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sábado, 27 de novembro de 2010

A ARTE DE BARALHAR E DAR DE NOVO



O Presidente, qual metáfora, dir-se-á que, perante mais esta situação, mostrou-se um exímio ginasta: piruetas, flic-flac à retaguarda, queda facial invertida (pino) seguida de "cambalhota" em frente, enfim, o que hoje é verdade, amanhã, já não é bem assim. Foi contra a entrada do FMI em Portugal e agora já se diz a favor. A contrária também é verdadeira. Entre duas posições meia dúzia de dias face às circunstâncias.

Quem terá maior deficiência auditiva:
O Presidente ou o Povo?
Há dias, ouvi e li declarações do Presidente do Governo Regional da Madeira, relativamente à "Greve Geral" de 24 de Novembro. A ideia que fiquei foi a de que o Presidente não só compreendia e defendia, como entusiasmava os trabalhadores a  manifestarem-se. Até recebeu, em audiência, o que para mim foi esquisito, o secretário-geral da UGT.
Desde já, enquanto governante, julgo que deveria ter assumido uma postura de algum recato, porque é governante, porque se trata de um direito Constitucional e, além do mais, as decisões pertencerem ao mundo dos parceiros sociais e do direito dos trabalhadores à indignação. A postura do Presidente quis-me, assim, parecer a de dar fogo a uma legítima revolta contra as medidas de austeridade do Continente. Tiros políticos para lá, como se a Região não dispusesse de órgãos de governo próprio com capacidade para atenuar tais medidas. Melhor dizendo, uma claríssima preocupação em colocar o acento tónico da desgraça no "inimigo externo". Enquanto tal acontece, esta é a sua sesível preocupação política, o "povo superior" continuará, por aqui, distraído e convencido que o líder local é uma figura imaculada e providencial!
Aliás, este constitui um filme de tantas vezes repetido que já não há paciência para o visionar. A tecla é sempre a mesma, a da fuga às responsabilidades políticas locais. E o interessante disto, face ao seu evidente objectivo em ajudar uma greve contra Lisboa, por razões variadíssimas, entre as quais a pobreza, a precariedade, etc., a greve acabou por não ter, na Madeira, uma significativa expressão. Mas o "chefe" não desarmou, tomou a "derrota" (no plano das intenções) numa vitória. Falhado o seu incentivo à greve, veio logo dizer que "(...) o povo madeirense que é um povo inteligente e que tem uma cultura de trabalho, não está para perder um dia de salário por causa das tontices de Lisboa (...) e, portanto, o povo madeirense, na sua inteligência, (...) na altura devida, vai castigar nas urnas quem os trouxe para esta situação".
O Presidente, qual metáfora, dir-se-á que, perante mais esta situação, mostrou-se um exímio ginasta: piruetas, flic-flac à retaguarda, queda facial invertida (pino) seguida de "cambalhota" em frente, enfim, o que hoje é verdade, amanhã, já não é bem assim. Foi contra a entrada do FMI em Portugal e agora já se diz a favor. A contrária também seria verdadeira. Entre duas posições meia dúzia de dias face às circunstâncias. E sai sempre bem, naturalmente, devido à anestesia que o sistema, diariamente, "recarga" por toda a Região, uma vezes recorrendo aos serventuários do regime, outras, à propaganda através da nomenclarura.
A questão que cada vez mais se coloca é a de saber como sair deste quadro armadilhado, deste terreno minado por todas as saídas, como romper este círculo vicioso, como iluminar, a curtíssimo prazo, as cabeças do Povo, fazendo-as ver que está a ser enganado, que este é um caminho errado e que, percorrendo-o, ao sofrimento apenas acrescentará mais sofrimento?
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

Espaço do João disse...

Francamente já não sei o que dizer.
Ainda hoje, com as manifestações na Irlanda, ouvia-se o povo gritar que Portugal fez muito bem em não seguir o caminho que os governantes irlandeses seguiram. Seria para contrariar as referências que tanto o Sr. Barroso e o Sr. Cavaco Silva tanto elogiavam?Os golpes baixos dos Irlandeses deviam ser seguidos pelos Portugueses? Sei que não faço parte desse povo superior, mas não tenho pena. Pelo menos deixem-me estar para aqui sossegado e, não ouvir sequer os comentários desse troca tintas do Imperador das Desertas.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Como eu o compreendo!