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sábado, 6 de março de 2010

ESCOLA A TEMPO INTEIRO... NÃO, OBRIGADO!

Quando um aluno entra na escola às 8h e sai às 20h, tem pai/mãe em média três horas por dia. Que geração estamos a criar?

Já escrevi e tenho assumido uma luta contra essa história da "Escola a Tempo Inteiro". Uma das maiores aberrações do sistema educativo. Repito, aqui, o que já assumi em um outro post que a Escola a Tempo Inteiro constitui a melhor resposta para um problema errado. Em síntese, aqui fica uma parte do meu texto, antes de destacar uma abalizada opinião do Dr. Daniel Sampaio:
(...) Tenho vindo a amadurecer este tema através de leituras de trabalhos de investigação académica e de diálogos com colegas de profissão. O poder político pode não gostar mas esta é uma questão sensível e que deveria entrar na ordem do dia. Simplesmente porque não basta acenar com algumas actividades escolares complementares, quando o que temos de fazer, em consciência, é colocar nos pratos da balança as vantagens e os inconvenientes da Escola a Tempo Inteiro. E desde há muito que muitos investigadores sublinham o rol de desvantagens relativamente aos benefícios. Ainda ontem li um trabalho assinado pelos investigadores Joaquim Marques (Instituto das Comunidades Educativas) e Rui Pedro Silva (Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho), sob o título "Pais preocupados com a escola a tempo inteiro e... novas oportunidades", no qual assumem: "(...) Além do tratamento indiscriminado que globalmente apresenta de educação e ensino, trata-se de um discurso falacioso que, sob a capa de crítica à instituição escolar, mais não faz do que veicular despudoradamente a lógica neoliberal e conservadora de responsabilização das vítimas pelos seus próprios insucessos.
Entre outras dimensões ou vectores de análise esquece que muitas das crianças e jovens que hoje integram o Sistema Escolar são, literalmente, filhos do insucesso e do abandono. Embora longe de perspectivas determinísticas ou fatalistas da análise social, queremos com isto dizer que basta resgatar para essa análise as estatísticas sobre o insucesso e o abandono escolares das últimas décadas para rapidamente se poder concluir que o que realmente está em causa é a injustiça social que tem grassado na sociedade portuguesa e, consequentemente, a desigualdade no acesso aos mais diversos meios indutores e facilitadores do desenvolvimento". E mais adiante, completando o raciocínio, os autores assumem: "(...) o dirigente máximo da Confederação Nacional das Associações de Pais advoga o alargamento do período de funcionamento das escolas da rede pública para as doze horas diárias. Pois, se somos defensores de uma escola pública que vá ao encontro das necessidades dos cidadãos, sejam eles pais trabalhadores com horários de trabalho alargados e desregulados, ou crianças provenientes de estratos sociais desfavorecidos que de outra forma não teriam acesso a uma refeição quente ou a aulas de Educação Musical, questionamos vivamente toda uma organização societal que tem reduzido a níveis muito preocupantes o tempo de convívio diário entre pais e filhos".
Entretanto, leio um artigo do Dr. Daniel Sampaio, subordinado ao título CONTRA A ESCOLA-ARMAZÉM.
"(...) não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar: perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirm
os sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional".
Daqui se infere que a ETI constitui um monumental erro e que os políticos com responsabilidades governativas antes deveriam estar preocupados com as medidas de reorganização social em simultâneo com a reorganização de todo o sistema educativo e implementação das necessárias políticas de família. Políticas com resultados a prazo que não se compadecem com orientações claramente reactivas. Aliás, o problema é muito vasto e merece, por isso mesmo, uma aprofundada reflexão. Só que não há coragem para a fazer nem massa crítica para dizer basta!
Ilustração: Google Imagens.

1 comentário:

Anónimo disse...

Opinião fácil.
Todos gostaríamos de que as crianças tivessem "pais" mais do que 3 horas por dia. Aí não era necessário escolas e tempo inteiro.
Mas nem todos são professores.
As escolas a tempo inteiro não são obrigatórios no tempo total do seu funcionamento. As familias que podem, devem reduzir o tempo passado pelas crianças na escola.
Reduzir o período de funcionamento da Escola não coloca os miúdos mais tempo com os pais. Eles não estão lá.
Daí que a escola a tempo inteiro é uma resposta no terreno a necessidades reais e actuais. Para as familias que precisam.
Em muitos casos, na Madeira, as ETIs tiraram meninos do trabalho rural, e outros das ruas onde deambulavam.
Apoiaram familias que trabalhavam.
Quem pode, "retira" as crianças mais cedo da Escola.
Mas nem todos (a maioria) tem horários como os dos professores.
Infelizmente, reconheçamos.
Daí que até que haja outra reorganização social do trabalho (deveria haver) a ETI é a resposta certa no sítio certo.
Não é preciso ser "escola" o tempo todo. Parte dele é enquadramento simples.
Opiniões destas, só de professores idealistas. Mesmo que bem intencionados, mas fora da realidade actual.