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sexta-feira, 4 de março de 2011

64 MINUTOS E 47 SEGUNDOS. SÓ AQUI OU NUM PAÍS DE PARTIDO ÚNICO.


Quando elogia esta nova direcção da RTP-Madeira ele sabe, com toda a certeza, a história do processo. Tão descarado foi aquilo que um programa que tem um formato de 30' para todos os entrevistados, ali, a excepção aconteceu, prolongando-o para o dobro. Não foram mais cinco minutos, foram trinta e quatro minutos a mais!


Estive tentado a escrever sobre a entrevista do Presidente do Governo Regional ao programa "Entrevista" da RTP-Madeira. Frenei o meu impeto sobretudo porque tudo aquilo foi muito mau e, sinceramente, não faz o meu jeito assumir uma crítica cuja leitura possa ser, lá está ele, sempre na crítica. Não gosto. E se hoje torno a esse programa foi porque li, esta manhã, serenamente, o artigo de opinião da Drª Violante Saramago Matos, publicado no DN-Madeira, onde exactamente este tema está em destaque. Não retiro uma vírgula ao texto. E antes demais transcrevo uma parte do primeiro parágrafo do seu artigo: "Ao fim de quatro anos, a RTP-M deu finalmente a palavra ao chefe do governo que, imagine-se, se confessou muito agradecido pela oportunidade que lhe foi concedida esta semana. Podia era ter aproveitado para em vez de assumir um papel de grande estadista que se ocupa durante uma hora a dar lições de história, de economia, da Europa, do mundo, podia ter aproveitado para falar de cá. Do que aqui se passa. Do que aqui falta. Do total desprezo pelo planeamento, sem aceitar que a sua falta potencia os riscos em situações de catástrofe (...)"Foi isto que resultou daquela entrevista, isto é, levou uma hora a falar para fora quando os problemas estão cá dentro. Os problemas das empresas, do desemprego, da pobreza, os problemas de um modelo económico ineficaz, os problemas da falta de transparência do Centro Internacional de Negócios, os verdadeiros problemas da reconstrução, enfim, um infindável número de questões que, esmiuçadas, colocavam o presidente do governo, como vulgarmente se diz, "feito num oito". Simplesmente porque a população já tem a "Missa" de Domingo e ter de assistir a mais esta, convenhamos que é dose a mais.
Toda a entrevista foi de resposta óbvia, como diz o meu Amigo Carlos Pereira, tipo "água do Luso", ou como diz outro, "timex, não adianta nem atrasa", o que levou o presidente do governo a agradecer no final ao jornalista ter colocado as questões que colocou. Ora, quando um entrevistado faz uma referência destas é porque a entrevista constituiu um fatinho à medida. Quando elogia esta nova direcção da RTP-Madeira é porque ele sabe, com toda a certeza, a história do processo. Se sabe! Tão descarado foi aquilo que um programa que tem um formato de 30' para todos os entrevistados, ali, a excepção aconteceu, prolongando-o para o dobro. Não foram mais cinco minutos, foram trinta e quatro minutos a mais (o programa teve 01.04'47'') pode-se constatar no sítio da RTP-Madeira na Internet). Pergunta-se, desde logo, qual a razão? Na RTP, em Lisboa, por exemplo, um programa semelhante, "A Grande Entrevista" tem um formato que dele não sai, esteja lá o Primeiro-Ministro ou qualquer um dos líderes partidários. Mas, aqui, não, o "grande líder" teve direito a cantar a missa como gosta, emendando até o jornalista, puxando a pergunta para a resposta que ele queria dar. 
Lamentavelmente, trata-se de uma RTP-Madeira em completo abuso de antena, claramente ao serviço de uma força partidária. Já não basta o Jornal da Madeira com 15.000 exemplares diários de propaganda, paga com os impostos de todos (3 a 4 milhões de euros por ano), já não basta o serviço de muitas rádios locais, ainda por cima, a RTP-M escancara as portas para ouvir a "missa do senhor governo".
Convidem-no, aí sim, para ali estar frente-a-frente com a oposição, tenham a coragem de deixar a cadeira vazia se, uma vez mais, negar-se a participar como acontece, de forma recorrente, na Assembleia Legislativa. Isto de falar a solo, dizer o que pensa e não ser confrontado com outras leituras políticas, é fácil, muito fácil. O problema está no debate, no confronto, só aí é que o povo se pode aquilatar dos argumentos de uns e de outros. Só que o "serviço público" de rádio e televisão, leva-o ao colo em ano de importante acto eleitoral. A propaganda já começou, a lavagem ao cérebro acelerou, a secundarização de outras vozes prolifera e, portanto, eu diria que a a calendarização dos actos está assumida.
Para quem assim se porta, torna-se necessário que tenham presente que "quem semeia ventos, tarde ou cedo, colhe tempestades". Lembrem-se que o Povo tanto aplaude hoje, como amanhã põe os políticos a milhas. Basta olhar para a História ou, então, olhar para as explosões sociais que estão a acontecer um pouco por todo o lado. Cuidado, meus senhores, cuidado! Não são os socialistas que pagam a RTP-Madeira ao contrário do que disse o presidente do governo, é todo o povo português, porque o "serviço público" de rádio e televisão é CONSTITUCIONAL.
Ilustração: Google Imagens. 

3 comentários:

Anónimo disse...

Apenas a verdade. Os comentários ficam consigo na dialética negativa e medíocre desta terra.

-Quando o Primeiro Ministro vai à RTP 1, programa tem uma hora e até é (era) feito por 2 entrevistadores.Portanto sai do Formato.

- debate e confronto na RTP M não se faz porque AJJ não aceita, tal como não aceita ir à moção de censura no Parlamento...Ou Foi? Quantas vezes? Não coloque a culpa nos Jornalistas, mas no modo de ser do entrevistado.

Quanto ao facto do Presidente agradecer a entrevista será que Jornalista tem culpa? A Judite de Sousa também teve agradecimento o ano passado na Quinta Vigia. Será que ela queria? Não se desculpem com a Comunicação social, pois não é assim que vão ganhar eleições. O Povo quando quer e acredita, vota...em que seja num coelho.Onde está a alternativa?

António Trancoso disse...

Meu Caro Amigo
A arma da covardia é a fuga ao confronto.
Também é certo que quem elege covardes, covarde é.
Um abraço.

André Escórcio disse...

Começo pelo "Anónimo".
Está no seu direito de refugiar-se no anonimato. Respeito, mas há uma diferença entre nós: eu identifico-me, dou a cara e assumo o que digo. O meu caro "anónimo", não. Mas a isso não dou grande importância.
Não confunda as coisas. Compareremos as situações comparáveis. Falei de "programas com um determinado formato". Foi naquele programa com um certo formato que uns são tratados de uma forma e outros de outra. É isso que está em causa.
Se, a RTP-Madeira quer fazer um programa especial, com o Presidente do Governo, com dois jornalistas, está no seu direito.
Portanto, são dois campos diferentes.
Quanto aos jornalistas, sabe, meu caro, só quem tem pedras no sapato ou é muito novo nestas andanças, fica a pensar que esta minha análise constitui um ataque aos jornalistas. Não o faço. O problema é da ENGRENAGEM, meu caro. Os jornalistas são a parte mais vulnerável de todo o processo. E saiba mais, que tenho uma grande consideração pela actividade de jornalista e sei quão difícil é o exercício da profissão na Madeira. Todos ou quase todos têm casa, filhos, escola e família. São mal pagos e têm de "vergar-se" a um sistema que impõe regras. Respeito-os muito, porque por lá passei, embora não sendo. Daí que, peça que não misture as situações.
Só um pormenor: tanta gente critica o desporto. Imagine que eu, tendo por formação universitária inicial o desporto me sentia tocado. O problema é do sistema, da engrenagem e da incultura ou, se quiser, da cultura antidemocrática.
Quanto ao Dr. António Trancoso, obrigado pelo seu comentário. Há de facto covardia quando se foge ao debate.