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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A MENTIRA TEM PERNA CURTA


NÃO LHE FICA BEM, criativamente, deturpar, inventar e gerar um ruído que não ajuda a EDUCAÇÃO. Os assuntos da educação, do desporto e da cultura não devem ser vulgarizados com baixa política. O sector é demasiado importante para o nosso futuro colectivo, o que implica seriedade e distanciamento partidário. Eu, pelo menos, entendo que a Educação deve ser politizada e não partidarizada.


Quem mantém os erros de ontem
só pode esperar no futuro
os mesmos resultados
de ontem.

Há situações que, vamos lá ver, não é que me incomodem, porque sei que o exercício da política é assim, mas que me deixam um rasto de desilusão relativamente às pessoas. E estou a falar, concretamente, do Secretário da Educação e Cultura. Se calhar não deveria sentir essa desilusão, mas confesso, sinto, porque tratando-se de um político que, certamente, lê e porque escreve, mormente para crianças, daí a sua acrescida responsabilidade, custa-me aceitar a mentira e a deturpação das minhas, ou melhor, das posições do grupo parlamentar a que pertenço. Não lhe fica bem. Não lhe fica bem dizer, na Assembleia, que sou contra o rigor e a disciplina na escola; que sou contra os "chumbos"; que sou contra as escolas privadas; que até sou contra o desporto. Mais, que não há um professor que me acompanhe nas minhas posições sobre a política educativa. Com mais ou menos palavras a embelezar as palavras ditas, o essencial do que o Secretário quis transmitir foi a de uma atitude negativa da minha parte relativamente à Educação. Repito, não lhe fica bem.
E não lhe fica porque se trata de uma GROSSEIRA MENTIRA. Sempre fui pelo rigor e pela disciplina, só que isso implica uma nova concepção de escola, preparada para os novos tempos, onde são necessárias muitas mudanças em variadíssimos campos e, sobretudo, uma nova concepção de sociedade só possível com novas políticas sociais. Tudo está interligado, obviamente. Adiante. Contra as escolas privadas nunca estive e não estou. O que não quero é a destruição do sistema público de educação, direito de todos, universal e gratuito. O privado, obviamente, que deve existir como direito e opção das famílias (as que podem) a escolherem a educação que desejam para os seus educandos. Mas, porque é privado, também devem assumir os seus encargos fundamentais. São duas coisas diferentes, como facilmente se deduz. A Escola pública deve ser a referência do investimento público e não tendencialmente o contrário.
Contra o desporto, eu? Logo eu! O que não desejo é um desporto escolar que envolva cerca de 8% dos estudantes (quando devia situar-se nos 80 a 90%) e 300.000,00 Euros de financiamento para actividades, face a um desporto federado que leva cerca de 34,6 milhões de Euros. São duas coisas diferentes, uma vez mais. Desejo uma verdadeira educação desportiva, de qualidade e portadora de futuro e rejeito um desporto ao serviço da política e não do desenvolvimento! Percebeu, Senhor Secretário?
Finalmente, acertou, sou contra os designados "chumbos". Sou, sim, pelo sucesso escolar. Ao invés do Secretário que parece "defender" o insucesso, eu prefiro lutar pelo sucesso. São, uma vez mais, duas políticas distintas. Lutar pelo sucesso implica escolas com menos alunos, turmas com menos alunos e investimento total aos primeiros sinais de incapacidade. E isso deve ser detectado logo nas primeiras idades. Há, de resto, imensos estudos sobre esta matéria. E o curioso é que o Secretário leu (ora se leu) o Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, e lá está escrito que, a retenção do aluno não é excluída, desde que analisada e confirmada pelo Conselho de Turma. O "chumbo" deve acontecer mas quando houver a consciência que todos os passos foram dados no sentido de garantir o sucesso com QUALIDADE. E hoje não existe essa consciência.
A Escola não se compadece
com as rotinas.
Esta Secretaria Regional
é uma Secretaria de ROTINAS.
Portanto, repito, NÃO LHE FICA BEM, criativamente, deturpar, inventar e gerar um ruído que não ajuda a EDUCAÇÃO. Os assuntos da educação, do desporto e da cultura não devem ser vulgarizados com baixa política. O sector é demasiado importante para o nosso futuro colectivo, o que implica seriedade e distanciamento partidário. Eu, pelo menos, entendo que a Educação deve ser politizada e não partidarizada. Não entro nesse jogo da partidarite aguda. Porque é o futuro da Região que está em jogo. E esse futuro constrói-se com rigor, disciplina, QUALIDADE e excelência. Se há quem não esteja neste pensamento estratégico, penso que está a mais neste processo. Deve definir-se. 
Só mais uma nota: nenhum professor concorda comigo? Ousadia, leviandade discursiva e ausência de humildade. Mas, como podem, Senhor Secretário, dizer o que pensam, se lhes coarctam a voz, se não há espaços de debate, se os sindicatos são secundarizados, se a cultura gestionária do Governo é a do condicionamento? Oh, meu caro, fique sabendo que eu apenas sou "porta-voz" (não encontro outra expressão mais apropriada), do que leio, não sou investigador no sentido puro do termo, mas não sou estúpido, por isso também sei que tantos livres-pensadores foram "liquidados" na fogueira dos governos ditatoriais, todavia, hoje, constituem referências no mundo da Educação. Olhe para Paulo Freire, por exemplo, que esteve exilado, por uma estúpida ditadura, e hoje é uma referência mundial. Sigo o seu pensamento tal como o de tantos outros, inclusive, do nosso País. Ainda há dias assisti a um Simpósio sobre Paulo Freire, orientado pelo Professor Doutor Licínio Lima. Foi fantástico. Não o vi por lá, infelizmente. Portanto, ao contrário de julgar os outros com paleio político, tente perceber o que significa a palavra EDUCAÇÃO em toda a sua extensão e como lá se chega. Para isso não basta um governante cumprir o horário de funcionário público e sentir que a máquina, rotineiramente, funciona. Torna-se necessário, substituir peças velhas e gastas, oleá-las e manter uma permanente atenção ao que produz.
Ilustração: Google Imagens.

6 comentários:

Atento disse...

Adorei a questão.
O que vai fazer com o dinheiro roubado aos funcionários públicos?
Sócrates ladrão...
Aqui, à parte, o seu patrão 1º Ministro vai adorar esta falta de solideriedade.
É por isto e por muito mais que os senhores não são levados a sério.
Por nínguém, nem pelos seus...

António Trancoso disse...

Caro Colega André Escórcio
Subscrevo,integralmente,tudo o que,de ciência feita, aqui diz.
De resto,tanto a Educação como a(nobre)Política,não se coadunam com o empirismo ou com o oportunismo basculante(a nossa memória não é tão curta como a politiquice desejaria).
Mais uma vez,parabéns.
António Trancoso
(Prof.Aposentado do Ens. Secundário)

André Escórcio disse...

Muito obrigado Caríssimo Colega e Amigo.
Tal como o meu Amigo lamento, que não oiçam e sobretudo não queiram ver a realidade e o futuro.
Um grande abraço.

João Marreiros disse...

Muito boa noite Prof. André Escórcio.

Concordo inteiramente com a percentagem de 8 por cento de prática do Desporto Escolar. É de facto uma vergonha nacional. Já mencionei esse valor no meu livro "Desporto Escolar que realidade?

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Acredite que é um "sofrimento" chegar a esta altura da vida, levar 30 anos a tentar que olhem para a Escola e sentir que as palavras não têm eco. É difícil, acredite. Mas, continuemos na defesa de um desporto escolar entendido como bem cultural.
Uma vez mais, obrigado.

André Escórcio disse...

Ao senhor "Atento", primeiro desta lista de comentários, por favor, se é madeirense, lute pela Autonomia e defenda o princípio que compete ao governo regional resolver os problemas dos madeirenses, onde se incluem os dos funcionários públicos. Tal como irá acontecer nos Açores.
Um governo na Região só tem sentido se for para governar em toda a sua extensão.