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domingo, 7 de novembro de 2010

A CAMINHO DE UMA NOVA TRAGÉDIA (I)


Confesso que senti um calafrio ao ver uma canalização de quatro pequenos ribeiros para um, aumentando, naturalmente o volume de água. Isto a montante. Porque logo a seguir, o que se verifica, é o estrangulamento do curso de água, correndo à beira das casas sem qualquer protecção.


Cada vez que subo às zonas mais altas do Funchal sinto um aperto no coração. Como foi possível, apesar de todas as chamadas de atenção, permitir que o desordenamento chegasse ao ponto que chegou. Ontem, visitei e percorri  toda a zona dos designados "Lombos" na freguesia do Monte. Estacionei no final do caminho do Poço e, com largas dezenas de pessoas, calcorreei a zona. Como se já não bastasse a ausência de qualquer ordenamento sustentável, colocando os edifícios em lugares seguros e de boa acessibilidade, ainda por cima, voltei a constatar os enormes perigos que correm as pessoas que ali vivem. Já não se trata das moradias mas da ausência de defesa em função de uma intempérie.
Confesso que senti um calafrio ao ver uma canalização de quatro pequenos ribeiros para um, aumentando, naturalmente o volume de água. Isto a montante. Porque logo a seguir, o que se verifica, é o estrangulamento do curso de água, correndo à beira das casas sem qualquer protecção. Os acessos às moradias estão em calhau, tal como 20 de Fevereiro deixou. Oxalá esteja eu engando, mas numa situação de chuva intensa o problema será muito grave, restando à população, ao primeiro sinal, fugir, deixando para trás tudo. É pavorosa e angustiante aquela situação.
E uma pessoa olha para aquilo e questiona-se: mas quem autorizou ali construir? E após o 20 de Fevereiro que projecto foi implementado para garantir segurança nas zonas mais sensíveis?
A primeira pergunta fi-la eu a um Senhora, proprietária de uma dessas casas em zona de risco. E ela respondeu-me, mostrando os "papéis", que está tudo autorizado (e assinado) e que inclusive, a laje do seu prédio cobre uma parte do ribeiro e essa é a mesma laje do seu rés-do-chão. Quer dizer, se o ribeiro a levar, certamente que a casa sofrerá consequências na sua estrutura. Mas este é um caso, entre tantos outros, por ali a baixo, com os esgotos lançados, directamente, no curso de água que corre, portanto, a céu aberto. Há, ali, uma sensação de angústia, de gente sofrida, de pessoas que dormem à custa de medicamentos, que olham para aquele quadro e sentem-se impotentes para o transformar. E pergunto, onde está o Governo, onde pára a Câmara para atender aos casos mais dramáticos, mais sensíveis e onde a exposição ao perigo é substancialmente maior? Onde páram? E onde páram os milhões que entraram na Madeira das ajudas vindas da solidariedade?
A história de todo este processo começa a dar razão ao PS e ao seu grupo parlamentar, quando, logo a seguir ao dia da tragédia, propôs a criação de uma Entidade Independente para a Reconstrução, com fins perfeitamente definidos, com um depertamento técnico-científico, capaz de elencar e definir as prioridades e as dinâmicas da reconstrução. O PSD chumbou essa proposta e, agora, a sensação com que fico é que tudo isto está a ser feito ad hoc, consoante a pressão e os interesses da "máquina política do cimento". Ando por aí e vejo canalizações de cursos de água, está aos olhos de quem passa, mas se essas canalizações estão compaginadas com os interesses das pessoas, com a sua defesa e a dos seus bens, pelo que ontem vi, nada disso está salvaguardado. Arrepia quem por ali passa. Fiquei em pânico, o que fará os que ali vivem!
Ilustração: Google Imagens.

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