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sábado, 6 de março de 2010

"NÃO ME PEÇAM"

A falta de ordenamento do território é culpa do Salazar? Não. E foi lá em cima que aconteceram as piores desgraças.
Quando acontece uma qualquer desgraça, um incêndio com vítimas mortais, por exemplo, surge sempre alguém a dizer, num primeiro momento: "vamos abrir um rigoroso inquérito" e só depois nos pronunciaremos. O inquérito é a saída lógica e absolutamente defensável para averigurar e escalpelizar as causas. Ora, passadas duas semanas sobre os trágicos acontecimentos de 20 de Fevereiro, não há qualquer indicação pública, qualquer demonstração de interesse em averiguar, ao pormenor, as causas mais profundas desse dia que a todos nos consternou. Há um silêncio que significa, pelo menos para mim, a consciência a pesar. E esse inquérito seria necessário como princípio orientador, já aqui o referi, no sentido de um recomeço assente em bases consistentes. O que tenho escutado e lido, com particular atenção, são as intervenções isoladas de especialistas, de figuras de relevo académico que se têm pronunciado sobre essas causas. Do governo, moita!
É neste pressuposto que li com entusiasmo a opinião da Drª Violante Saramago Matos, publicada na edição de hoje do DN e que subscrevo.
"(...) Lá como cá, só que agora é diferente. Não há lápis, mas há o insulto aos que alertam para que não aconteça, a todos os que durante tantos anos, e tantas vezes, chamaram a atenção para as bombas-relógio que nasciam em todo o lado, aos 'canalhas'! ou, em versão mais astrológica, aos 'zandingas'! A 20 de Fevereiro, ocorreu um fenómeno natural - dramático e raro, mas natural. A nossa obrigação é não facilitar o caminho à tragédia, e muito menos potenciá-la com promessas de adro de igreja ou decisões de cabeça quente. Porque Sim, porque Eu mando, porque Eu quero!
Foi o Afonso Costa que andou a brincar com a Ribeira Brava e a de S. João, como se fossem berlindes jogados de um lado para o outro? Não. São obras de hoje. O trabalho deixado por Oudinot é muito bom. Mas não se evoque o nome dele para justificar as asneiras que se fizeram depois, na 'Madeira nova', da foz para a nascente, com a canalização, estreitamento ou mesmo bloqueio das linhas de água.
A falta de ordenamento das Zonas Altas do Funchal é culpa do Salazar? Não. E foi lá em cima que, no Funchal, se verificaram as maiores desgraças. A baixa tremeu, ficou alagada, as casas inundaram, o comércio tem prejuízos imensos. Mas foi acima da cota 200 que as pessoas morreram. Foi lá, onde o caos urbanístico adubou a desgraça. É lá que a intervenção é urgente, para não termos outras Ribeiras do Trapiche nem outros Laranjais! A Câmara nunca quis avançar para um Plano Integrado de Habitação, mas é lá que é preciso gastar dinheiro para realojar, para ordenar, para dar consistência. (...)"
Ilustração: Google Imagens.

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