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quarta-feira, 2 de junho de 2010

A POLÍTICA DO VALE TUDO


Enquanto, na República, andaram meses a tentar, em vão, esgravatar a vida e as conversas telefónicas do primeiro-ministro, aqui, senhores deputados, não é preciso gravar nada, está aos olhos de todos e é do conhecimento de todos que a comunicação social não é livre, sofre pressões e as empresas tendem a acumular prejuízos por não serem subservientes ao poder.


O assunto "Comunicação Social" regressou à Assembleia Legislativa, a propósito da "Constituição de uma comissão eventual de inquérito para análise, avaliação e responsabilização do actual quadro caracterizador da comunicação social na Região Autónoma da Madeira". A propósito assumi a seguinte posição:
Senhor Presidente
Senhoras e Senhores Deputados,
Todos, maioria e oposição, sabem o que se passa na comunicação social da Madeira. Alguns, obviamente, tentam esconder, porque os interesses partidários falam mais alto, mas lá no fundo têm consciência do controlo que é exercido pelos mais diversos e abstrusos meios. E o curioso de tudo isto é que aparecem a justificar o injustificável e com declarações políticas e públicas que, quem não está por dentro da engrenagem, é levado a acreditar que os seus autores são vítimas. Tecem a teia, manobram no silêncio, estruturam todas as cumplicidades e, depois, armam-se em vítimas. Todos, maioria e oposição, sabem que é assim.
Quando um director de um órgão de comunicação social se demite assumindo, claramente, que "(...) os efeitos desta escalada perversa foi preparada sem escrúpulos pelo dr. Jardim (…) que pouco ralado está “pelo drama do despedimento colectivo (…) um doloroso processo que tirou o trabalho a profissionais competentes e empenhados” e que ele “sem o menor sentimento perante madeirenses com responsabilidades familiares, tem continuado a incentivar uma guerra generalizada, com mentiras descaradas a fazer de argumentação aos seus sinistros desígnios” só pode ser interpretada como “uma manobra vil e crapulosa para tentar baralhar causas e efeitos. O dr. Jardim, sublinha o ex-director do Diário de Notícias, habituado a estracinhar adversários e até companheiros seus na praça pública, e a fazer bullying com a imprensa (ontem com uns, hoje com outros, amanhã com outros ainda), percebeu que nem todos os alvos estão talhados para apanhar e calar (...)".
Estas palavras não são nossas, têm autor e esse autor é o ex-director do Diário de Notícias. Todos leram e todos sabem que é assim, embora olhem para o lado ou, repetindo e repetindo, a páginas tantas convencem-se que é verdade.
Senhores Deputados, enquanto, na República, andaram meses a tentar, em vão, esgravatar a vida e as conversas telefónicas do primeiro-ministro, aqui, senhores deputados, não é preciso gravar nada, está aos olhos de todos e é do conhecimento de todos que a comunicação social não é livre, sofre pressões e as empresas tendem a acumular prejuízos por não serem subservientes ao poder.
Basta ler o último artigo de opinião do Presidente do Governo Regional sobre esta matéria. Está lá tudo, tintim-por-tintim, se dúvidas houvesse, a clarificação de uma estratégia que qualquer pessoa, politicamente bem formada, que não dependa da política para viver, jamais poderá aceitar.
A política não constitui uma actividade própria de malfeitores ou de máfias mesmo que sejam boazinhas. A política tem de ser nobre e séria, jogada com inteligência, é certo, mas com transparência e respeito por princípios básicos. A arbitrária utilização do poder, do dinheiro de todos para a consecução de objectivos políticos pessoais ou de grupo, é reles, é baixa, não tem sentido face aos valores da honestidade, da vida e da vivência democráticas. Na política não vale tudo, senhor presidente, senhoras e senhores deputados, o exercício da política deve ser norteado pelo total e irrepreensível respeito pelos governados. E é isso que não acontece. Vale tudo, vende-se a alma, desde que esse tudo corresponda à manutenção do poder ou de um simples lugar remunerado.
A comunicação social na Madeira apresenta um quadro que implica ser analisado, avaliado e responsabilizado. Há elementos, há factos, transmitidos ao Conselho da Autoridade da Concorrência e à Entidade Reguladora da Comunicação Social. Há, entre outros, o desabafo do ex-director do Diário de Notícias da Madeira. São públicos os dados da inadequação da atribuição da publicidade institucional. Conhecem-se os despedimentos e outros que vêm a caminho, relacionados com essa ausência de equidade. São públicas as pressões sobre os meios de comunicação social e sobre os jornalistas. Portanto, existe matéria mais do que suficiente para preocupar este primeiro órgão de governo próprio.
Não querer operacionalizar este inquérito apenas significará que há medo que se conheça todos ou uma parte dos contornos desta situação criada ao longo de vários anos. Esperamos que a dignidade desta Assembleia seja respeitada, pois ela emana do Povo e é o Povo que espera uma resposta.
Ilustração: Google Imagens.

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