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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

PELA DEFINIÇÃO DOS CAMPOS DE ACTUAÇÃO POLÍTICA


(...) se os partidos de direita, por definição, favorecem o sistema capitalista e se o principal partido de esquerda faz o mesmo ou ainda mais, onde está a esquerda democrática no nosso País?


Acabo de ler uma entrevista do Professor Freitas do Amaral publicada na edição desta semana da revista FOCUS. A páginas tantas assume: "PS e PSD competem para ver quem governa mais à direita". Mas esta declaração tem um enquadramento: "(...) se os partidos de direita, por definição, favorecem o sistema capitalista e se o principal partido de esquerda faz o mesmo ou ainda mais, onde está a esquerda democrática no nosso País? Deixou de existir e isso é mau para o equilíbrio da política portuguesa. Se a alternância que existe é entre o PSD e o PS, que ambos competem para saber qual consegue governar mais à direita, pergunto, com que partidos é que as pessoas menos favorecidas podem identificar-se (...)".
Esta questão, ou melhor, esta síntese produzida pelo Professor, persegue-me desde há muito tempo. Por razões várias que, certamente, os visitantes compreenderão, nunca abordei esta questão central do meu pensamento político. Por um lado, porque tenho uma leitura do Mundo e dos Senhores do Mundo, do que querem e da sua agenda oculta meticulosa e pacientemente elaborada; por outro, porque as minhas mais profundas convicções da vida, dos direitos do Homem e da correspondente solidariedade, não se coadunam com esta marcha lenta, silenciosa, porque muitos não se apercebem, no sentido da espoliação dos mais elementares princípios e valores que devem reger o sentido humanista das governações. Finalmente, porque sou militante de um partido e não gosto de o criticar publicamente.
O Professor Freitas do Amaral, um Homem posicionado no centro-direita, toca no ponto nevrálgico, de resto, sentido pela população que, cada vez mais, experimenta dificuldades em saber quem é quem, que princípios e valores defende, qual o grau de seriedade e de honestidade, o que propõe e que grau de exequibilidade apresenta nas propostas. Há um mix de interesses e de calculismos que me incomodam, como se a política fosse um tabuleiro de xadrez onde as peças se movem em função de um qualquer xeque-mate. Ora, o exercício da política não é isso, não se conjuga com indefinições, com sombras e silêncios, com pressões e percursos pessoais. Um partido político sem ideologia é uma agremiação de bairro. A sua existência só se justifica no sentido de governar, tendo como objecto central da sua acção um projecto de sociedade conducente ao bem-estar da população. E isto exige a definição de posicionamentos muito claros, sensatos, fundamentados e compreensíveis por parte do todo social. Quando tudo parece estar dentro do mesmo saco, obviamente que isso só gera a desconfiança e o descrédito das instituições. É o que se está a passar na sociedade portuguesa e que eu lamento. Para esse peditório, sinceramente, não dou, porque prezo muito os valores que me animam na vida e porque sempre neguei fazer do exercício da política uma "profissão".
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Pica-Miolos II disse...

Senhor Professor
Parabéns pela Coragem de publicar um texto desta natureza.
Refiro a Coragem,na medida em que a séria e clarividente atitude lhe vai custar a animosidade dos muitos que estarão fixados em objectivos que não os que perfilha.
Ao menos,quando faz a barba(agora é moda esconder a face atrás de vários modelos capilares)não fecha os olhos,nem envergonha os seus filhos.

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Dou-lhe os parabéns por esta reflexão. Poque é na falta de diferença que reside o cerne do problema.
Transportando o assunto para a Região, sempre tive a sensação de que o eleitorado (tal como eu) não vê grande diferença entre os dois principais partidos. São, como se costuma dizer, farinha do mesmo saco. Tenho de confessar que, com as excepções que sempre existem, também não me revejo no actual elenco socialista. E admito que as pessoas, não antevendo mudança significativa (para o bem e para o mal), não estejam para correr os riscos inerentes à substituição do partido no poder.
Daí o sucesso obtido por Coelho. Os madeirenses estão descontentes e, finalmente, encontraram algém com quem se identificam, alguém que diz o que há a dizer. Repare que o simples facto de mais de 7.500 pessoas terem assinado os papéis da sua candidatura, correndo o risco de ficaram marcadas pelos bufos do jardinismo, é já um sintoma perturbador, que revela a determinação de mudar.
Para terminar, e a propósito das recentes declarações de um dirigente do PS-M que se sentiu "apunhalado", não é com agressividade (já basta a de Jardim) que se contorna a "batata quente"...

André Escórcio disse...

Muito obrigado pelo seu comentário.
É evidenteque traz sempre alguns incómodos porque existe uma tendência para interpretações que não se encontram no texto.
Um abraço.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário, caríssimo Cor. Fernando Vouga. Sabe, tão bem ou melhor do que eu, os muitos interesses, pessoais e de grupos, que se movem na esteira dos partidos políticos. Istituições que deveriam ser tendencialmente puras, acabam por ficar marcadas por esse bas-fond onde o discurso político parecendo não é! Junta-se a isto a força quase indomável dos directórios europeus e mundiais que tudo subvertem, impondo as soluções que lhes interessam.
Tudo se torna numa "massa" homogénea que conduz ao pensamento único, à solução única, à vontade única, à ideologia única e, porventura, ao partido único. O resto são minudências para justificar ou legitimar a Democracia.
Não é esse o meu entendimento e, por isso, enquanto puder, levantarei a voz. Obrigado.