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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ARREPIANTE


Vamos trabalhando, voluntariamente, para tentar salvar uma ou outra criança, quando temos a certeza que não nos chega às mãos nem um ínfima parte das que precisam de ajuda e mesmo que chegassem não haveria forma de ajudá-las. É isto que estamos a construir: uma nova geração castigada pelo alcoolismo dos pais, pela violência doméstica e pela desresponsabilização das instituições.



A propósito de um texto que aqui publiquei sobre a "violência doméstica", recebi um comentário do meu Amigo Dr. Paulo Barata. Pela sua importância entendi publicá-lo e comentá-lo.
"Posso  garantir-lhe que a violência doméstica na Madeira é uma realidade assustadora. Mas há outra violência que me preocupa mais de perto, até porque sou membro da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo do Funchal, é a negligência a que é condenada tanta criança e adolescente nesta nossa cidade. Esses números eu tenho e não são "secretos". Como sabe, os maiores parceiros da Comissão de Protecção são os professores. No entanto, também nesta área, muitos destes seus colegas deixam as crianças ficar mal. Na semana passada veio um professor falar comigo porque numa escola do Funchal suspeitavam que uma aluna tinha sido violada. Para espanto deste professor sério e responsável, os comentários dos seus colegas na reunião que debateram o que fazer, andaram à volta de "ela também não é boa da cabeça..."; "Elas provocam...." e "não temos nada a ver com o que se passa fora da escola...", a conclusão é que não deveriam comunicar às entidades competentes para que o caso fosse averiguado. Arrepiante.
A montante temos famílias irresponsáveis e professores que não se querem "chatear" e que impedem que os (muitos) bons professores possam trabalhar e ajudar os jovens e, a jusante, temos a CMF que não tem dinheiro para apoiar a Comissão. Vamos trabalhando, voluntariamente, para tentar salvar uma ou outra criança, quando temos a certeza que não nos chega às mãos nem um ínfima parte das que precisam de ajuda e mesmo que chegassem não haveria forma de ajudá-las. É isto que estamos a construir: uma nova geração castigada pelo alcoolismo dos pais, pela violência doméstica e pela desresponsabilização das instituições. Que futuro podemos esperar? Abraço."Não disponho de números, mas sei que o problema é muito grave. E o que mais me constrange é o silêncio, é o varrer para debaixo do tapete, é o encolher de ombros e é, na Assembleia, sentir a desvalorização destes assuntos por parte da maioria, sempre com aquela lengalenga que as instituições têm tudo sob controlo e que a resposta é eficaz. Mal sabem que entre o que está no papel, nos alegados documentos orientadores e a realidade, a diferença é abissal. Enquanto preferirem o cimento à Protecção do Homem, enquanto falarem da família enquanto pilar da sociedade e não derem um passo no sentido da sua emancipação e protecção, obviamente que o resultado será sempre o de um trabalho inglório.
Ilustração: Google Imagens.

2 comentários:

José Luís Rodrigues disse...

Só pode ser isso mesmo. Arrepiante... Não só os actos de violência em si, mas também ainda mais arrepiante a atitude de tanta gente que se acobarda perante estas situações. Especialmente professores e todos os agentes da educação. Tenho procurado nas minhas homilias alertar para a não violência e peço encarecidamente que os pais sejam os primeiros a respeitarem os seus filhos. Abraço e óptimo post.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Acredite, Distinto Padre e Amigo, que cada vez mais sinto estes problemas e cada vez mais me sinto impotente. As questões de natureza social, a construção da família, a protecção dos mais indefesos, os jovens e os idosos, os desempregados, os que passam fome, enfim, os excluídos desta suposta sociedade da abundância, preocupam-me, mas, pergunto, como mudar esta triste realidade de um povo enganado mas que aplaude?