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terça-feira, 19 de outubro de 2010

E O SECRETÁRIO INSISTE


Se uma boa parte das nossas escolas tivesse obtido resultados de topo, certamente que o discurso do governo seria outro. Seria de exaltação pela sua política educativa. Sabe-se que é assim. Quando interessa somos os melhores relativamente aos outros, quando não interessa, conjuga-se o verbo esconder!


A excelência só se consegue
com organização, trabalho,
rigor, autonomia das escolas
e capacidade para
separar o essencial do acessório
Já esperava que o Senhor Secretário da Educação viesse a público tentar esbater a gravidade dos resultados dos alunos madeirenses e porto-santenses nos exames nacionais de 9º e 12º ano. Oh, Senhor Secretário, assuma a realidade, assuma que o sistema falhou, assuma que o sistema precisa de uma profundíssima reformulação. Vamos por partes.
A seriação das escolas através dos “ranking’s” nacionais não é “redutora” nem “enviesada”. Constitui um indicador (apenas mais um) de que o sistema educativo na Região não consegue descolar para patamares aceitáveis. Todos os anos é a mesma, a lengalenga dos responsáveis pela Educação . Mas o Secretário sabe que os exames são iguais do Minho ao Corvo, que os programas são iguais e as avaliações obedecem a critérios rigorosos, com os correctores sujeitos a formação própria no sentido de não se verificarem discrepâncias significativas entre correctores. Já aqui o disse, portanto, Senhor Secretário, basta de enganos!
Não existem "critérios artificiais" e, por isso, nada tem a ver a entrada de alunos nas Universidades com os resultados dos exames. Se entraram X da Madeira, entraram Y do restante espaço nacional. Uma coisa são os exames, outra o acesso ao ensino superior. Da mesma forma que não se deve misturar a avaliação dos alunos em situação de exame com a altíssima taxa de insucesso e abandono escolar entre a Madeira e o restante espaço nacional. Cada análise tem de ser rigorosamente contextualizada. De resto só se pode e deve comparar coisas comparáveis.
Depois, se uma boa parte das nossas escolas tivesse obtido resultados de topo, certamente que o discurso do governo seria outro. Seria de exaltação pela sua política educativa. Sabe-se que é assim. Quando interessa somos os melhores relativamente aos outros, quando não interessa, conjuga-se o verbo esconder!
É por isso lamentável perante este repetitivo indicador que o próprio Presidente do Governo Regional tivesse dito que não está preocupado com a posição da Madeira no "ranking das escolas", uma vez que o mesmo foi elaborado com base em “critérios artificiais”. E disse mais: "Lá se foi o tempo em que nós nos impressionávamos com as coisas feitas em Lisboa". Depois, claro, vem com aquela história de treta, "avisar" o Povo que pelas medidas de austeridade os jovens vão ter de emigrar. Exacto, com políticas destas, do que está o governo à espera?
Enquadrar o problema daquela maneira corresponde a um atentado contra o futuro da Madeira e da sua população, pois sucessivas gerações mal preparadas não poderão responder, eficazmente, aos desafios deste novo mundo onde se exigem qualificações de excelência. E a excelência só se consegue com rigor e qualidade na intervenção.
Mas há mais um aspecto: nas declarações ao DN-M de hoje, o Senhor Secretário acaba por dar resposta aos resultados desta Escola, ao enumerar um largo conjunto de iniciativas que afogam e determinam uma escola claramente apostada no acessório e não no essencial. Daí que, os maus resultados no Ensino Básico prognostiquem, desde já, que nada de bom nos aguarda para a próxima etapa do 12º ano.
O governo que assuma que o desastre educativo não é por culpa da docência e da qualidade da generalidade dos professores. O problema reside na deficiente organização do sistema, no frágil sentido de missão e vocação da escola, na falta de autonomia e no número de alunos por escola e turma. Significa isto que o Secretário continua a confundir os conceitos de escolarização com o de educação. É pena, porque são os jovens que vão pagar a factura da irresponsabilidade política.
Ilustração: Google Imagens.

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