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quinta-feira, 10 de março de 2011

CONTRA A FOME


Isto explica o vergonhoso condicionamento da sociedade madeirense que nem para o exercício da mais salutar e humanista cidadania, por razões diversas, de dependência, de cordões umbilicais ao poder, permite espaço para que as pessoas sejam livres para se dedicarem à solidariedade.


Ao ponto a que chegou o condicionamento da sociedade madeirense! Perante a fome, perante tanta e tanta necessidade básica, perante tanta instituição que precisa de ajuda para que possa ir ao encontro das carências, até agora não houve possibilidade de encontrar uma pessoa, uma única pessoa, liberta desde partidos políticos até à Igreja, para assumir a responsabilidade cívica de liderar a organização local de instalação e funcionamento do Banco Alimentar Contra a Fome.
Todo o País, quase um por distrito, desfruta de um BACF, nos Açores existem dois, mas na Madeira, com tanta pobreza evidente, não tem havido pessoas disponíveis para arrancar com o processo. Ou melhor, uma outra apresentou-se, mas os condicionamentos emperraram a disponibilidade.
Da reunião que eu e o Dr. Bernardo Martins tivemos, esta tarde, com a Drª Isabel Jonet, Presidente do Banco Alimentar, o visitante deste espaço que acredite que me senti constrangido. Não vou aqui falar do conteúdo da excelente reunião de quase uma hora e meia, por respeito à instituição que nos recebeu, mas é triste sentir, assumo eu, que é uma colossal mentira, dita no Parlamento, que o facto de não existir um Banco Alimentar tal se devia ao facto do respectivo armazém, por imposição, ter de situar-se dentro do Funchal. Mentira, com todas as letras!
O principal problema é de pessoas e sobretudo dos motivos que levaram algumas que se disponibilizaram a determinada altura desistirem. Há aspectos que vão ter que ser clarificados do ponto de vista político e sê-lo-ão, porque ninguém deve brincar com a fome. Não deixo porém de dizer duas coisas: primeiro, que isto explica o vergonhoso condicionamento da sociedade que nem para o exercício da mais salutar e humanista cidadania, por razões diversas, de dependência, de cordões umbilicais ao poder, permite espaço para que as pessoas sejam livres para se dedicarem à mais genuína solidariedade; em segundo lugar, a minha leitura do processo e que só a mim responsabiliza, é que se confirma que o governo, tal como esconde outras situações, também procura esconder a fome. Isto é execrável, não tem outra palavra que defina esta ausência do Banco Alimentar na Região. Só os excedentes da União Europeia, na ordem das 400 toneladas/ano, justificariam a sua presença na Região. O Banco Alimentar que hoje visitámos distribui, diariamente, 40 toneladas de bens alimentares, que acaba por esbater a fome diária de 50.000 em Lisboa.
Ora, quem assim se comporta, na Madeira, com os seus concidadãos, obviamente que merece a repulsa de todos.
NOTAS:
Para ouvir as declarações do Dr. Bernardo Martins: http://www.psmadeira.com/media/20110310_Bernardo_Martins.mp3

Não deixam de ser curiosos os seguintes dados: Considerando a divisão por regiões baseada nas NUTS II (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Madeira e Açores) pode-se constatar que o maior número de instituições de Solidariedade Social da amostra apurada se encontra na região de Lisboa e Vale do Tejo (570), seguida da região Norte que apresenta também um número muito próximo do anterior (566). Na região do Alentejo encontram-se 177 instituições apresentando a região Centro também um número muito próximo (116). Por fim, os Açores estão representados por 60 instituições, enquanto a região do Algarve apresenta 54 e a Madeira apenas 17. Por que razão será?
In Centro de Estudos e Sondagens da Universidade Católica.

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