência de um sistema que se tornou reactivo e obsoleto em relação ao desenvolvimento. É por isso que se trouxe e continua a ser trazido para o centro do debate o problema da avaliação tornada em classificação de desempenho, deixando de lado outras variáveis muito mais importantes e decisivas no caminho para o sucesso. Continuo a pensar que esta actuação no fim da linha não garantirá qualquer mudança substantiva na melhoria da aprendizagem e das competências, pois se não for considerado o extenso rol de questões a montante do sistema, na sociedade, e a jusante, na organização escolar, não será o professor que, isoladamente, conseguirá operacionalizar a mudança e o surgimento dos necessários resultados. A CULTURA DE DESEMPENHO de que falo nada tem a ver com classificações, mas sobretudo com a exigência que os professores devem integrar e impor a si próprios, consequência da atribuição de uma responsabilidade social e de um ambiente interno de escola favorecedor de um SENTIDO DE PERTENÇA que o deve empurrar para uma total doação à profissão.
Espero, por isso, que na Região Autónoma da Madeira, as necessárias mudanças não fiquem a aguardar pelo que se passa no Ministério da Educação e que haja a inteligência e a capacidade de definir um caminho no quadro da Autonomia que, a prazo, rompa com os péssimos indicadores estatísticos que caracterizam o sistema educativo na Região.
Nota: O documento que consubstancia o acordo pode ser lido aqui.
Foto: Google imagens.

2 comentários:

NaoSouOMedinaCarreira disse...

Acredita que agora vamos ter melhores professores?
Vamos ter professores mais bem pagos. Isso sim.
Pelos outros contribuintes.
Mas os mesmos. E, provavelmente fazendo menos.
Diz que os BONS chegam ao fim da carreira. Pois a questão está mesmo aí: 99,5% são BONS...
Haverá alguém a se esforçar?
Para quê?
Como deverá saber, no meio de cegos é melhor fechar os olhos...
Nada de espertezas e bom trabalho. Pois isso incomoda (por comparação) quem nada ou pouco faz. E como estes são maioritários... está o futuro traçado. E infelizmente é muito negro.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Desculpar-me-á mas, certamente, não leu totalmente o meu texto, tampouco tem acompanhado os desenvolvimentos que há muito tenho vindo a fazer no âmbito do sistema educativo.
Sabe, uma coisa é a avaliação outra é a organização do sistema e da sociedade que propicia melhores resultados. Podemos ter uma avaliação muito rigorosa e professores com a menção de Excelente, mas isso não basta para ser bom professor e ter resultados. É dos livros e da prática, meu Caro.
Portanto, há muita coisa a mudar nesta Escola onde ainda permanece a matriz da Sociedade Industrial.