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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

TANTO QUE HÁ FAZER PELO SISTEMA EDUCATIVO!


Enquanto na Finlândia uma escola secundária tem uma média de 400 a 500 alunos, por aqui, a aposta continua no quadro de super-estruturas organizativas com centenas de professores e de alunos...
Um erro estratégico muito grave.

Há muitos anos que acompanho as posições do Professor Licínio Lima, da Universidade do Minho. E com elas, genericamente, concordo. São posições lúcidas, de quem estou os problemas, de quem tem uma visão racional e sustentada do Sistema Educativo. Li, no jornal da FENPROF, uma extensa entrevista na qual aborda várias questões, entre as quais, o problema da autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino vs a mentalidade centralizadora. Concretamente, o que por aqui se passa, onde nada, rigorosamente nada, passa sem a benção da Secretaria Regional da Educação. Como em tempos o Professor sublinhou, a autonomia não vai além de "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós".
Dessa entrevista deixo aqui, para reflexão, algumas interessantes passagens:
"Esse centralismo, além de não criar soluções, envolve também uma faceta autoritária?
L.L. – Sem dúvida. Como os problemas mais típicos e complexos da "escola de massas" exigem soluções políticas e organizacionais diversas e contextualizadas, única forma de responder positivamente à crescente diversidade das escolas públicas e dos seus alunos, o centralismo revela-se inconsequente em termos educativos e pedagógicos, assumindo dimensões autoritárias, próprias de uma oligarquia que, por definição, é incapaz de corrigir os seus erros e de se descentrar das suas lógicas de controlo. À ponta da baioneta, as escolas são transformadas em repartições.
A questão da centralização é mesmo um grave problema para a escola pública?...
L.L. – Certamente. A forte centralização da administração educativa é o principal problema que atinge hoje a Escola Pública em Portugal e ou damos passos importantes na democratização do governo das escolas ou não resolveremos nenhum dos outros problemas.
Em Portugal descobrimos uma teoria nova, um contributo que damos para a Humanidade: nas escolas pequenas os alunos não aprendem. E assim, enquanto na Finlândia uma escola secundária tem uma média de 400 a 500 alunos, no nosso país a administração quer fundir escolas e criar super-estruturas organizativas com centenas de professores e milhares de alunos…
E a autonomia? Continua na gaveta… É a tal “terra prometida”, eternamente adiada?
L. L. - Apesar da recente retórica em torno da "autonomia da escola", uma promessa insistentemente repetida mas eternamente adiada em termos minimamente substantivos, tem-se assistido a fenómenos de recentralização que asseguram o protagonismo insular das equipas governativas e respectivos aparelhos administrativos. (...) Ao mesmo tempo que os discursos autonómicos se generalizam, sem consequências visíveis, emerge, pelo contrário, um maior protagonismo do governo, seja através da tradicional produção normativa e hiper-regulamentadora, seja por intermédio de novos dispositivos de governamentalização da administração central, das direcções regionais e, sobretudo, das escolas. A este propósito, a criação do conselho das escolas tem-se revelado, até agora, mais um elo de ligação entre o governo e as escolas, garantindo a centralidade do primeiro, do que um fórum de expressão das segundas e um locus de concertação e produção de políticas participadas".
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Finlandes disse...

Era bom que clarifique que o Centralismo, a Centralidade e a (não) Autonomia anotadas e questionadas na entrevista são referentes ao poder e governo socialista de Lisboa.
Você pode extrapolar se entender, mas deixar no ar a ideia que o Douto Doutor se refere à Madeira é tendencioso.
A entrevista refere-se à actuação e pratica socialista.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Quem acompanha este espaço de comunicação sabe, reconhece, situa, contextualiza, que tudo quanto escrevo em matéria de Educação é sobre o Sistema Educativo da Madeira.
Ao transcrever as posições do Professor Licínio Lima, apenas estou a querer dizer que sendo aquela a voz de um sério investigador, por um lado, que se coadunam com as minhas posições, por outro, colocam em causa o sistema que nós temos na Madeira onde tudo se encontra centralizado.
Ele fala sobre a autonomia das escolas e isso tanto diz respeito às escolas do Minho como às do Corvo.
É óbvio, meu Caro.