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domingo, 28 de fevereiro de 2010

ENSINO EM SALAS EM PENTAGRAMA

A construção de salas em formato de pentágono é a aposta do colégio "O Parque", em Cascais, pois promove uma maior concentração do aluno.
É assunto sobre o qual não me subsistem dúvidas. Tenho lido alguma informação e documentação sobre o mesmo e, por isso, no articulado do Projecto de Decreto Legislativo Regional que cria o Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, tive o cuidado de integrar um artigo (Artigo 4º, ponto 13) o seguinte texto que se refere à construção dos estabelecimentos de educação e ensino:
"Nas fases de planeamento e de projecto é obrigatória a audição e parecer dos parceiros sociais do sistema educativo, bem como de uma comissão formada por seis elementos, concretamente, educadores (dois) e professores (quatro), com um mínimo de dez anos de experiência docente, convocados para o efeito, e de duas instituições universitárias com representantes das áreas das Ciências Sociais, Humanas e Tecnológicas".
Do meu ponto de vista e muitos investigadores que sigo com atenção, parece-me evidente que não podemos ter um tipo de estabelecimento de educação ou de ensino padronizado. Foi assim, hoje, porém, não é e não pode ser. A Escola da Sociedade Industrial não pode ser a Escola da Sociedade da Informação e da Comunicação. Trata-se de lógicas completamente diferentes, pelo que, os espaços de educação e aprendizagem devem reflectir novos paradigmas pedagógicos. E aqui os educadores e professores, em conjugação com os parceiros sociais, devem ser ouvidos, sobretudo porque eles é que terão a nobre missão de bem educar e de transmitir o conhecimento. Essa responsabilidade não fica nem pode ficar dependente das opções de um qualquer técnico sem formação na área. O problema é que, por aqui, por mais que se fale e escreva, ninguém com responsabilidades governativas parece querer ouvir e quem se atreve leva com epítetos muito pouco agradáveis. "Miseráveis", por exemplo!
Ora, Cascais foi a cidade escolhida para o novo colégio "O Parque", leio aqui, um "edifício desenhado e pensado exclusivamente para o ensino, que traz a grande novidade das salas em pentagrama (formato pentágono). Estas salas promovem uma maior concentração do aluno que beneficia de uma aprendizagem activa, um ensino personalizado, de uma pedagogia de projecto e exigência na avaliação. (...) O modelo pedagógico oferecido pelo projecto encaixa nas salas pentagonais: estas promovem o estímulo criativo e comunicativo oferecido aos alunos que visa aproveitar ao máximo o seu potencial, tornando o ensino mais concretizante".
Nada que não se saiba, mas para isto se concretizar necessário se tornaria humildade governativa, coisa que não existe na Região, capacidade para ouvir e um enorme desejo de tornar a Educação como a prioridade das prioridades. Lamentavelmente, há também docentes que, por falta de esclarecimento, não compreendem a necessidades das mudanças, como verifiquei através de alguns pareceres que me chegaram onde aquele artigo (4º, ponto 13) que fizemos constar do Regime Jurídico é considerado desnecessário. Temos todos muito a aprender. O governo deveria dar o primeiro passo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (XI)

O mundo da política e dos negócios tem falado sempre mais alto que a defesa das populações!
Não tenho por hábito comentar artigos de opinião, pelo simples facto de respeitar pontos de vista distintos. É assim que se constrói a Democracia, porque os posicionamentos distintos possibilitam novas leituras de processo, de resto sempre importantes na construção do futuro colectivo. Hoje, porém, fiquei perplexo ao ler um texto do Engº Pedro Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento. Aliás, por razões várias, apesar de não sermos pessoas próximas, sempre tive pelo Engº Pedro Ferreira enorme consideração, o que não obsta que olhe para a sua opinião, hoje publicada, a propósito do catástrofe que se abateu sobre a Madeira, com um olhar muito crítico.
Ora bem, é que os comentários publicados, também por especialistas, apontando erros estratégicos em algumas opções políticas, não se enquadram nesse pressuposto quadro "zandinga", ao jeito de profetas da desgraça. Não, Caro Engº Pedro Ferreira, não li e não ouvi um único comentário de pessoas que não tenham um passado científico sobre estas questões, de sistemáticos alertas no quadro de uma cultura de risco que está muito para além de uma cultura inauguracionista. Depois, questiono, afinal, quem são os especialistas em quem devemos acreditar, admirar e seguir? Apenas os que fazem parte dos quadros políticos do governo regional ou existem também muitos outros, académicos, investigadores, organizações não governamentais, ambientalistas, enfim, credíveis pessoas da sociedade, cujos posicionamentos merecem séria reflexão? Estaremos numa sociedade de uns e dos outros, dos bons e dos maus, dos compreensivos e dos intolerantes, ou constitui um ponto de partida de bom senso, ouvir, reflectir e aproveitar os vários pontos de vista sobre o mesmo assunto? Quem analisa de forma diferente terá de partir para "outras terras", como é sugerido?
Discordo. Até porque os considerados "zandingas" da nossa terra, os tais "ignorantes e pequenos", ao contrário do outro que, por subsistência, enveredou pela carreira de vidente, desta vez, infelizmente, acertaram em cheio. Os seus alertas (propostas) que, sublinho, nunca tiveram por objectivo impedir este tipo de catástrofes, mas atenuar e minimizar as suas consequências, concretizaram-se, o que coloca em maus lençóis muitas das políticas seguidas pelo governo e pelas próprias Sociedades de Desenvolvimento. E é certamente isto que custa ouvir.
Ainda hoje recebi uma mensagem com um texto do engenheiro silvicultor Cecílio Gomes da Silva, publicado no DN de 13 de Janeiro de 1985, subordinado ao título: "Eu tive um sonho". Desse texto transcrevo a seguinte parte:
"(...) Olhei para o Sul e qualquer coisa de terrível, dantesco e caótico se me deparou. A Ribeira de Santa Luzia, a Ribeira de S. João e a Ribeira de João Gomes eram três grandes rios, monstruosamente caudalosos e arrasadores. De onde me encontrava via-os transformarem-se numa só torrente de lama, pedras e detritos de toda a ordem. A Ribeira de Santa Luzia, bloqueada por alturas da Ponte Nova - um elevado monturo de pedras, plantas, arames e toda a ordem de entulho fez de tampão ao reduzido canal formado pelas muralhas da Rua 31 de Janeiro e da Rua 5 de Outubro - galgou para um e outro lado em ondas alterosas vermelho acastanhadas, arrasando todos os quarteirões entre a Rua dos Ferreiros na margem direita e a Rua das Hortas na margem esquerda. As águas efervescentes, engrossando cada vez mais em montanhas de vagas espessas, tudo cobriram até à Sé - único edifício de pé. Toda a velha baixa tinha desaparecido debaixo de um fervedouro de água e lama. A Ribeira de João Gomes quase não saiu do seu leito até alturas do Campo da Barca; aí, porém, chocando com as águas vindas da Ribeira de Santa Luzia, soltou pela margem esquerda formando um vasto leito que ia desaguar no Campo Almirante Reis junto ao Forte de S. Tiago. A Ribeira de S. João, interrompida por alturas da Cabouqueira fez da Rua da Carreira o seu novo leito que, transbordando, tudo arrasou até à Avenida Arriaga. Um tumultuoso lençol espumante de lama ia dos pés do Infante D. Henrique à muralha do Forte de S. Tiago. O mar em fúria disputava a terra com as ribeiras. Recordo-me de ver três ilhas no meio daquele turbilhão imenso: o Palácio de S. Lourenço, A torre da Sé e a fortaleza de S. Tiago. Tudo o mais tinha desaparecido - só água lamacenta em turbilhões devastadores. (...) Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente. (...) Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis".
O Engº Cecílio Gomes da Silva não foi um dos "Zandingas". Também alertou, só que o mundo da política e dos interesses económicos fala mais alto que a segurança das populações. É ou não verdade, Caríssimo Engº Pedro Ferreira?
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (X)

"Vou reconstruir isto". Fica a ideia de uma espécie de Liedson da política... que resolve!
"Vou reconstruir isto", disse o presidente do governo regional porque «com a vida das pessoas não se brinca". Dois aspectos ressaltam destas declarações: desde logo, a histórica necessidade de centrar na primeira pessoa a responsabilidade de fazer a "obra", o que significa que todos os outros são apenas meros tarefeiros. Ele é o centro de tudo, o omnipresente, o político que dá e tira, que joga as cartas conforme quer, o homem que não tem colaboradores mas servos, que está no pedestal e face ao qual todos se vergam, não por respeito e competência, mas por evidente medo. Do ponto de vista político esta lógica em que assenta o EU e o UI (como ainda ontem e bem dizia o Jornalista Ricardo Oliveira - UI / único importante) tem uma óbvia finalidade, pois propaga-se junto da população menos habilitada, a população sofredora, a população mais frágil e mais dependente. Fica a ideia do paizinho, do "abono de família" desta equipa governativa, numa espécie de Liedson da política "que resolve". E isto é mau, simplesmente porque, pelo caminho, espezinha os técnicos, ofende a inteligência universitária, as associações e os especialistas que se conseguem colocar distantes dos meandros da politiquice barata e sem nível. Todos são uns "miseráveis", face ao chefe da tribo!
Ao lado desta imagem de homem providencial, o desplante obriga-o a dizer que "com a vida das pessoas não se brinca". Obviamente, que sim. Só que, vasculhando o baú das decisões políticas, pergunto, quem é que, neste processo, andou a brincar com a vida das pessoas? Quem é que secundarizou os avisos, quem é que sempre olhou para os instrumentos de planeamento do território de forma enviesada, quem os suspendeu sempre que deu jeito, quem é que fechou os olhos à construção de natureza espontânea, quem é que sempre esteve mais preocupado com a inauguração e não com a segurança? Quem?
Ora, quando se assume ser o "único importante" na Região, logo também as responsabilidades políticas e até criminais deveriam, concomitantemente, ser-lhe assacadas. O Dr. Jorge Coelho, por exemplo, estava a mais de 300 km. quando a ponte "Entre-Os-Rios" colapsou. Retirou, de imediato as ilações políticas, porque percebeu que alguma coisa tinha falhado e que era da sua tutela salvaguardar. Aqui, nada acontece. É a natureza, a única culpada.
Mas pior do que todas estas considerações é o facto desta calamidade ter vindo por a nu as grandes fragilidades da ilha da Madeira. Colocou a nu a pobreza a muitos níveis. Os jornalistas que se meteram serra fora, que foram até às mais recônditas paragens, mostraram onde não se deve construir, mostraram a ausência de cultura de risco, mostraram que a prevenção e defesa a montante e que História, ciclicamente, recomenda sérios cuidados, não foi acautelada. Empurrar as consequências da catástrofe para as obras do Estado Novo, não lembra ao diabo, constitui um devaneio de muito mau gosto. O que está em causa é quem geriu esta designada Madeira Nova que não acautelou, com o conhecimento existente, os meios disponíveis e com a responsabilidade derivada de órgãos de governo próprio autónomos, uma situação previsível e que, embora não podendo ser evitada em toda a sua extensão, poderia ser substancialmente minimizada. O problema reside aqui.
Portanto, ficaram, infelizmente, repito, a nu as fragilidades estruturais da Ilha, ficou a nu a pobreza, os que foram atirados para a periferia e obrigados a resolver a sua situação habitacional de qualquer maneira, distante de qualquer segurança e que hoje choram os mortos e tudo o que perderam que, aliás, era já muito pouco. Sofro com eles porque, por maior esforço que faça, não consigo integrar-me nesse desespero. Por outro lado, é sufocante ouvir o epíteto de "abutres" aos que agora exigem responsabilidades políticas e criminais, ouvir severas críticas aos académicos, ouvir a desfaçatez de jogar, claramente, para outros responsabilidades políticas próprias.
Ao contrário de tentarem mascarar a realidade, deviam assumir, na plenitude, os erros cometidos derivados de um crónico desleixo pelo planeamento territorial. Tenho à minha frente vários programas de campanha eleitoral à Câmara Municipal do Funchal. Todos eles são unânimes na necessidade de uma operação integrada de requalificação urbanística das zonas altas visando a sua contenção e dignificação. Tenho presente os relatórios feitos em matéria de segurança das populações, dos erros cometidos na canalização das ribeiras e afluentes. Tenho presente os trabalhos científicos de vários académicos e a voz autorizada de técnicos que, cientificamente, pediram cuidado o que se anda por aí a fazer em matéria de impermeabilização dos solos, muitas vezes nas margens das ribeiras. Tenho presente os alertas do madeirense Doutor João Baptista, investigador, sobre a perfuração e impermeabilização da baixa funchalense. Tenho presente o que vejo e o que me dizem quando visito, em missão política, as zonas mais vulneráveis a norte do Funchal. Tenho presente a História e tenho presente o que certos homens fizeram da cidade, pela vivência que tive de doze anos de Vereador da Câmara do Funchal.
No meio disto tudo, o presidente do governo refere que vai fazer tudo igual! Só pode estar a brincar ou não sabe o que diz. Este momento, que colocou a nu as fragilidades deverá, pelo contrário, ser aproveitado para fazer das fraquezas uma oportunidade, o que implica não repetir os mesmos erros. Uma oportunidade para requalificar e para influenciar os Planos Directores Municipais no sentido do rigor. Uma oportunidade para aprender com a História, porque "com a vida das pessoas não se brinca".

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (IX)


"Se não tivesse entulhado tinha passado tudo".

Não foi Jacques de la Palice (ou de la Palisse) que disse aquela frase que marca a tragédia. Acabo de seguir uma entrevista do Senhor Presidente do Governo Regional concedida a Judite de Sousa, Jornalista da RTP 1. Quando a questão foi colocada ao que se passou na ribeira frente ao Dolce Vita, o Presidente foi claro: "Se não tivesse entulhado, tinha passado tudo". Nem mais. E disse uma outra lapidar: "Há doutores a mais neste País". Obviamente, referia-se aos tais que estudam, investigam, aconselham, colocam o seu saber ao dispor dos políticos e, depois, são considerados "miseráveis" por reflectirem e, teimosamente, alertarem para os erros de planeamento do território. Trinta e seis anos depois, ouvi, também, que a culpa vem do tempo do Estado Novo, o que significa que a Madeira Nova nada tem a ver com o desastre. No meio disto tudo, nada será mudado e, quanto ao Pinto de Sousa, passou a Engenheiro e já é um amigo.

UM GESTO BONITO DE TIMOR



Há gestos que nos calam bem fundo. Este veio de Timor Leste, desse distante quanto próximo Timor, desse "POVO HUMILDE, ESTÓICO E VALENTE", dessa gente que vive pobre mas que é solidária. No momento certo, souberam responder àquela infeliz declaração que daqui partiu, lembram-se, certamente, "nem um tostão para Timor". A decisão do Conselho de Ministros é clara: "(...) Na sequência das inundações que atingiram a Região Autónoma da Madeira, provocando dezenas de mortos e avultados prejuízos, o Conselho de Ministros, em acto de solidariedade e apoio para com o povo e autoridades daquele arquipélago português, aprovou a atribuição de ajuda financeira no valor de 750 mil dólares norte-americanos, para ajudar a colmatar os estragos e perdas sofridas com as fortes chuvadas que assolaram a região". - Secretaria de Estado do Conselho de Ministros de Timor Leste.
Senti vergonha quando ouvi aquela declaração por parte do governo da Região Autónoma da Madeira e, hoje, senti-me emocionado pelo gesto solidário vindo de quem tanto precisa para os seus. Lá diz o Povo, na sua imensa sabedoria, que não se deve "cuspir para o ar". Infelizmente, por aqui, cospe-se muito. Desta vez, não bastou a lama pela cintura, a porcaria das palavras bizarras e ridículas, ditas sem sentido, caíram na cara de quem as proferiu. É assim a vida.
Lembro-me de ter estado no Largo do Colégio, numa vigília e de ter cantado a canção AI TIMOR, de Luís Represas:
Da cruz se faz uma lança em chamas
Que sangra o céu no sol do meio dia
Do meio dos corpos a mesma lama
Leito final onde o amor nascia.
Jamais me esquecerei deste gesto bonito das gentes de Timor, assinado pelo Nobel da Paz, Ramos Horta.
Timor, uma terra agreste e montanhosa que bem poderia assumir o nosso Hino:
Herói do trabalho na montanha agreste,
Que se fez ao mar em vagas procelosas:
Os louros da vitória, em tuas mãos calosas
Foram a herança que a teus filhos deste.
Que belo exemplo de solidariedade!

CULTURA DE RESPONSABILIDADE

Despachar para a natureza a responsabilidade do que aconteceu parece-me um acto de cobardia social e política.
Três notas prévias: primeira, fico sempre com um nó na garganta quando vejo alguém em situação desagradável; segunda, porque faz parte do meu código, rejeito atirar-me, sem dó nem piedade, seja a quem for. No exercício da política também; terceira, não tenho costela de abutre, no sentido de devorar as vítimas políticas aquando dos cenários de tragédia e morte. Não alinho nessa espécie de necrófago político, sempre à espreita de uma oportunidade para a bicada. Mas esta forma de estar na vida e na política não significa que tudo passe em vão e que não retire as necessárias conclusões. Seja qual for o momento, tento fazer sínteses e deduzir as eventuais responsabilidades. Deve ser assim na vida pessoal de cada um de nós, na família, na empresa, nas condutas sociais, na escola e na política, também. O silêncio, o encolher de ombros, o despachar para a natureza a responsabilidade do que, neste caso, aconteceu na Região, parece-me um acto de cobardia social e política.
O caso em apreço enquadra-se nas técnicas de previsão. Todos sabem, mas descuram, que há técnicas de previsão quantitativas (métodos de extrapolação, através de procedimentos matemáticos a partir de tendências passadas, e modelos econométricos, onde é possível estudar o conjunto das relações simultâneas entre diversas variáveis) ou, então, técnicas de previsão causais, identificando as variáveis endógenas (controláveis) e as exógenas (em princípio não controláveis), através das quais se analisa a influência de cada variável e, a partir daí, uma situação futura, no quadro de uma relação de causa-efeito. Se quem governa não domina isto parece-me grave. Técnicas que possibilitam, em termos de horizonte temporal, previsões desde o curto ao longo prazo. Basta, para isso, seriedade técnico-científica no trabalho, respeito pelos homens de ciência, fiabilidade nos dados e uma segura determinação do grau de exactidão desejado.
Obviamente, quando se governa com responsabilidade, quando a preocupação se ajusta aos interesses da comunidade, pelo rigor das decisões assumidas, é evidente que não se pode anular por completo os factores não controláveis (neste caso a conjugação dos imponderáveis meteorológicos a uma escala regional) mas, com um elevado grau de certeza, podemos minimizar as suas consequências. Ora, quando existem aterradoras narrações históricas, de tragédia e morte, quando os especialistas em diversas áreas de investigação, mormente, geológica, geográfica e ambiental, colocam em destaque o perigo que decorre de uma abusiva intervenção nos cursos de água ou de uma excessiva impermeabilização dos solos, quando se levantam vozes chamando à atenção para o perigo de implantação de infra-estruturas em zonas de risco, quando não se ordena o território com implacável rigor, quando se oferecem projectos para completar habitações em zonas de risco, quando a economia suplanta uma cultura de risco, é óbvio que, dificilmente, se pode atenuar os efeitos de uma catástrofe com esta dimensão. Não há sistema previsional que responda. Apenas um exemplo: quantos, em tempo devido, embora vilipendiados, falaram da canalização da ribeira de S. João frente ao Dolce Vita? Ora, nem esses são "miseráveis" e "canalhas", tampouco os seus alertas fazem parte de "conversas de teóricos de café".
Politicamente, pelo menos eu, teria já retirado as devidas ilações. Porque a política não é um emprego, é um serviço público à comunidade. Em política a incúria paga um preço alto. Só que isso implica uma cultura de responsabilidade. E, infelizmente, não a temos. Esquisito (?), talvez não, porque a culpa foi só e apenas da precipitação anormal - dizem.
Nota 1:
Opinião, da minha autoria, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.
Nota 2:
Esta opinião foi escrita com toda a ponderação e, posso mesmo dizer, com um profundo aperto no coração mas com alma, no sentido de quem não quer ver a tragédia, novamente, à porta dos que nada têm depois de uma vida inteira a construir. Trata-se de uma opinião sentida mas responsável. Tive, até, o cuidado, antes da sua publicação, pedir a pessoas que muito considero e estimo (e que nada têm a ver com o exercício da política), o favor de a lerem e de facultarem a sua opinião. Concretamente, pedi a idóneos especialistas e de todos eles tive a sua aprovação. Lamento, profundamente, determinados comentários (para já, não neste blogue) que explicam que, afinal, não temos nem cultura de responsabilidade nem de risco. Isto preocupa-me, até porque, repito, não "tenho costela de abutre". É preciso saber ler e não meter a cabeça na areia, sabe-se lá, por razões meramente partidárias. Chego à conclusão que duas tragédias se abateram: a da destruição e morte e a da ausência de uma mentalidade para enquadrar, de forma séria, o nosso futuro. O que fazer?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (IX)

Os avisos foram muitos. Para reflectir.

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (VIII)

É óbvio que não temos uma cultura de risco. Ela não faz parte da nossa forma de estar na vida.
Nunca a aprendemos com a responsabilidade que ela envolve. O princípio que nos tem sido legado através das sucessivas gerações é que, por aqui, isto é um “Cantinho do Céu”. Talvez, por isso, e por irresponsabilidade de quem tinha o dever de contrariar tal princípio, arriscamos, permitimos, desleixamo-nos, não colocamos os haveres no seguro, acreditamos que tudo vai dar certo, até um dia! Talvez, por isso, as mais de setecentas linhas de água no Funchal não têm merecido o cuidado e o respeito pela natureza tão bela quanto agressiva, talvez por isso o planeamento urbanístico ao nível da Região falhe no exigente rigor sobre o qual deveria assentar todas as decisões, e quando a borrasca surge, ei-los a sacudir a responsabilidade com uma arrepiante desfaçatez. Ao contrário do que ouvi o presidente do governo regional dizer, nós não temos de viver e conviver com o risco, temos é de integrar uma cultura de risco desde as mais tenras idades. Não se trata de uma cultura de medo, mas de uma cultura que nos prepare, em consciência, para saber dizer não perante tantas situações potenciadoras de elevados graus de risco.
Vivemos um drama, uma tragédia marcada, novamente, com sangue e lágrimas, uma tragédia que, ciclicamente, se repete, que tem uma longa História de perda de vidas humanas e de bens materiais que os homens desprezaram e, hoje, convicto estou, regressada a normalidade, a cultura existente determinará a manutenção dos mesmos erros.
É evidente que, seja onde for, as catástrofes acontecem quando menos se espera. Se não as podemos prever com rigor e “desviar” em tempo, no mínimo, temos a responsabilidade colectiva de atenuar as consequências. A ausência de uma cultura de risco vai ao ponto de termos estádios de futebol em todo o sítio, para devertimento, claro, estádios onde são necessários e onde seriam dispensáveis, mas não temos um radar meteorológico. Parece impossível mas é assim.
Tenho presente o desastre de 1993 e tenho presente tudo quanto vi em Vargas, na Venezuela, na tragédia de Dezembro de 1999, onde morreram mais de 50.000 pessoas. Em Vargas, a palavra incúria foi a mais evidente. Escutei opiniões diversas, indaguei os porquês e isso serviu-me para ter uma posição de sistemático alerta junto da Câmara do Funchal onde desempenhava as funções de Vereador. Falei, tantas vezes, da necessidade de um melhor planeamento urbanístico, lutei pela carta de riscos, posicionei-me contra muitas decisões, estou, por isso, de consciência tranquila, mas com um aperto no coração por continuar a sentir que poucos ouvem os sinais da natureza e poucos se ralam com as posições dos homens e mulheres de ciência cujas investigações, infelizmente, são tidas no quadro de “teóricos de café”. Perguntar-me-á o leitor: o que fazer? Talvez eu saiba, mas ficará para depois. Esta não é, certamente, a hora para esgrimir argumentos de natureza política. Cada coisa a seu tempo. Hoje, é dia de funeral de uma criança. Não o conhecia nem à sua família. Simbolicamente, lá estarei. Posted by Picasa

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (VII)

Uma foto publicada na edição on-line do Jornal PÚBLICO mostra a quantidade de entulho que foi arrastado para a zona mais baixa do Funchal. Esta foto reporta-se a uma rua circundante do Mercado dos Lavradores. Impresionante.
Tenho-me lembrado do desastre de Vargas, na Venezuela, em Dezembro de 1999. Passada uma semana, em representação do Grupo Parlamentar do e da Direcção do Partido Socialista, parti para Caracas onde tive a possibilidade de visitar toda a zona devastada pela fúria das águas que arrastou pedras e lamas, derrubando tudo o que apanhou pela frente e gerando um amplo cemitério para milhares de pessoas.
É evidente que a comparação é, de certa forma, abusiva, sobretudo pelo grau de destruição, mas aquilo que presenciei e os testemunhos que ouvi têm uma significativa semelhança. Tal como aqui, vi gente desesperada à procura dos familiares, habitações destruídas, choros convulsivos de quem tudo perdeu, famílias destroçadas, uma população atónita que vagueava sem destino, pedidos de socorro e muitas organizações a colaborar no desastre. Visitei a Missão Católica onde entreguei um cheque de apoio às vítimas no valor de 3.000.000$00, estive com várias associações de madeirenses, almocei com o Embaixador e de todos vi e senti o calor humano da necessidade de enfrentar o drama social. Momentos dramáticos mas, simultaneamente, inesquecíveis.
Com as devidas proporções, o desastre que se abateu na Madeira traz-me em memória Vargas, essa população mártir. Lá o inesperado aconteceu, muito também por incúria dos Homens que secundarizam a natureza que, uma vezes, se mostra bela, outras agressiva. Por aqui, oxalá, novos erros não sejam cometidos e os que existem sejam atenuados.
Ilustração: Foto 1: Público; Foto 2: arquivo pessoal - Vargas (Janeiro de 2000).

domingo, 21 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (VI)




Os trabalhos de limpeza da zona baixa do Funchal continuam a bom ritmo, mas é desoladora a imagem. Pela ordem das fotos: 1ª Cais do Funchal; 2ª e 3ª frente ao Teatro Municipal; 4ª zona do Infante (Dolce Vita).
Mas este é o aspecto da zona mais baixa do Funchal. Nas encostas a norte da cidade e em vários concelhos a situação é desoladora e de desespero para centenas de famílias. Aumentou para 42 mortos e tudo indica que este número suba com algum significado. Posted by Picasa

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (V)





Um dia depois, na zona baixa do Funchal. Pela sequência das fotos: 1ª Rua 31 de Janeiro já muito perto do mar. As pedras, a areia e restos de construção, amontoram-se ao ponto de subirem acima da própria estrada; 2ª Idem, mais próximo; 3ª Avenida do Mar frente à Assembleia Legislativa da Madeira; 4ª Praça de Colombo. Posted by Picasa

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (IV)

Eleva-se para 40 os mortos nesta tragédia com possibilidades deste número vir a subir face ao número de desaparecidos.
Na edição on-line do PÚBLICO podemos ler: "(...) a população da Madeira pode ficar tranquila porque terá todo o nosso apoio”, frisou Sócrates, antes de regressar a Lisboa, cerca da meia-noite. O primeiro-ministro manifestou ainda solidariedade com “o povo da Madeira” e deixou “uma palavra de conforto e coragem àqueles que perderam familiares”.
O ministro da Administração Interna, que acompanhou o primeiro-ministro na deslocação ao Funchal para inteirar-se da dimensão da tragédia e avaliar com o executivo madeirense os meios nacionais a mobilizar pelo governo da República, anunciou que hoje de manhã serão enviadas, num avião militar, duas equipas da GNR com cães para ajudar a localizar pessoas desaparecidas. No mesmo avião militar partem mergulhadores das forças especializadas de bombeiros e cinco médicos do Instituto de Medicina Legal para realizar, com a maior brevidade, as autópsias às vítimas mortais.
Várias localidades isoladas sem água nem luz no Funchal e da Ribeira Brava, muitas casas e carros destruídos, estradas interditas ao trânsito e um rasto de lama são os sinais materiais visíveis do temporal que ontem assolou a Madeira.
A chuva continua a cair mas com menos intensidade, pelo menos no Funchal, e as máquinas trabalham incessantemente na remoção de entulhos e pedras no centro da capital madeirenses, sobretudo nas zonas do Mercado dos Lavradores, Rotunda do Dolce Vita, Avenida do Mar, da Arriaga e das Comunidades Madeirenses".
Ilustração: Google imagens. Capa do DN-Madeira.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (III)

O momento é de cuidar dos vivos e recuperar o que for possível. Recuperar mas também de proceder a balanços. Reflexões que deverão ser feitas com muita seriedade, ponderação, profundidade e frontalidade.
É evidente que este tipo de situações podem, em comunhão com os especialistas, ser minimizadas se outro tipo de preocupações, inclusive, políticas, fossem tomadas em consideração. Aliás, os alertas para a prevenção têm sido muitos, quer através de das várias organizações ambientalistas quer através dos partidos políticos.
Esta nova e dramática situação que a Região está a viver, deverá merecer uma análise que não se fundamente, apenas, na quantidade de precipitação num tempo tão curto, mas em outras importantes variáveis que configuram incúria e muito pouca sensibilidade no âmbito de uma só palavra: prevenção.
De facto, não tem sido sensível uma capacidade política para dizer NÃO a determinadas obras face ao risco que a História, se para ela olharmos com respeito, aconselharia a não licenciar. Porventura, se assim fosse, não estaríamos a lamentar, neste momento, mais de trinta mortos.
Para já, cuidemos dos vivos, da recuperação de quem viu as suas habitações completamente destruídas e do regresso à normalidade. Que não constitui tarefa fácil.
Posted by Picasa

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (II)

Apesar de, neste momento, chover com menor intensidade, a situação continua dramática. O centro do Funchal ficou completamente alagada pela fúria das águas. Como se pode ler no DN-M on-line: "(...) Gritos de desespero, gente em estado de choque, ambulâncias a transportar feridos e a Polícia e Bombeiros sem mãos para acudir aos inúmeros pedidos de socorro um pouco por toda a baixa do Funchal. O cenário era dantesco ao final da manhã entre a Rua Dr. Fernão de Ornelas e a rotunda do Dolce Vita, com lojas completamente destruídas e pessoas em pânico.
A Câmara de Lisboa vai enviar 36 homens do Regimento de Sapadores Bombeiros da cidade para participar nas operações de socorro na Madeira. E dentro de pouco tempo chegam ao Funchal, o Primeiro-Ministro José Sócrates, acompanhado do Ministro da Administração Interna. Posted by Picasa

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (I)

Precipitação anormal, tornou a cidade do Funchal e vários concelhos da Região num quadro absolutamente dramático.
A água transbordou as principais ribeiras, inundou toda a baixa deixando um rasto de destruição e de morte que, segundo informação às 19 horas, atingia já 32 pessoas, mais de 60 feridos e muitos desaparecidos.
A zona da Rotunda do Infante foi uma das mais afectadas. No centro comercial Dolce Vita, que faz "fronteira" com a perigosa ribeira de S. João, segundo ouvi, tem três pisos de estacionamento completamente alagados.
Aqui um pormenor da força das águas nas ribeiras do Funchal.
Posted by Picasa

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

CIDADES E LUGARES. 574/LONDRES

Claustros de Westminster Abbey. Posted by Picasa

UMA INSUSTENTÁVEL PERSEGUIÇÃO NUNCA VISTA

Há muita história mal contada. Tal como em outros momentos, quando pedem provas aos críticos, assobiam para o lado, do jeito: não sei, mas que ele está envolvido está! Ora bolas...
Já não tenho idade para cair em ingenuidades. Ou melhor, deixo-me ir naquelas que me dão algum prazer na vida porque nem tudo deve ser levado muito a sério. Por isso, tento parar, escutar, analisar e, só por fim, posicionar-me. Na política, então, por uma questão de princípio, não deixo que as vestes partidárias violem a minha consciência.
E tudo isto a propósito do que tenho vindo a presenciar relativamente ao comportamento político, social, ético e moral do Primeiro-Ministro José Sócrates. É inaceitável o que desde há muito, através das manobras do bas-fond político, dos interesses e apetites pelo poder, lhe movem no sentido do seu afastamento. A perseguição é total e por todos os meios. E digo isto porque, mesmo considerando que a Justiça funciona menos bem no nosso País, quando o Senhor Procurador Geral da República não encontra, nas tais escutas, matéria relevante para o incriminar, sou levado a acreditar que só a alguns interessa continuar a esgravatar. Quando um Homem político, com as responsabilidades de primeiro-ministro, pressionado a todo o momento pela oposição e por muitos comentadores, surge, à hora dos telejornais e comunica ao País que nunca teve, não tem e não terá objectivos de controlo da comunicação social e que o que lhe estão a fazer constitui claríssimos ataques de carácter, sou levado, na compaginação das decisões dos Tribunais, a concordar com aquilo que ontem à noite transmitiu ao País, e a admitir que, de facto, muitos interesses políticos se movem no sentido do seu derrube político.
Aliás, quem está atento sabe que Portugal vive hoje numa total liberdade informativa e comunicativa e que não existem condicionamentos. Basta ver e ler tudo o que é publicado em jornais, revistas e pela própria televisão. Esta "face oculta", penso que não tem pernas para andar. Aliás, as últimas sondagens de opinião continuam a dar ao PS e ao Engº José Sócrates uma larga vantagem no sentido de voto. Percorro a imprensa internacional e não vejo ninguém preocupado com a "face oculta", pelo que, tratando-se, fundamentalmente, de uma questão política pela conquista do poder, eu diria que a oposição se organize e dispute o poder, com propostas, com seriedade e não através de processos que de todo não são legítimos. E já que se fala de comunicação social, que tal um olhar para o que se passa na Região da Madeira, sobretudo com o JM?
O País não segue um bom caminho. Temo que esta situação descambe. Torna-se necessária muita serenidade e bom senso para que Portugal consiga superar as dificuldades, recuperar no plano económico, prestigiar as instituições, gerar confiança e equilibrar as contas públicas. Essa deverá constituir uma tarefa de todos os portugueses, com propostas consistentes e não através de fait-divers que apenas servem para distrair as pessoas do que é mais importante. Tudo isto cansa e já cheira muito mal!
Mas atenção, darei a mão à palmatória se as minhas leituras de processo, as minhas convicções não forem correctas. Significará, certamente, que fui ingénuo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SACUDIR A ÁGUA DO CAPOTE EM MOMENTO DE AFLIÇÃO

A sensação que fica é que, afinal, aqui nunca houve nem Assembleia, nem governo, tampouco uma legião de secretarias, direcções, autarquias, chefias e mais chefias responsáveis pela situação a que se chegou.
As insuficiências da governação caem em catadupa. É a dívida aos bancos, aos fornecedores, é a situação de conflito que se alastra na saúde e na educação, é a agricultura cada vez mais pobre mas face à qual o secretário da respectiva pasta está sempre a falar de milhões para "os senhores agricultores", é o turismo em queda, é o secretário das finanças que, depois de vários anos de alertas sobre o PIB "virtual" da Madeira, pelo efeito do Centro Internacional de Negócios, vem agora atacar o governo da República como se algum passo tivesse o governo regional dado para contrariar tal situação (pelo contrário, foi o presidente do governo regional que se vangloriou, em Bruxelas, de ter tirado a Região do Objectivo 1, esquecendo-se com isso, que perdemos cerca de 500 milhões de transferências da UE), enfim, perante um quadro gravoso que está aos olhos de todos os que queiram ser isentos, o que sobressai é uma diária correria a tudo quanto é sítio para tentar demonstrar que a República é que é a culpada de todo o desvario regional. A sensação que fica é que, afinal, aqui nunca houve nem Assembleia, nem governo, tampouco uma legião de secretarias, direcções, autarquias, chefias e mais chefias responsáveis pela situação a que se chegou. Por isso, dou razão ao Deputado Dr. Carlos Pereira, a quem o secretáriuo das finanças, indirectamente, chama, hoje, de "iluminado", ao afirmar no seu artigo de opinião:
"(...) Vejamos. É apenas exagero meu ou Alberto João Jardim e os seus compinchas há anos que não governam à custa do argumento da Lei das Finanças Regionais (LFR)? É ficção minha ou o PSD para tudo o que de mal aconteceu às famílias e empresas madeirenses nos últimos anos respondeu (hipocritamente) com o argumento de pouco poder fazer por causa da famigerada LFR? É invenção minha ou Alberto João Jardim e o seu governo sempre que se deparava com obstáculos de governação e evidências de má gestão pública atirava com a desculpa das maldades da LFR? É pura demagogia da minha parte ou o PSD M respondeu a todas as criticas e a todas as propostas da oposição, no quadro parlamentar regional, com a "insuflada" LFR?
O PSD tem tido a habilidade perversa de sacudir a água do capote, atirando todas as responsabilidades para a maior patranha da política madeirense: a LFR".

Assino, por baixo!
Ilustração: Google Imagens.

CIDADES E LUGARES. 573/LONDRES

National Gallery, criado em 1824, é o principal museu de arte de Londres, com mais de 2.300 quadros em exposição permanente. Posted by Picasa

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

MERCADO E LIBERDADE

A política de apoio financeiro ao Jornal da Madeira justifica-se no quadro da lei da rolha. Entretanto, ofende a Democracia, a Liberdade e o funcionamento normal do mercado empresarial.
Nos últimos dias tenho mantido um animado debate de ideias com um visitante deste blogue, cujo nome não me é desconhecido, mas que não quero vincular as suas posições à pessoa que julgo se tratar. Mas isso não é minimamente importante. Chama-se Gustavo Jardim e tem sido com muito prazer, apesar de ter estado fora da Região, diariamente, manter aceso o debate. A questão tem girado em redor do Jornal da Madeira e de um post que publiquei no dia 16 do corrente. Em uma das minhas respostas aos comentários que aduzi, na sequência do meu interlocutor afirmar que a existência da linha editorial do JM ficava a se dever à necessidade de contrabalançar uma tendência de vários órgãos de comunicação social contrária à orientação do governo regional, sublinhei:
"O mercado, inclusive, o das ideias e dos posicionamentos político-partidários devem ser livres. O jornalismo deve assim funcionar na base de livres-pensadores, nunca através de um quadro de constrangimentos. A Democracia e a Liberdade constrói-se dessa maneira, na diversidade das opiniões, no rigor das análises e no respeito pelos outros. O que não significa que eu, enquanto cidadão, tenha de pagar para que exista essa pluralidade. Convenhamos que não faz sentido algum. O JM já pertenceu à Diocese e foi um jornal de prestígio. Vivia da publicidade e dos assinantes, nunca do erário público. Tinha a sua linha editorial distinta e marcada pela Igreja. E por lá passaram excelentes jornalistas. Eu sei do que falo, porque lá trabalhei no final dos anos 60 e, mais tarde, fui colaborador assíduo. Ora, tudo o que aqui se passa não tem nada a ver com Sócrates ou outro qualquer. Tem sim a ver com políticas locais numa perspectiva de poder absoluto".
Hoje, de regresso ao trabalho, reli o que apressadamente escrevi e, por isso, volto a dizer que considero uma vergonha o que se passa na Região no que concerne ao proteccionismo, por parte do governo, de um órgão de comunicação social em relação a outro. Deve ser caso único na Europa, aliás, a União Europeia não admite situações desta natureza. O JM tem de fazer pela vida, tem de conseguir os meios de subsistência tal como acontece com o Diário de Notícias. Quero lá saber da sua linha editorial, o que me preocupa é o facto dos nossos impostos alimentarem tal estrutura de natureza privada. Eu e milhares, certamente, não estão na disposição de pagar um jornal para fazer a propaganda oficial. Atenção: a propaganda oficial deste governo ou de qualquer outro. Prezo muito a Democracia e a Liberdade de opinião e o que se está a passar, há muitos anos, constitui uma clara manobra de condicionamento democrático e de despudorada propaganda própria de regimes políticos com vocação ditatorial. Não faz sentido algum a existência de órgão de comunicação social vocacionado para a gestão das mentes!
Inclusive, não colhe a peregrina ideia de que a maioria dos órgãos de comunicação social da Madeira têm as baterias apontadas ao governo regional. Não é verdade. Eu pelo menos não sinto isso. Há tanta coisa que ouço em múltiplas rádios, leio ou vejo e que, de acordo com as minhas convicções, entendo não serem correctas. Mas respeito. Tento é perceber se o jornalista foi honesto com a sua verdade. Porque verdades existem muitas sobre um mesmo assunto.
Tudo isto para dizer que o Director do Diário de Notícias da Madeira, o Jornalista Luís Calisto tem carradas de razão. O que o governo regional anda a fazer ao Diário faz parte de uma manobra que trai os mais elementares princípios e valores da Democracia, da Liberdade e das regras de mercado empresarial. É a lei da rolha que vem a caminho!
Ilustração: Google Imagens.