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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O EQUÍVOCO: CHUMBOS POR DECRETO!



O mal foi não termos partido nos anos 80, pois hoje teríamos trinta anos de experiências acumuladas. Infelizmente, hoje, temos uma experiência repetida trinta vezes. Preferiram escolarizar e não educar, isto é, preferiram colocar os meninos na escola mas sem um objectivo claro. Complexificaram tudo, burocratizaram tudo, permitiram que a escola se tornasse naquilo que não deve ser e hoje há um medo de romper com as estruturas tradicionais que conduziram ao pântano em que nos encontramos, onde todos se queixam mas poucos querem dar um passo para romper com esse passado.


Quando, em nome do PS, apresentei o Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, tive o cuidado de colocar em evidência o seguinte:
"Artigo 59º
Plano de desenvolvimento do sistema educativo

"O Governo, no prazo de dois anos, deve elaborar e apresentar, para aprovação na Assembleia Legislativa da Madeira, um plano de desenvolvimento do sistema educativo, com um horizonte temporal de médio prazo e limite no ano de 2023, que assegure a realização do presente regime jurídico".
Ora bem, o que isto quer dizer é que as profundas mudanças a introduzir no sistema, que os parceiros sociais, os partidos políticos, os investigadores e os professores em geral há muito vêm denunciando, têm de seguir um princípio do desenvolvimento, o da "transformação graduada". As mudanças, porque são muito complexas, exigem tempo para se consolidarem. Isto não é propriamente tocar no interruptor e ter de imediato luz. Trata-se de um processo moroso, onde actuam múltiplas variáveis (formação e actualização de professores, infra-estruturas e respectiva tipologia, sentido organizacional da escola, currículos, programas, mentalidade, cultura, políticas de família e de organização social, desenvolvimento económico, combate à pobreza, enfim, o sistema não pode ser visto de forma isolada, enquanto Escola onde tudo começa e acaba. A Escola tem de conjugar-se com os outros sistemas, dando e recebendo, buscando fontes de alimentação permanentes que combatam a entropia.
Ora, isto só é possível com tempo, mas definindo, exactamente, onde estou, onde quero chegar e que passos tenho de dar para lá chegar. Uma coisa é certa: há uma urgência em partir e, portanto, de caminhar. Manter tudo como está ou provocar alguns acertos marginais, é certo que, no futuro, os resultados só poderão ser iguais aos de hoje ou piores.
É aqui que algumas pessoas caem no logro de algumas apreciações simplistas e cómodas. Não se chumba por decreto nem se passa de ano por decreto. O que está em causa, seja em uma estrutura de três ciclos de 4+2+3+3 anos ou de três ciclos de quatro anos, é o que lá se coloca dentro desses anos de aprendizagem, é a forma como se integra o conhecimento, como se definem as balizas das competências a adquirir em função dos currículos e programas, como se organiza a Escola, como se distribuem os alunos por classes, como se dinamiza o campo cultural determinante na aprendizagem de tudo o resto, como se caminha no sentido do rigor, da disciplina conquistada e da excelência como objectivo. Tudo isto, uma vez mais, repito, precisa de tempo para consolidar.
O mal foi não termos partido nos anos 80, pois hoje teríamos trinta anos de experiências acumuladas. Infelizmente, hoje, temos uma experiência repetida trinta vezes. Preferiram escolarizar e não educar, isto é, preferiram colocar os meninos na escola mas sem um objectivo claro. Complexificaram tudo, burocratizaram tudo, permitiram que a escola se tornasse naquilo que não deve ser e hoje há um medo de romper com as estruturas tradicionais que conduziram ao pântano em que nos encontramos, onde todos se queixam mas poucos querem dar um passo para romper com esse passado.
É por isso que não se decreta o chumbo ou o não chumbo. É por isso que não se pode arrastar, tipo cursor de computador, um qualquer paradigma educativo de sucesso e integrá-lo aqui, já em Outubro próximo. Não é isso e nunca foi isso que esteve e está em jogo. Quando apontei 2023 como primeira avaliação global, independentemente das avaliações parcelares, foi no sentido de dispormos de três ciclos de governo (doze anos) correspondentes a uma geração de formação (doze anos de escolaridade). Há quem não tivesse lido o Regime Jurídico do Sistema Educativo que o PS apresentou e que foi chumbado e que hoje teça considerações menos esclarecidas. É necessário ler esta proposta de diploma de forma vertical e horizontal. Perceber a sua estrutura e a sua articulação, sendo certo, como sempre o afirmei, que não se trata de um texto fechado, uma bíblia, um documento acabado. Pelo contrário, constitui, ainda, um ponto de partida, não de chegada.
E quanto às retenções, meus Caros leitores, não se trata de uma qualquer utopia da minha parte. Eu sei o que se faz lá por fora e sei o caminho que temos ainda para percorrer. Eu sei como outros garantiram o sucesso e sei como é que nós não saímos do insucesso. Eu folgo em ver, lá fora, centenas e centenas de grupos de jovens em visita a museus e outros locais, em uma educação básica contextualizada, e sei quão difícil é sair de uma das nossas escolas, com uma única turma, para uma aula que desperte da rotina, que desperte para o conhecimento e que torne a escola aliciante. Todos nós sabemos.
O problema que temos é de governação. O problema que temos é de um Secretário que ofende uma investigadora da Universidade da Madeira por ter concluído, na sua Tese de Doutoramento, aspectos que apanharam o governo descalço. O problema é de surdez e de cegueira política. E por aqui fico.
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Idealista disse...

Comece por fazer valer as suas ideias, junto aos seus correlegionários socialistas. Para que as apliquem onde mandam (no País...).
Se não tentar isso, se não conseguir isso, como quer ser levado a sério por cá, onde vai falando, sem ter o risco de as aplicar e de se "espalhar" ao comprido?

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
O meu Caro está enganado. Comece pelo princípio de que "com o eventual mal dos outros passo eu bem". Aplique ao Sistema Educativo regional e REGIONALIZADO.
Não podemos levar a vida a empurrar para os outros responsabilidades que são NOSSAS.
Há muita, mas mesmo muita coisa que depende de NÓS e não da Constituição da República ou de um qualquer Ministro da Educação.
Eu não me espalho quem se espalha é a REGIÃO e os resultados são a prova disso. É uma questão de opção política e não de teimosia, surdez e cegueira política.

Idealista disse...

Essa é a sua posição cómoda, de falar sem ter que fazer... e de dizer que o que fazem por lá (os solialistas, onde mandam) não lhe interessa nada. Porque sabe (se não sabe ainda é mais grave pois fala de cátedra sem saber o que propõe e isso seria incompetência) que o que propõe é demagogia e de impossível aplicação. A prova está no facto dos socialistas continentais desdenharem as suas ideias. Daí que não tem saída. Ou começa por aí (convencendo os seus correlegionários da bondade e executabilidade das suas ideias) ou vai-lhe pesar sempre a falta de sustentação do seu Regime. Até lá, terá sempre à perna o que lhe disse o deputado Jorge Moreira sobre o que custa o seu Regime: zero (nas suas contas) mas bem mais de mil milhões na realidade (em 10 anos) nas contas dele. Não contestadas por si, segundo constou...

André Escórcio disse...

Não lhe agradeço o comentário mas publico-o. Sabe, o tempo é mestre. E sabe, ainda mais, ganha-se tolerância e sobretudo comiseração sobre a cegueira e a ofensa.
Se quiser discutir este assunto com elevação e com EDUCAÇÃO estou totalmente disponível. Disponibilizo-me, até, para um encontro, um almoço, um café, o que quiser, para conversarmos sobre este assunto. Sabe quem eu sou, ao contrário da minha pessoa que estou a lidar com um pseudónimo, julgo eu, ainda para mais, parodoxalmente, com um IDEALISTA. E eu é que sou! Identifique-se, aceite o convite, sem pedras nas mãos, sem a farda política e venha, abertamente, discutir esta problemática que não é minha, é da MADEIRA que muito gosto.
Fico à espera.