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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

DIA 23 DE JANEIRO: DIA MUNDIAL DA LIBERDADE


Olho para um Povo que sofre e nele não vislumbro a reacção que, de resto, seria natural; olho para a confortável maioria parlamentar a tocar um tambor velho e gasto, mas que produz, ainda, o som necessário para cobrir as vozes da razão; olho para a sociedade mais qualificada e vejo-a subserviente, acomodada, de nariz colado ao joelho; olho para o discurso político e nele, facilmente, descubro a meia-verdade (...)

Confesso, já aqui o referi em um outro texto de desabafo, que tenho andado, eu não diria de braços caídos, mas com alguma angústia a invadir os sentimentos pelas causas que considero importantes. Olho para um Povo que sofre e nele não vislumbro a reacção que, de resto, seria natural; olho para a confortável maioria parlamentar a tocar um tambor velho e gasto, mas que produz, ainda, o som necessário para cobrir as vozes da razão; olho para a sociedade mais qualificada e vejo-a subserviente, acomodada, de nariz colado ao joelho; olho para o discurso político e nele, facilmente, descubro a meia-verdade, a proposta que confunde, o fait-divers, a inversão das prioridades, a ausência de sentido de responsabilidade na condução dos processos políticos, a negação e corrupção dos princípios e dos valores que deveriam enformar a Res pública, por aí fora, e tudo isto leva a que me interrogue, com alguma frequência, sobre o mundo de enganos em que o exercício da política se transformou. Sou, quanto todos os outros, mero observador e também actor de processos para os quais a intervenção está condicionada, muito limitada, feita de equilíbrios em um trapézio no mor das vezes sem rede. E o que acontece, porém, pela falta de dados contextuais e condicionamentos culturais, esse Povo sofredor nem conta dá que há muitos por aí que são a voz dos seus problemas. Daí o sentimento de uma luta que conduz à interrogação ao jeito de E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, a canção que inspirou o 25 de Abril:  
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Sinto, de facto, que o retorno da voz do Povo não chega, pletórica de energia. Anda por aí, em decibéis muito baixos, comentando as agruras, conduzindo a cruz como sempre lhe ensinaram. Mas ao mesmo tempo que isto constato e que me constrange, também existe uma outra energia interior que me leva a dizer, em alto e bom som, que a hora não é para desistências. Se querem manter a "guerra", então, vamos a ela. No dia 23, próximo Domingo, é Dia Mundial da Liberdade. É dia de eleições para a Presidência da República. Seria bom começar por aí!
Tudo isto a propósito de um comentário que V. D'A deixou neste blogue, que agradeço e aqui transcrevo, pela profundidade que o encerra e porque me tocou, profundamente, obrigando a nele reflectir. 
"Em momento de uma tão grande dor colectiva como aquela que vem atingindo este povo insular - obedientemente e em silêncio! - as palavras de VExa e o seu discurso assertivo refluem nas consciências morais como um estímulo à resiliência. Temo, porém, que à virtude enunciada se una uma eficácia estéril.
Com efeito, não podemos nunca esquecer o princípio básico que enforma a "democracia": (com grande infortúnio para nós) - uma cabeça um voto! Ora bem, sabemos que a maioria das cabeças votantes desta terra (ainda) vota de barrete de orelhas para proteger do frio; neste contexto, as vossas clarividentes opiniões - contra o regime que nos oprime - apenas acabam por caucionar o sombrio e amargo desalento que se infiltra nos espíritos superiores que consciencializam tal facto - nunca no povo vilhão e votante! É esse o vosso grande handicap.
Porém, do meio deste deperecimento moral que nos vem abatendo, eis que surge um verdadeiro grupo de irredutíveis, sincronizado todavia com os desafios e exigências do seu tempo, conhecido pelo "Grupo do Garajau", que de forma muito pouco ortodoxa vem procurando destapar as orelhas a um ou a outro vilhão mais vivaço. E, creiam-me, a fórmula vem funcionando até nos corações mais abatidos ou nos espíritos mais descrentes.
Concedo porém a vossa imensa dificuldade em ir por esses caminhos - a vossa matriz de estar e de actuar é outra: é conservadora - "straight" como dizem os ingleses - e epistemológica; mas numa época tumultuosa como a nossa urge aferir se é mais importante manter a inflexível austeridade do carácter ou prosseguir com a generosidade das coisas úteis.
Um abraço para Si.
V.D´A."
Ilustração: Google Imagens.

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