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domingo, 31 de outubro de 2010

POBREZA = DESIGUALDADE


Não basta, por isso, dizer que "todo o Homem é meu irmão" (Paulo VI), que se torna necessário "uma caridade organizada no âmbito da fé viva", no quadro  da formação do "coração para uma alma verdadeiramente cristã" (Dom António Carrilho), simplesmente porque, esse é um campo minado, feito de palavras bonitas, bíblicas, mas que não rompe com o círculo vicioso da pobreza. Quem tem de estar com "o coração aberto aos Homens" são os políticos, os que deveriam governar ao invés de se governarem.

Extensas mesas com pacotes
com géneros alimentícios.
O formato, hoje, é diferente,
mas a "Caridade" a mesma.
O caminho não pode ser este.
Não gosto de utilizar a palavra CARIDADE. Sei que é uma "virtude" cristã que se enquadra no "amar o próximo como a si mesmo". Só que essa palavra acaba por arrastar uma forma de actuação política que não me agrada. Nunca me agradou, desde os tempos que, animado pelo sentimento de solidariedade, no âmbito de uma tal Conferência de S. Vicente de Paulo, julgo que assim se chamava, ou, ainda mais cedo, na adolescência, através da antiga "Mocidade Portuguesa", um grupo de jovens no qual me enquadrava, pedíamos por aí, fazíamos uma série de cabazes de compras e íamos, por furnas e casebres, entregar a "esmola", o apoio possível. Por vezes, pedíamos aos armazéns grossistas, distribuíamos em sacos de papel os produtos recolhidos e enchíamos o cabaz dos pobres. Estávamos nos anos 60, há quarenta e muitos anos! Sei, portanto, o que é a pobreza mas a palavra caridade nunca me encaixou, primeiro, nos meus ouvidos, depois, nos meus conceitos. O sentimento que nutria é que era possível acabar com aquela dor, de adultos e crianças, mas através de outros processos. E sobretudo, interrogava-me, sobre as razões da miséria. No fundo a resposta que encontrava e que também ma davam, era que eram pobres, e ponto final! Portanto, quais e através de que meios, sinceramente, não me lembro de, por mim próprio ou através de outras pessoas, ter compreendido as respostas. Do que me recordo, é que me fazia muita confusão eu ter o mínimo e os outros nada. Recordo-me, também, no final dessa década, ter escrevinhado e publicado no Jornal da Madeira, então liderado pelo Sociólogo Paquete de Oliveira, um "pobre" texto sobre a pobreza. Tenho esse recorte algures nos meus arquivos. 
Distribui, em conjunto
com os meus amigos da altura,
muitos cabazes,
que atenuaram a privação,
mas nada resolveram
no plano estrutural.
Ora a caridade sempre teve para mim o significado de esmola quando o ser Humano deve ser portador de uma dignidade e de direitos que não podem nem devem confundir-se com a ESMOLA. Utopia, não, realidade, sim. A pobreza existe por uma questão de desigualdade na distribuição da riqueza, porque as políticas dos diversos sectores não convergem no sentido de garantir a todos a igualdade à partida para a vida. Escolariza-se, isto é, colocam-se os meninos na escola, porque a Constituição da República assim obriga, mas não se cuida das diferenças existentes de acordo com as origens económicas, sociais e culturais. A marca da desigualdade começa a aí. Começa, exactamente, pelo DIREITO À EDUCAÇÃO, não pelo direito à escolarização. A ausência de políticas acabam por tomar por igual aquilo que é muito diferente. Quem governa tende a confundir o acesso com o sucesso. O acesso, esse está garantido, o sucesso não! Para que haja sucesso os ritmos de aprendizagem têm de ser respeitados, as condições económicas, melhoradas, o acompanhamento na saúde, garantido, e, para que tudo isto seja harmonioso, torna-se absolutamente necessário que a escola não seja, teimosamente, aquilo que hoje continua a ser. Mais, para que haja sucesso, tal obriga a que a sociedade, concretamente, o mundo laboral se organize em pressupostos distintos daqueles que hoje a enformam.
Quando falo da escola estou a falar da sua gratuitidade, do direito à alimentação, do direito aos transportes, tudo isto, distante daquela PORT(C)ARIA que constitui outra miserável migalha. Mas estou a falar, também, dos métodos pedagógicos, dos programas ajustados, dos apoios complementares desde o início, das condições de estudo em casa, da ligação à família, do número de alunos por turma e, entre outros aspectos, da própria formação específica dos professores. Por aí garante-se, em conjunto com as mudanças sociais, o esbatimento da desigualdade e, naturalmente, as condições para o sucesso. 
O Povo é bombo
desta festa de
Homens de coração
limitado!
Não basta, por isso, dizer que "todo o Homem é meu irmão" (Paulo VI), que se torna necessário "uma caridade organizada no âmbito da fé viva", no quadro  da formação do "coração para uma alma verdadeiramente cristã" (Dom António Carrilho), simplesmente porque, esse é um campo minado, feito de palavras bonitas, bíblicas, mas que não rompe com o círculo vicioso da pobreza. Quem tem de estar com "o coração aberto aos Homens" são os políticos, os que deveriam governar ao invés de se governarem. Esses é que têm em mãos a possibilidade de acabar com a peregrina ideia de que a pobreza é uma fatalidade. Quando não é!
A pobreza é constituída por dois elementos, salientou o Professor Alfredo Bruto da Costa, numa recente conferência. A PRIVAÇÃO (de recursos) e a FALTA DE RECURSOS (causa). A privação tem a ver com a satisfação das necessidades básicas o que envolve várias frentes de "batalha" simultâneas; a falta de recursos liga-se com a ausência de fontes de rendimento, acesso a bens e serviços (educação e saúde) e outros, onde se inclui o poder da rede de relações sociais. Por isso, dizia o Professor, temos de dar a cana e o peixe, em simultâneo, colocando o nosso poder  ao serviço dos que não têm poder.
Ilustração: fotos próprias (1 e 2) e Google Imagens.

sábado, 30 de outubro de 2010

"DERROCADA DO CIMENTO" - UM NOTÁVEL ARTIGO DO JORNALISTA LUÍS CALISTO


Generaliza-se a derrocada do jardineirismo cimentado. Desponta à evidência o rotundo fracasso de políticas sociais, económicas e financeiras loucas, sem ponta de sustentação. Centros cívicos desproporcionais penam inactivos. Paga o povo. Estádios e pavilhões em freguesias a dez minutos umas das outras - paga o povo. Paga o povo porque alguém já recebeu. E a factura mais dolorosa ainda vem a caminho. Quem se lembra de inaugurações pomposas em parques industriais lançados para pasto de cabras? Paga o povo.

O Jornalista Luís Calisto
fica ligado à História,
pela denúncia inteligente
e perspicaz
"Desaba o betão levantado na 'Madeira nova'. Mas a argamassa mental resiste. Se as falências de empresas ocorressem com cerimónia fúnebre, a 'Madeira nova' andaria todos os dias de luto e os cangalheiros refulgiriam como novos-ricos da crise. Já longe dos empreendimentos megalómanos inaugurados com muita espetada, americano e discursos a esmagar os 'inimigos do desenvolvimento', chefe e sagitários do regime deveriam comparecer agora ao funeral de cada 'obra feita'. Com obrigação de carpir o conhecido discurso verborreico no elogio fúnebre à 'obra' finada.
O eleiçoeirismo de 30 anos só poderia levar ao velório que serve de transição para um período de nojo financeiro capaz de deprimir várias gerações do futuro.

O cimento! O cimento da 'Madeira Nova' e das suas minas gerais ruirá. Mais difícil, neste 'calar da desgraça', será resgatar a dignidade popular da argamassa de incultura e medo. Porém, "mesmo na noite mais triste, em tempo de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre ..."

O significado desta pose
com charuto
face ao desastre da sua política
Por enterrar apodrecem entretanto projectos da 'Madeira nova' que não atingiram o estatuto de 'obra feita', tendo-se extinto antes da gloriosa inauguração. Hotéis inaugurados a preceito, com discursos politiqueiros, caem hoje nas mãos dos bancos credores. Rua das Pretas, Rua dos Tanoeiros, Carreira, tantas outras de passado comercial glorioso, desenham a carvão uma capital fantasmagórica de montras forradas a papel de jornal crestado. Máquinas e camiões pastam nos estaleiros desactivados e em baldios. Construções inacabadas de cavername exposto jazem morbidamente em plena zona hoteleira.
O apregoado esplendor desenvolvimentista dá lugar a um montão de vigas e jactâncias encarquilhadas. A marina lá para oeste. Fóruns megalómanos como o de Machico onde funciona talvez um cabeleireiro. Ou o da Boaventura-Santa Cruz, com meia dúzia de automóveis nos parques e, que se veja, um ou dois cafés às moscas. Paga o povo".
NOTA
Excertos de um artigo de opinião que pode ser lido aqui.
Ilustração: Google Imagens.


UMA ENTREVISTA QUE O SECRETÁRIO DOS ASSUNTOS SOCIAIS DEVERIA LER



"Os nossos programas de luta contra a pobreza mantêm os padrões de desigualdade. Sei que é assim porque os ricos não reagem. Quando o Presidente Obama quis alterar o padrão de desigualdade, nos EUA, os ricos reagiram. Os nossos ricos não são tocados. Nunca viu nenhum a criticar".

A voz autorizada
A edição 921, de Outubro a 03 de Novembro, da revista VISÃO, inclui uma importante entrevista com o Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa. Trata-se de um relevante olhar sobre a pobreza e as suas causas que, com carácter obrigatório deveria o Secretário dos Assuntos Sociais ler e reler. Por ali, amudurecendo o contexto das palavras, perceberia que "se temos gente pobre empregada, isto é um problema económico, não social". E quando o jornalista coloca o problema da instabilidade social que pode vir a caminho, ele é muito claro: "(...) não sei onde aquilo vai parar (referia-se às manifestações em França). O que se está a passar não tem nada a ver com a idade da reforma. É uma forma de protesto relativo a coisas diversas. Só cada um sabe porque está a protestar". E relativamente a nós, portugueses... "(...) os pobres de longa duração entraram numa linha de conformismo (...) mas os que acabaram de cair na pobreza podem ter uma reacção que os conduza à revolta (...) não será uma surpresa se vierem a existir episódios de alguma violência". E continua: "(...) no limite pode afectar a Democracia. A liberdade para além de ser um direito básico e universal, implica a existência de condições para o seu exercício". Um Homem com fome não é um Homem livre, disse Amartya Sen, Nobel da Economia em 1998.
Mais adiante: "Os nossos programas de luta contra a pobreza mantêm os padrões de desigualdade. Reproduzem-nos. Não quebram ciclo nenhum. Sei que é assim porque os ricos não reagem. Não são contra os programas de luta contra a pobreza. Quando o Presidente Obama quis alterar o padrão de desigualdade, nos EUA, os ricos reagiram. Os nossos ricos não são tocados. Nunca viu nenhum a criticar". E questiona: "Porque é que o poder de decisão tem de estar sempre do lado do capital? Sublinha o jornalista, é o modelo capitalista da economia... "Exactamente. O capitalismo selvagem. O que está em causa é o próprio sistema económico".
Uma entrevista para ler com muita atenção. O governo regional AUTÓNOMO está a léguas deste posicionamento HUMANISTA, científico e de política social. Por isso, na Assembleia, o Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa, para além de académico é Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, ligada à Igreja Católica, foi enxovalhado na Assembleia Legislativa da Madeira, pelo PSD, apelidado de comunista, gonçalvista e de outras coisas desprestigiantes. É a ignorância altifalante!
Ilustração: Google Imagens.

DESLIZES


Há uma cartilha que é rotineiramente utilizada, e que cada vez é mais sonora quanto maior é o sentimento que o barco se afunda. É um pouco isto que leva as pessoas a perderem o discernimento.

Com o navio a afundar-se
estão a perder o discernimento
Não conheço, pessoalmente, o professor Walter Correia, Presidente da Câmara do Porto Moniz. Sei que foi Presidente da Escola Básica e Secundária do Porto Moniz e um professor sério e trabalhador. É a imagem que tenho. Lamento, por isso, que em plena reunião pública da Câmara Municipal do Porto Moniz tenha afirmado: "(...) Cada um vai ter que se "desemerdar" porque ele (Sócrates) está-se a "cagar". Quero acreditar que foi um momento infeliz e faço-o em defesa de um colega de profissão.
Não deixo de dizer, porém, que isto pode traduzir duas coisas: um acto de aflição política, jogando para os outros as responsabilidades que são de cá. Se há crise nas autarquias deveria o professor e autarca responsabilizar o Dr. Alberto João Jardim por desrespeitar o sector autárquico não cumprindo com um princípio fundamental e determinante da governação: o da SUBSIDIARIEDADE. Desde logo isso. Depois, um outro princípio, o da PRIORIDADE ESTRUTURAL. E só mais um, o princípio da TRANSFORMAÇÃO GRADUADA. São princípios estruturantes do desenvolvimento que a governação regional nunca entendeu. O problema não está em Lisboa, em mais uns euros nas transferências, está, fundamentalmente, aqui, na capacidade de gerir e administrar a capacidade financeira, não dando passos superiores à perna. Aquilo que não se pode fazer em quatro anos, faz-se em oito, mas de forma sustentável a todos os níveis. O problema parece-me ser esse e não do Sócrates ou de qualquer outro que chefie o governo da República.
Mas aquela afirmação pode eventualmente explicar uma outra coisa, a influência, o contágio da forma como o seu chefe político habitualmente se comporta. Há uma cartilha que é rotineiramente utilizada, e que cada vez é mais sonora quanto maior é o sentimento que o barco se afunda. É um pouco isto que leva as pessoas a perderem o discernimento. Na Assembleia Legislativa é a mesma coisa, como tenho vindo a escrever. Por tudo e por nada lá surge o insulto, a ofensa gratuita, não de todos, felizmente, mas de um ou outro, cuja cor é muito viva nas convicções do quero, posso e mando. Ora, se o "chefe" tantas vezes demonstra desequilíbrio na forma do relacionamento com os seus opositores políticos, os restantes tendem a sentirem-se legitimados para o mesmo.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

UMA ENTIDADE INDEPENDENTE QUE ESTUDE A POBREZA NA MADEIRA


Ao contrário do que diz o Senhor Secretário dos Assuntos Sociais... Faz sentido haver um estudo sobre a POBREZA. É uma mistificação barata dizer que ele existe!

"NÃO VAMOS BRINCAR À CARIDADEZINHA"


Só a cantina não resolve o problema da pobreza. Resolve a privação mas não resolve a falta de recursos, no sentido da conquista da autonomia. As causas da pobreza estão na sociedade e não nos pobres, assumiu o Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa. Por isso, não brinquemos à caridadezinha!

"OS POBRES SÃO POBRES PORQUE OS RICOS SÃO RICOS"


BASTA. Olhem para a degradação dos princípios e dos valores, olhem para os suicídios, para os assaltos e roubos, para os assassinatos, olhem para a fome de tudo e não empurrem para longe os problemas que são daqui e aqui têm de ser geridos e resolvidos. BASTA. Párem com essa história de andar a pedir dinheiro à República para depois esbanjá-lo daquela maneira, em obras vergonhosas, sem sentido de oportunidade e que apenas servem a estupidificação de uns e a "glória" de outros.

A inversão das prioridades
É intolerável, inaceitável, contraproducente, obsceno e sei lá que mais, enterrar € 45.000.000,00 no Estádio dos Barreiros, quando temos milhares de pessoas a passar muito mal. BASTA de atitudes miseráveis, cretinas, sem qualquer ponta de humanismo, de amor ao próximo, de respeito pelas prioridades e de sentido de justiça. Desculpem-me os leitores desta página, até porque não gosto de escrever com palavras de tom acintoso, mas BASTA, vão-se embora, vão pregar para outra freguesia, deixem de mentir ao povo, larguem a droga do poder, remetam-se ao silêncio, não massacrem mais as pessoas, apenas por quererem, como lapas, manter o controlo total desta terra. BASTA. Olhem para os pobres, olhem para o que aí vai de desgraça social, olhem para a miséria, olhem para o lado e vejam o ambiente familiar, social, económico, financeiro e cultural em que esta Região mergulhou. BASTA. Olhem para a degradação dos princípios e dos valores, olhem para os suicídios, para os assaltos e roubos, para os assassinatos, olhem para a fome de tudo e não empurrem para longe os problemas que são daqui e aqui têm de ser geridos e resolvidos. BASTA. Párem com essa história de andar a pedir dinheiro à República para depois esbanjá-lo daquela maneira, em obras vergonhosas, sem sentido de oportunidade e que apenas servem a estupidificação de uns e a "glória" de outros. O limite da tolerância, parece-me óbvio, está a ser atingido, face ao descaramento, à sistemática perseguição a quem pensa diferente, à castração do pensamento de todos aqueles que, enquadrados no círculo vicioso da pobreza, não têm armas, nem a do voto, para "combater" este estado de situação reles, sem nível e esgotado.

"Muita coisa não se faz
por culpa política"
Ontem, assisti a uma conferência do Doutor Alfredo Bruto da Costa que aqui veio abordar as questões da pobreza. O Secretário dos Assuntos Sociais não assistiu. Deveria ter lá estado, toda a manhã para ouvir quem sabe e para ser confrontado com a verdade nua e crua dos números: no último estudo nacional, entre 1995 e 2000, nesse intervalo de seis anos, o investigador concluiu que 80% dos madeirenses passaram dois ou mais anos por uma situação de pobreza e que 30% viviam em pobreza persistente. Mas ele não quis ouvir, saiu da sala após cumprido o protocolo de abertura do seminário. Regressou ao seu gabinete e, hoje, leio que, para ele, "não faz sentido" qualquer estudo local sobre a pobreza. Como é que se pode actuar se não se conhece a realidade? Bastará, apenas, pago pela República, somar aqueles que são beneficiários dos vários apoios sociais? Não basta. E como foi sublinhado pelo orador, "a causa da pobreza não está nos pobres", está nas mudanças sociais que são de natureza política. "Tudo o que seja combate à pobreza mantendo o padrão da desigualdade" não tem sentido, pois apenas a mantém uma parte da consciência tranquila. Mais, ainda, a solução não está na CARIDADE. É uma palavra que não gosto. Respeito e muita consideração nutro pelas mais diversas instituições que combatem a pobreza, de dia e de noite, respeito o notável trabalho das paróquias que matam a fome e esbatem casos muito sérios de carências várias, mas entendo também que não é pela via da caridade que os problemas se resolvem. É pela via política, com deliberações que "dêem o peixe mas também a cana", em simultâneo, como ontem salientou o Professor Alfredo Bruto da Costa. A "caridade" deve ser o fim da linha, o ataque às margens, para quem mergulhou tão fundo que experimenta dificuldades em se erguer. A caridade não resolve, a prazo, problema algum, apenas se destina a esbater os erros dos políticos. O governo tem de se convencer que a "armadilha da pobreza é a armadilha das desigualdades" e, portanto, na esteira do que disse o Professor, não se pode cair no círculo vicioso de que "os pobres são pobres porque são pobres", antes "os pobres são pobres porque os ricos são ricos".
Por tudo isto, lamento que o Secretário dos Assuntos Sociais continue a varrer, para debaixo do tapete, tão importante assunto, porque a manutenção do poder está em primeiro lugar. O pobre e a fome de muita coisa, podem esperar.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

UM SECRETÁRIO DO CONTRA, ASSIM A EDUCAÇÃO NÃO VAI LONGE!



E quanto à comunicação social, obviamente que percebi, gostaria de não ter oposição, que todos lhe dissesem ámen, que todos fossem subservientes, mas isso não é possível nos tempos de hoje, onde o sistema educativo, tal como outros, está em permanente observação. É a vida, meu Caro. Sinceramente, preferia um Secretário que não fosse do CONTRA, mas de PROJECTO portador de futuro.


Quem, ao longo de todo o tempo
não tem estado
ao lado dos docentes?
É assim que se enganam as pessoas. O Secretário da Educação utilizou o Jornal da Madeira para a sua propaganda. O tema, naturalmente, o sistema educativo. Todos os que abordam a Educação nada dela percebem, de políticos a sindicalistas. Tudo ignorantes. É o que temos na governação, dirão outros em contraponto! Pareceu-me um artigo de opinião carregado de desespero, de cabeça perdida, de não saber para que lado se há-de voltar, de como justificar o caos que está, alíás, aos olhos de todos, desde os resultados ao financiamento das escolas. Infelizmente, ao contrário de, serenamente, analisar a situação, resolveu partir para o ataque ao mesmo tempo que tentou passar por "amiguinho" dos professores. Vamos a isto.
Sublinhou: "não contem comigo para estar CONTRA as escolas da Madeira e do Porto Santo, contra os professores que aqui trabalham e contra os respectivos alunos! Vou estar sempre do seu lado, CONTRA todos os que os quiserem denegrir, seja com opiniões, "estudos", rankings ou com peças e programas jornalísticos destinados a dar palco às vozes do costume". Lindo!, digo eu. Então não foi este Secretário que deixou os professores durante cinco anos sem progredirem na carreira? Não foi este Secretário que ditou o Bom administrativo que não valeu para nada? Não foi este Secretário que andou com uma Comissão para estudar as questões da avaliação de desempenho e que até hoje não resultou em nada? Não foi este Secretário que passou ao lado de 4000 asssinaturas de educadores e professores que solicitaram a contagem integral do tempo de serviço, tal como aconteceu, nos Açores, e com sucesso? Não foi este Secretário que fez do Estatuto da Carreira Docente uma manta de retalhos? Afinal, quem é que tem estado contra a classe docente? Os professores que reflectem, os sindicatos que avisam ou a própria Secretaria Regional da Educação? 
Passemos ao segundo parágrafo daquele longo texto que nada explica: "Sou CONTRA, como sempre fui, da simplificação das escolas a um mero lugar numa lista enviesada, feita com critérios sempre diversos, reduzindo o saber e as competências dos alunos a um exame anual que vale apenas 30% da nota final e que, no ensino básico, se resume a duas disciplinas". Esta não. Esta não é para um governante. Começo a perceber que a Madeira tem um Secretário que é do CONTRA!
É preciso, politicamente, acordar
para que os alunos
não durmam.
Repito, pela enésima vez, os exames são finais e nacionais, são corrigidos com o mínimo de discrepância entre correctores, portanto, constituem um INDICADOR, apenas isso, porque situa as nossas posições no contexto nacional. Temos de olhar para eles, repito, como um INDICADOR que, em conjunto com outros, não podem nem devem ser escamoteados. Pobres, Senhor Secretário, existem aqui aos milhares, como lá existem às centenas de milhar. E se as realidades são distintas (não as explicitou) a pergunta que se coloca é a de saber o que é que o seu governo tem feito no sentido de combater a pobreza, as assimetrias sociais e culturais.
Depois, partiu para outra, para o ataque político que, confesso, para mim, escorreu-me como a água nas penas de um pato. Diz o secretário: "sou CONTRA os que, pensando que com isso granjeiam adeptos políticos, optam por esgrimir argumentos que mais não visam que destruir a Escola da Madeira, diminuir os seus professores e menorizar os seus alunos, os mesmos que, quando tiveram oportunidade de o provar, pouco ou nada fizeram pela Escola que agora a atacam e acusam de todos os males". Novamente, lindo, eu diria, uma tirada espectacular mas inconsequente. Numa "batalha naval, aquele jogo que muito se joga na adolescência (jogava eu), eu diria que os tiros do Secretário foram para a água. Ao contrário de se mostrar empenhado em perceber as razões, bom, os outros é que são burros! Um ataquezito directo às minhas posições, como se me incomodasse as suas balelas.
É preciso saber ler
a pauta da Educação.
A música será outra.
Fique o douto Secretário a saber que sempre fui professor e só, excepcionalmente, político. Sei do que falo porque, humildemente, estudo (não tenho jeito para escrever livros para crianças, por isso, gabo-lhe essa veia e, provavelmente a isso devia dedicar-se) e porque nunca ocupei lugares públicos (por isso, nunca pude provar) que não estivessem directamente ligados à minha função profissional. É por isso que tenho uma carta de louvor da minha escola, quando de lá saí, pelo trabalho realizado (dos Colegas por quem nutro uma amizade e carinho especial) e, no desporto, não vou aqui enumerar o trabalho e os resultados obtidos. Aliás, nunca gostei de falar do passado porque a vida continua. Mas nesse campo deve o governo se ter enganado quando me entregou a medalha de "Mérito Desportivo", no regresso dos Jogos Olímpicos de Seoul/Coreia do Sul.
Mas vamos mais adiante:"sou CONTRA um sistema de ensino alternativo que vise eliminar as retenções, que quer os alunos de "bibe" até ao secundário, que pugne pelo fim do apoio ao ensino privado, que defende rácios irrealistas na composição das turmas e na dimensão das escolas e no planeamento da rede, que defenda uma acção social sem critério de rendimento, que queira destruir a Escola a Tempo Inteiro, que pretenda provocar a falência das instituições provadas e o desemprego dos docentes e não-docentes lá empregados, que seja absolutamente irresponsável do ponto de vista da gestão dos recursos públicos".
Reconheço que há muita carga,
isto é muitos problemas
para solucionar. 
Daí o desequilíbrio. 
Ora bem, aqui o secretário (intencionalmente com letra minúscula) bate no fundo. Politicamente, os tiros não foram para a água, mas de pólvora seca, daqueles que fazem ruído mas são do tipo "timex", não adiantam nem atrasam. No plano educativo não sabe o que diz, pois nega a Autonomia da Madeira, nega um sistema que combata o insucesso escolar através da intervenção precoce, ignora, completamente, que o número de alunos por escola e por turma está indissociavelmente ligado ao sucesso/insucesso, ignora, totalmente, o que grandes investigadores dizem, negativamente, sobre a Escola a Tempo Inteiro (não sou eu que o digo - tive esse cuidado) e sobre a organização do mundo do trabalho, não percebe que o problema da Acção Social Educativa não pode assentar nas migalhas que dão aos alunos, mas numa política de família e social de outra dimensão para que a escola não assuma o papel de remediadora social. Desconhece e, politicamente, não percebe que "não há professores a mais, mas sistema educativo a menos. Não aceita que a Escola Pública está em primeiro lugar e que a Escola Privada, que tem a sua razão de ser, deve ser vista como supletiva, como uma alternativa da livre escolha dos pais. Ah, quanto à história do "bibe", queria, certamente, dizer bata escolar, aí, pergunte a muitos professores e leia os pareceres que existem sobre essa matéria. Vá às escolas privadas que tanto defende e pergunte porque é que as usam ou, então, porque exigem uma farda! Pergunte. Mas entrar na pequenez da "bata" face à dimensão do problema chamado EDUCAÇÃO, apenas significa que não percebeu o significado do "Regime Jurídico do Sistema Educativo da Região Autónoma da Madeira" que apresentei na Assembleia e que o PSD chumbou. Não percebeu ou não quis perceber. Um dia, nele vão pegar (como é costume), pintam-no e apresentam-no como seu.
Mas regressemos aos "ranking's", pelos quais não tenho qualquer fixação obsessiva. Olho-os como um INDICADORQue os há para todos os gostos, senhor Secretário? Faça como eu, por uma questão de aferição, sigo apenas um único protocolo, sempre o mesmo jornal, por que os critérios de análise são os mesmos. Não me ponho a perder tempo se, aqui, a escola A ficou em 150º lugar e, no outro jornal, em 160º. Para além das variações não serem significativas, o que deve estar em causa não é posição em si mesma, mas o grau de grandeza. Alias, vamos ser claros, se a Madeira apresentasse 15 escolas entre as 100 primeiras, o discurso do Secretário seria de empolgamento, de satisfação pelo trabalho realizado, de aplauso e esmagamento do que a oposição tem vindo a equacionar. O problema é que não é isso que acontecesse. Infelizmente.
Todos podem ver o jogo político
que está por detrás da palavra.
Salienta, ainda, o secretário: "Defenderei sempre o rigor, a exigência, o trabalho, a disciplina, o estudo, a investigação, a aferição, os exames, mesmo que isso nos custe descer uns lugares nas famigeradas tabelas com que, anualmente, a oposição e a comunicação social se entretêm dias a fio". Pois, aqui já dá a entender que, lá no fundo, os "ranking's" dizem-lhe alguma coisa. Mas não é sobre isso que quero escrever. Não passa de uma boa intenção essa do rigor, da exigência, etc., só que os resultados não testemunham isso. A indisciplina existe e por todo o lado com os professores a se queixarem, a falta de estudo é gritante, o sentido de investigação, até junto dos professores, foi negado pelo PSD, quando propuz um paradigma de avaliação de desempenho. E quanto à comunicação social, obviamente que percebi, gostaria de não ter oposição, que todos lhe dissesem amén, que todos fossem subservientes, mas isso não é possível nos tempos de hoje, onde o sistema educativo, tal como outros, está em permanente observação. É a vida, meu Caro.
Da minha parte estarei sempre atento e estou sempre disposto para confrontar os seus posicionamentos com os meus. Sem verdades absolutas, apenas como contributo pelo que vou lendo e aprendendo com quem sabe mais do que eu. Não me refugiu atrás de uma secretária, senhor Secretário! Sinceramente, preferia um Secretário que não fosse do CONTRA, mas de projecto portador de futuro, capaz de assumir os problemas e de negociar as soluções. A política é isso mesmo, a arte do possível da negociação a caminho do óptimo social.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

VISITA À MADEIRA DO CANDIDATO MANUEL ALEGRE


Referindo-se à Região Autónoma da Madeira: “Comigo na Presidência, não haverá complacência no cumprimento das regras democráticas”.
 

Manuel Alegre, candidato à Presidência da República, produziu, ontem, no Funchal, um discurso como há muito não se ouvia por estas bandas. Na abertura da sua sede de campanha, o candidato da esquerda, caracterizou o Mundo, esta Europa de valores decadentes, os princípios e os valores do Humanismo, as causas e consequências da deriva económica e financeira determinada pelos "senhores do Mundo". Numa longa e bem estruturada intervenção, terminou sublinhando:  “comigo na Presidência, não haverá complacência no cumprimento das regras democráticas” e exigirei o “respeito pelo debate” e “pelos direitos da oposição”. Finalmente, estou certo, que a sua vitória garantirá um novo ciclo de respeito pelos princípios do exercício da Democracia na Região Autónoma da Madeira. 

ESTATUTO DO IDOSO: O NÃO DEBATE


Os reclamados € 60,00 como complemento de pensão dos pensionistas ficou pelo caminho, as receitas não aviadas, idem, os lares e toda a protecção necessária ao idoso ficou para mais tarde, o problema dos transportes, logo se verá, enfim, tudo numa lógica bem desenhada pelo PSD e denunciada pelo Deputado Bernardo Martins: "do que este governo gosta é que todos olhem para cima, para que o governo os possa olhar de cima para baixo".


Continua, infelizmente,
o desrespeito pelos pobres.
Duas horas é quanto valeu o "debate" sobre o Estatuto do Idoso proposto pelo PCP. Uma temática de enorme importância completamente desvalorizada pela maioria PSD. Os magros tempos disponibilizados à oposição (16'/PS, 6' CDS e PCP, 3' BE/MPT/PND) contra 63' para o PSD, é evidente que não possibilitou e, em circunstância alguma, possibilitaria um verdadeiro e profundo debate sobre esta importante temática. Uma desvalorização intencional e esperada na esteira daquele que é o normal comportamento da maioria relativamente às questões sociais.
Que ninguém ali venha falar de fragilidades políticas e da imensa legião de pobres. Saltam a terreiro, com argumentos falaciosos, ficam crispados, possessos, como se os factos não falassem por si, como se não existissem milhares a passar mal, como se não existisse fome, aliás, assumida pelas várias instituições sobretudo ligadas à Igreja, como se não existissem centenas nos hospitais no quadro das designadas altas problemáticas, como se não fossem às centenas aqueles que deixam nas prateleiras das farmácias medicamentos prescritos e que tanta falta lhes fazem, como se não existissem centenas que não saem das suas residências, enfim, nada disto conta e tudo serve para a negação do debate que deveria buscar soluções para os dramas que por aí andam. Neste não debate tudo serviu para ocultar os problemas, para minimizá-los e reduzi-los a zero. É o que dá 63' destinados a uma maioria e uma redução substancial dos tempos aos partidos da oposição. 
A este propósito, ainda na última Conferência de Representantes dos Grupos Parlamentares, fez sentir a necessidade da disponibilização de um tempo mínimo aos partidos da oposição, capaz de possibiltar o debate, a pergunta e a resposta esclarecedora. Capaz de possibilitar o debate vivo. Nessa reunião defendi aquilo que me pareceu mais correcto, dizendo mais, que não me preocupava que o PSD dispusesse de 63' ou de duas horas (dispõe de 33 deputados), mas que, a partir de um determinado tempo o debate ficava, claramente, inviabilizado. Disse mais, que 3' para um partido, significava a impossibilidade de defesa de um ponto de vista e que isso deturpava o sentido do debate. A resposta, por parte do Senhor Deputado Jaime Ramos (PSD) veio célere e não vou aqui divulgá-la face às ofensas ditas.   
Uma síntese perfeita
relativamente à posição
do governo em matéria
de política do idoso
 Este pseudo-debate fez-se para que tudo continue na mesma. Os reclamados € 60,00 como complemento de pensão dos pensionistas ficou pelo caminho, as receitas não aviadas, idem, os lares e toda a protecção necessária ao idoso ficou para mais tarde, o problema dos transportes, logo se verá, enfim, tudo numa lógica bem desenhada pelo PSD e denunciada pelo Deputado Bernardo Martins: "do que este governo gosta é que todos olhem para cima, para que o governo os possa olhar de cima para baixo". Tudo isto na véspera do "Dia Mundial do Idoso" e da falta de respeito pelo Parlamento, por parte do Secretário Regional dos Assuntos Sociais, que deveria estar presente nesta sessão e apresentar medidas para esta área de intervenção social. Certamente, faltou, porque nada tem para dizer e para prometer à população idosa. 
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O ESPECTÁCULO DO PODER


Importante é a Constituição, acabar com o Tribunal Constitucional, a Entidade Reguladora da Comunicação Social, a Comissão Nacional de Eleições, acabar com tudo aquilo que incomoda, porque controlos, escrutínios, fiscalização, transparência, tudo isso, são coisas de gente que se quer meter na nossa vidinha.

Dizem que sou o Presidente!
Não haverá, por aí, um equívoco?
Nada é connosco, tudo depende da República. Autonomia, órgãos de governo próprio, o que é isso? Ah, sim, é aquela coisa que serve para criar uma imensidade de institutos, empresas, sociedades, assessores, pois, é isso! Ah, e também para distribuir dinheiro, com e sem concurso, para alimentar a clientela, os amigos dos amigos, pois, é isso, esquecia-me. Ah! Mais uma coisa, para manter a estupidificação, baixos níveis culturais, incapacidade de reacção e muita injecção provocadora de alucinação e anestesia colectiva. É isso!
Assembleia, governo, mas isso serve para responsabilizar? Não, dependemos do Terreiro do Paço. Aqui, com 250.000 habitantes, abrigamo-nos na antiga Junta Geral. Será? Sintra dispõe de 445.800 habitantes, tem um presidente e cinco vereadores que trabalham para o dobro dos que aqui vivem.
Autonomia, órgãos de governo próprio, Estatuto, responsabilidades, dirá o Presidente do Governo, tirem-me isso da frente. Desamparem-me a loja. O “Minas Gerais” ou a Marina do Lugar de Baixo, por exemplo, aquilo não tem nada a ver com planeamento e com estudos científicos, agora sim, vamos pagar, branquear e sacudir as responsabilidades, enquanto não passa a bebedeira do Povo, digo eu.
Importante é a Constituição, acabar com o Tribunal Constitucional, a Entidade Reguladora da Comunicação Social, a Comissão Nacional de Eleições, acabar com tudo aquilo que incomoda, porque controlos, escrutínios, fiscalização, transparência, tudo isso, são coisas de gente que se quer meter na nossa vidinha.
E se começassem a governar?
NOTA
Artigo de Opinião, da minha autoria, publicado na edição de hoje do DN.
Ilustração: Google Imagens

O ESTADO DA EDUCAÇÃO


Em 31 escolas, 26 estão situadas entre os lugares 360º e 1228º, com catorze acima do milésimo lugar entre 1295 estabelecimentos de ensino básico do País. Mais, em 25 escolas a média foi inferior ao nível 3, e em apenas 6 a média foi igual o superior a 3. Nenhuma atingiu o nível 4 e muito menos o 5. A isto chama-se, desde logo, o desastre da política regional de Educação.

A Educação está num caos.
São os resultados que provam.
O Relatório sobre o Estado da Educação não adianta nada que não soubéssemos. Apenas confirma, entre outros aspectos, os piores resultados do País na retenção, no abandono, na qualificação profissional, aos quais se junta o péssimo aproveitamento escolar global dos que se submetem aos exames de 9º e 12º ano.
O problema é que perante os factos o governo continua a ignorar e a enjeitar responsabilidades. Esqueçamos as preocupantes posições do Ensino Secundário e fixemo-nos no Básico, como indicador, sobretudo porque se trata de idades estruturantes do futuro. E o que verificamos nos “ranking’s” nacionais? Em 31 escolas, 26 estão situadas entre os lugares 360º e 1228º, com catorze acima do milésimo lugar entre 1295 estabelecimentos de ensino básico do País. Mais, em 25 escolas a média foi inferior ao nível 3, e em apenas 6 a média foi igual o superior a 3. Nenhuma atingiu o nível 4 e muito menos o 5. A isto chama-se, desde logo, o desastre da política regional de Educação.
Mas nada disto é estranho. O Presidente do Governo, há tempos, disse para uma criança que ficou retida: não te importes, eu também perdi e hoje sou presidente. Grande exemplo! Há poucos dias afirmou não estar preocupado com a posição da Madeira no "ranking das escolas", uma vez que o mesmo foi elaborado com base em “critérios artificiais”. Ora, um responsável político dizer uma enormidade destas deveria ser "demitido". Pelo Povo, claro. E por três razões: primeiro, porque está a atentar contra o futuro da Madeira e da sua população; segundo, porque deveria mostrar-se preocupado e pedir responsabilidades ao Secretário e ao Director Regional; terceiro, porque transmite a ideia de desconhecimento sobre a forma como decorrem as avaliações dos exame nacionais.
A Madeira precisa de uma
"Revolução Integrada"
no sector da Educação.
Atenta contra o futuro da Madeira porque sucessivas gerações mal preparadas não poderão responder, eficazmente, aos desafios deste novo mundo onde se exigem qualificações de excelência. Depois, ao não pedir responsabilidades aos seus directos responsáveis pelo sector, denuncia que quer uma população ignorante onde possa semear a sua política e continuar a controlar o povo. Finalmente, o Presidente do Governo desconhece que os exames são iguais do Minho ao Corvo, os programas iguais e as avaliações obedecem a critérios rigorosos, com os correctores sujeitos a formação própria no sentido de não se verificarem discrepâncias significativas entre correctores. Portanto, os “ranking’s”, como indicador, têm de ser considerados e não desvalorizados.
Pode parecer perverso mas é a realidade que se esconde para além do folclore político: o presidente do governo não quer pessoas educadas, confiantes e de livre pensamento, porque essas ficam fora de controlo. A manutenção de uma certa ignorância faz parte deste sistema e do seu projecto. O analfabetismo, no conceito do nosso tempo, é a primeira causa do nosso atraso e a justificação para 36 anos de poder absoluto. Uma população sobre a qual tivesse recaído uma honesta política educativa, não andava por aí anestesiada, pobre e dependente. Pelo contrário, era empreendedora e construtora do seu futuro, com reflexos na economia regional e não se deixaria enredar nesta manhosa política.
A pergunta: quais os princípios
e valores desta Escola?
O governo sabe que o sistema educativo não se confina ao parque infra-estrutural e aos rituais das inaugurações. Tão importante quanto as condições de trabalho é o que se operacionaliza no interior do espaço escolar: como é que a escola está organizada, que valores defende, que projecto educativo dispõe, que autonomia administrativa, gestionária e pedagógica desfruta, que orçamento tem, que formação contínua oferece, qual o rigor e exigência nas aprendizagens, que apoio social concede no sentido do esbatimento das assimetrias, enfim, há uma panóplia de factores que são determinantes no sucesso. E neste aspecto, trinta e seis anos depois, face a estes resultados, temos de convir que, politicamente, o sistema falhou. Um sistema que apresenta estes resultados é, obviamente, um sistema condenado. E quem, com responsabilidades governativas, intencionalmente, não actua no âmago dos problemas, comete um crime social e um crime contra a sua terra.
É por isso que se torna necessário tornar a Educação numa bandeira. Porque em matéria de política educativa não se pode navegar à vista. É em torno dessa bandeira que são necessários consensos, abertura ao diálogo, diria mais, um pacto político para a educação. A manter-se a teimosia, outros resultados não serão possíveis, pois quem aposta na manutenção dos erros do passado não pode aspirar a outros resultados que não sejam os desse passado. A compaginação dos “ranking’s” dos sucessivos anos transmite-nos essa imagem.
A cura está a montante. 
Uma família pobre não pode
pensar numa Educação 
a 20 anos! 

A cura para o Sistema Educativo não se resolve com a política do penso-rápido. O sistema precisa de uma revolução que passa pelo número de alunos por escola e por turma, pela completa autonomia que respeite a identidade da Escola, pela diferenciação pedagógica, pela escola atractiva, pela cultura de desempenho e não pela classificação de desempenho, pela desburocratização, pela ausência de medo e de subserviência das direcções executivas e professores em geral, pela retirada da tralha que enche a escola de iniciativas em detrimento do essencial, pela investimento imediato ao primeiro sinal de não assimilação dos conteúdos, pelo respeito dos ritmos de aprendizagem, pela formação dos docentes numa perspectiva cultural e pela sua capacidade de saber dizer não, pelos currículos e programas, pelas atitudes que valorizem a dignidade pública da função docente, pelas políticas de família muito sérias e exigentes, pela escola enquanto espaço de respeito, de disciplina, de rigor e de caminho para a excelência. A cura está num ataque à organização social e às políticas económicas geradoras de emprego. Uma família pobre não pode pensar numa educação a 20 anos, pensa ao mês e à semana. As desigualdades reflectem-se na escola e é por isso que isto implica uma “revolução integrada” projectada para resultados que só poderão ser sensíveis quinze a vinte anos depois. Mas há que partir.
Porque as velhas formas de actuar, os velhos formatos não conseguem dar resposta aos desafios do futuro, porque, como salientou Alvin Toffler, os analfabetos do século XXI não são aqueles que não sabem ler nem escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender. Esta escola não está preparada para isso. Está preparada para dar sempre a mesma resposta mesmo que os quadros sejam distintos.
É preciso retirar a Educação
da zona negra.
E isso só épossível
com um "pacto Educativo"
Aliás, perante a vida que é sempre diferente, esta escola está condenada porque assenta no modelo absoluto, tipo pronto-a-vestir, quando precisamos de alta-costura e por medida. A escola está a seguir o modelo do governo, o modelo da verdade absoluta e da arrogância absoluta, compaginada com uma Secretaria Regional de Educação e Cultura(?), incapaz de perceber que um sistema quando se fecha sobre si próprio é gerador de galopante entropia. Este sistema não comunica, é avesso a dar e a receber, não permite adaptações conceptuais e, por isso mesmo, está a morrer como prova a incapacidade para resolver os problemas do dia-a-dia.
Concluo, por isso, que o Estado da Educação na Região é de falência. E já estamos a pagar muito caro pela ausência de investimento.
NOTA
A edição de hoje do DN reporta-se a esta situação. Ler aqui.
Ilustração: Google Imagens.

COM QUE ENTÃO... FACILITISMOS?


Hoje, o Secretário da Educação afirma que a Região não entrou por políticas facilitistas, do tipo "todos passam". Mas, então, onde estão as políticas de exigência, quando os exames são nacionais, os critérios de avaliação são aferidos ao pormenor e os resultados não são satisfatórios? Mas, então, onde se enquadra essa história dos facilitismos, quando a Madeira regista as piores taxas de abandono? Que razões se escondem por detrás desta triste realidade? Oh Senhor Secretário, vamos lá deixar de fitas. O problema é grave, muito grave e testemunha o mais completo caos do sistema.

É uma política de fumo
esta da Secretaria de Educação 
Ontem, no Telejornal, ouvi as declarações do Secretário Regional de Educação, a propósito da muito complexa situação do Sistema Educativo da Madeira. A solo, claro, lá foi dizendo, com ar que transmitia incómodo, que importante era aguardar por um estudo de evolução das escolas da Madeira relativamente aos últimos dez anos. Só lhe faltou dizer que o relatório do Conselho Nacional de Educação era “redutor” e “enviesado” tal como foi salientado a propósito dos "ranking's" das escolas. Mas qual estudo, um daqueles que branqueie a realidade? Pago por todos nós para dizer aquilo que o governo quer ouvir?
Hoje, afirma, no DN, que a Região não entrou por políticas facilitistas, do tipo "todos passam". Mas, então, onde estão as políticas de exigência, quando os exames são nacionais e os critérios de avaliação são aferidos ao pormenor? Mas, então, onde se enquadra essa história dos facilitismos, quando a Madeira regista as piores taxas de abandono? Que razões se escondem por detrás desta triste realidade? 
Oh Senhor Secretário, vamos lá deixar de fitas. O problema é grave, muito grave e testemunha o mais completo caos do sistema. Podem queixar-se do Continente, podem atirar para lá todas as culpas, a verdade, porém, é que a Educação está regionalizada e desfruta de total controlo das políticas educativas. Se os resultados não satisfazem a culpa política tem responsáveis, pelo que não tem sentido sacudirem a água do capote das responsabilidades. A atitude mais correcta, politicamente elevada, seria a de enfrentar os problemas de frente, aceitar a realidade e partir para soluções adequadas.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ASSIM, NÃO É FÁCIL... MAS A LUTA TEM DE CONTINUAR


Ela pode ter uma participação, mesmo que mínima, no capital social da empresa, mas daí autorizar a sua distribuição no interior do seu espaço, penso que o descaramento vai longe demais. Não é aceitável nem razoável, simplesmente porque ali está uma questão de política e não uma questão de transmissão da Palavra.

Há de facto situações
que não cheiram nada bem!
 Ontem, vivi uma experiência interessante que proporciona reflexão sobre as desproporcionalidade dos meios para fazer chegar às pessoas a mensagem político-partidária. O PS elaborou um "flyer" com as dimensões de 6x21 centímetros, subordinado ao título "Autonomia ao Serviço do Povo" e com sete pontos essenciais que se subordinam à seguinte posição: "Os salários dos funcionários públicos só baixam na Madeira se o governo regional do PSD quiser". Várias equipas foram distribuídas pela cidade e, discretamente, à saída das missas de Domingo, o documento foi distribuído.
Ora bem, à saída da celebração, invariavelmente, na esmagadora maioria dos locais por onde passei, as pessoas saíam com o Jornal da Madeira. O tal órgão de comunicação social, pago com o dinheiro dos contribuintes, distribuído "de borla" e que funciona como um "boletim da paróquia" agora em formato grande. Antes, era o panfleto elaborado na antiga "máquina de escrever", impresso no velho "stencil", manual ou eléctrico, depois, na fotocopiadora e, agora, em formato tablóide. E a Igreja Católica, infelizmente, permite isto. A Diocese pode ter uma participação, mesmo que mínima, no capital social da empresa, mas daí autorizar a sua distribuição no interior do seu espaço, penso que o descaramento vai longe demais. Não é aceitável nem razoável, simplesmente porque ali está uma questão de política e não uma questão de transmissão da Palavra. Mas, enfim, na Madeira, é assim, vale tudo pela manutenção do poder. Lamento, porque não é esta a dimensão da Democracia onde gostaria de viver.
Ilustração: Google Imagens.

UMA REGIÃO DOENTE


E num quadro destes, como é possível reflectir se quem tem o poder vê o descalabro mas nega ajuda? Como alguém citou mas cujo nome não me recordo, "povo pequeno, problema grande".

Não é fácil iluminar a consciência
quando os governantes
amam o poder
A Jornalista Ana Luísa Correia, do DN, na edição de hoje do DN faz uma síntese que dá para reflectir profundamente: "(...) A Saúde está doente, a Educação constipada, a cidade inundada, os jovens perdidos na vida e a fugir dela… É preciso reflectir seriamente, não ter medo de pedir ajuda seja em que caso for. Já lá foi o tempo de baixar os braços e esperar que outro, sempre outro, tome a atitude que achamos ser a necessária e a mais correcta. Mudar o ciclo de más notícias depende de todos e de cada um de nós".
Esta a síntese que pode ser estendida por vários sectores da governação. Não só na Saúde, onde, ainda hoje, o Enfº Juan Carvalho destaca que, no hospital, "às vezes temos de esperar 24 horas para iniciar uma terapêutica", ou, na Educação, que se encontra completamente destroçada, como é público e notório através dos resultados académicos e do relatório do Conselho Nacional de Educação. Há outros sectores em falência, o caso do Turismo, principal sector da economia da Madeira, o sector empresarial privado a braços com falências e concomitante desemprego, todo o sector público empresarial que se encontra tecnicamente falido com mais de mil milhões "as costas", a pobreza que paira na agricultura, apesar da propaganda do Secretário Regional, o sector social com pobres que dão para encher seis estádios do Marítimo, enfim, estamos por um fio. E com uma tendência para a situação agravar-se, questiono-me, como serão os próximos tempos, quando a Economia não está diversificada e quando não foram preparadas a tempo as condições estruturais necessárias no sentido de uma capacidade de resposta preventiva para tempos de dificuldade.
Em qualquer que seja o sentido da escrita, a Jornalista tem razão quando sublinha que "é preciso reflectir seriamente, não ter medo de pedir ajuda seja em que caso for". O problema é que esta gente política que governa não tem no seu "ADN" político essa marca que define, como disse o Dr. Mário Soares, o político com "P" maiúsculo. São auto-suficientes, chumbam todas as propostas, nas Comissões Especializadas quase que "fazem o favor" de escutar os outros, não querem saber se as propostas são positivas ou não, se merecem ou não ser debatidas e melhoradas, tudo morre nas mãos de uma maioria que não quer ver a realidade, não quer ouvir outros pontos de vista, não está disponível para negociar e, portanto, fecha-se na sua torre de marfim, com a sua verdade absoluta. E num quadro destes, como é possível reflectir se quem tem o poder vê o descalabro mas nega ajuda? Como alguém citou mas não me recordo o seu nome, "povo pequeno, problema grande".
Ilustração: Google Imagens.