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sábado, 18 de setembro de 2010

PORQUE HOJE É SÁBADO


Com a presença de Vinicius de Moraes... Esta entrevista, onde nos é dado a perceber que tudo funciona regularmente, para mim, deixou a sensação angustiante... porque hoje é Sábado, existe a perspectiva do Domingo, véspera de mais um início de ano escolar.

Conheço, há muitos anos, o Dr. Francisco Fernandes, actualmente, Secretário Regional de Educação. Respeito o seu comportamento fechado, de poucas falas, o que contrasta com o meu, mais extraovertido. Eu digo o que penso e espero o contraponto; ele não é dado ao debate e refugia-se. Respeito-o. O que não significa estar de acordo com as suas políticas em matéria educativa. Estamos em campos diametralmente opostos. Ora, a entrevista que acabo de ler no DN, conduzida pela Jornalista Marta Caires, constitui a entrevista da fuga aos problemas reais. É a entrevista fechada, sem alma, de braços caídos perante a grandeza da EDUCAÇÃO. É a entrevista que não traz esperança, não rompe com o passado, mantém o erros, foge da realidade de um sistema em colapso financeiro, como o próprio DN salienta em uma outra peça, é a entrevista de pontapé-para-a-frente, que não equaciona a complexa situação da ligação da escola às famílias, a desresponsabilização destas, a pobreza, a dupla tributação que leva ao agravamento das despesas das famílias com a escola (direito de todos), o problema da indisciplina, a questão curricular e programática, o problema do insucesso e do abandono, o desconforto sentido pelos professores, a "tralha" e a burocracia que invadiram a escola e que está a matar o essencial das aprendizagens, e quando a Jornalista coloca o dedo na ferida, isto é, quando o questiona sobre a falta de financiamento e o desperdício em novos estádios, remete-se ao silêncio, preferiu não responder. E o Secretário, ainda assim, fala de "luxos"! Onde estão eles? Na escola, certamente que não.
É uma entrevista de Sábado, que ao longo da sua leitura me levou a cantarolar o Dia da Criação de Vinicius de Moraes:

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

(...)

É a entrevista que nos diz, exactamente, que tudo funciona regularmente, as escolas abertas, os alunos lá estão, os professores a correr de sala em sala, os livros de ponto regularmente assinados, os "namorados de mãos entrelaçadas", as salas de professores repletas de pessoas "vazias" porque o sistema assim obriga, PORQUE HOJE É SÁBADO! Por isso, o Secretário, neste Sábado, diz-nos que tudo funciona regularmente. Não poderia ter sido escolhido melhor dia. Mas o Vinicius, lá para o final, também salienta que "Há a sensação angustiante... Porque hoje é sábado".
Esta entrevista, onde nos é dado a perceber que tudo funciona regularmente, para mim, deixou a sensação angustiante... porque hoje é Sábado, existe a perspectiva do Domingo, véspera de mais um início de ano escolar.
Ilustração: Google Imagens.

DIA DA CRIAÇÃO

6 comentários:

AmigoDaJustiça disse...

Mas que treta...
O Secretário respondeu ao que lhe foi perguntado pela jornalista (a menos daquela questão estúpida e por encomenda sobre o estádio dos Barreiros, que nada vinha a propósito do arranque do ano escolar).
Não respondeu, porque não lhe foi questionado, às perguntas que você gostaria. A essas responde no lugar devido, quando lhas fizer. Na Assembleia, nos momentos devidos (Orçamento, Prigrama de Governo) e quando as entender fazer em detrimento do tempo que costuma gastar sempre, em mais um pouco de demagogia à volta do seu impossível estatuto das batas, totalmente renegado pelo PS e pela sua Ministra que nem se digna a lhe dar um mínimo de atenção.
Porque havemos nós, madeirenses, de lhe dar essa atenção?

André Escórcio disse...

Não lhe agradeço (mas publico) o seu comentário, pela forma desagradável como se posiciona.
Ora bem, como "AmigoDaJustiça", desculpar-me-á, mas julgo que deveria integrar-se nos grandes problemas que afectam a Escola de hoje e, por extensão a Educação que estamos a proporcionar.
Sabe, TEMOS MAIS DIREITOS DO QUE JUSTIÇA SOCIAL e aí começam os problemas. O que disse e repito, embora por outras palavras, é que não vale a pena "meter a cabeça na areia". Rejeito ter essa atitude.
Por isso, se quiser discutir o problema da Educação com ELEVAÇÃO, obviamente que estou disponível. Aqui ou em qualquer outro espaço. Convido-o, até, para um almoço, um distendido café onde, com seriedade e honestidade e não com os olhos do Partido, possamos analisar e debater a Educação. Se, porventura é Deputado, apresente um projecto e vamos lá discutí-lo.
Em qualquer das circunstâncias, atenção, não negue, venha para o espaço do debate, sem pseudónimos. Eu, como convidante, pago o almoço.
Mais. Somos uma Região Autónoma e é aqui que devemos tratar da nossa vidinha, não estando à espera que outros a resolvam.

AmigoDaJustiça disse...

Você é sempre o ofendido...
Leia com outros olhos o que escreveu sobre o Secretário e a sua entrevista. E logo verá que o comentário feito atrás, ajusta-se.
Em almoços e jantares não se discute publicamente. Apenas particularmente. Não tem sentido você publicar um post e depois desejar levar a discussão sobre o que escreve para um almoço ou jantar. Longe do forum de discussão...
Este meio é público e não pretende apenas discutir ou provocar discussões particulares.
Daí que é aqui que se comenta (elogio a sua posição de publicação e não censura dos comentarios neste seu espaço) as suas ideias (que expõe).
Quanto ao anonimato é totalmente irrelevante para a discussão de matérias. Ou melhor, até será benéfico pois deixa de haver constrangimentos da parte de quem comenta.
São as vantagens deste meio de confronto de ideias.

André Escórcio disse...

Pois bem, eu compreendo o anonimato porque reflecte a terra onde vivemos. Tem razão e faz muito bem. Sinceramente, eu nunca precisei do anonimato, sempre enfrentei as situações e, por isso, sinto-me livre. Mas respeito o seu posicionamento de não querer discutir os dossiês olhos nos olhos e cara na cara. Com elegância, obviamente.
Não retiro uma palavra ao que escrevi neste texto sobre a entrevista do Secretário, porque as questões essenciais não foram equacionadas. Por exemplo: as preocupantes dívidas resultantes dos exercícios anteriores, fornecedores desesperados com facturas não liquidadas, conselhos executivos a contar cêntimos para tentarem cumprir o “projecto educativo”, estabelecimentos de ensino com alunos a mais, turmas com excessivo número de alunos, currículos e programas desadequados, resultados académicos, infelizmente, muito pouco agradáveis, falta de rigor e ausência de ambição, planeamento de iniciativas que desvirtuam e não favorecem o essencial das aprendizagens e das competências, falsa autonomia das escolas, ausência na promoção de uma cultura geral de base, professores atraiçoados e desmotivados em função de um sistema sem referências (tomamos em atenção as posições dos parceiros sociais), inspecção preocupada com a acta e não com o processo, muita indisciplina e alguma violência, genérico desinteresse dos pais e encarregados de educação, etc. etc.
Ele tem o dever de esclarecer estas questões. Em algumas posso não concordar com o esclarecimento, com outras poderei estar de acordo. Não é fugindo ou respondendo por escrito que se equaciona. É enfrentado a realidade!
São temas que estão na ordem do dia, que se ouve, que se discute, que alimentam as mesas das salas de professores, que constam de muita literatura sobre a problemárica da Educação.
Não podendo confrontar em diálogo pessoal, então diga lá o que pensa destas situações. É disto que se está a falar e é disto que desenha o nosso futuro colectivo.

Omesmo disse...

Sr. deputado, veja lá: não gostou da entrevista porque o Secretário respondeu às perguntas da jornalista e não às que gostaria de fazer...
Se quer respostas, pergunte. No local devido, na ALR. Foi o que escrevi. Não há histórico que, nessas alturas o secretário não lhe tenha respondido às questões que formulou. Só que, muitas vezes, em vez de aproveitar o seu tempo (pequeno, como a dimensão do seu grupo parlamentar) para perguntar, acaba por falar demais (parece que gosta de se ouvir a si próprio) , mesmo que ninguém o ouça.

André Escórcio disse...

O tipo de comentário parece-me desagradável e pouco propício ao debate sereno. Mas nesse aspecto nada posso fazer.
Sabe, nunca gostei de me ouvir e, então, na ALRAM, pela limitação do tempo disponível (normalmente 2' para formular uma pergunta)a economia das palavras está sempre presente. Depois, mesmo no debate do Orçamento e Plano, praticamente a única vez que o Secretário lá vai, não responde ao deputado, pergunta a pergunta, mas sim em bloco, isto é, responde a todos de uma só vez.
Ora, se isto se chama debate, por favor... talvez se chame monólogo.
E só mais uma coisa: sabe quantas vezes foi o Secretário chamado à Assembleia a pedido dos Deputados e quantas vezes foi recusado?
Que me lembre, se a memória não me atraiçoa, nos últimos três anos, apenas lá foi uma vez para falar do Estatuto da Carreira Docente.
Como é que pode haver debate e esclarecimento?
Meu caro "Omesmo", desculpar-me-á mas esse tipo de argumentação é sempre "o mesmo". Para mim já não pega.