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quarta-feira, 9 de março de 2011

EDUCAÇÃO, FONTE DE DEMOCRACIA. SABERÁ O GOVERNO O QUE ISSO É?



“(…) é forçoso constatar que a escola se esforça sobretudo em formar não-perturbadores, pensando que tanto melhor preservará a saúde da democracia quanto mais produzir conformistas. Nada disso. Ensinando unicamente a norma e não o seu questionamento, instalamos a inevitável entropia: orquestramos o declínio da democracia. (…) É esta a razão pela qual o facto de reflectir sobre as novas práticas inovadoras da pedagogia, é trabalhar directamente sobre a saúde democrática (...)"

Recebi da minha Amiga e Camarada Doutora Ana Benavente, por e.mail, o seu artigo de opinião hoje publicado no PÚBLICO. Pela sua importância e oportunidade, aqui deixo um excerto.

"Para que serve a educação? Na escola e em casa? Para a “empregabilidade” escrava? Para a passividade? Para cultivar silêncios e ausências? Ou serve para compreender o mundo em que vivemos? Para reconhecer o valor da acção individual e colectiva para mudar e melhorar esse mundo, começando pela nossa realidade mais próxima? Cada geração faz o que pode e o que sabe pela que se lhe segue, para o bem e para o mal. Conquistámos a liberdade e a educação. O que querem os mais novos fazer com esses bens? Não venham cantar “que saudades que eu já tinha da minha alegre casinha…”. É a vossa vez de lutar. E se é verdade que há jovens acomodados e sem ambição, outros há, e são muitos, que querem mais e melhor democracia. Para isso, participam, de modos vários, desde a criação individual à participação cívica e política na construção do bem comum.Nem parvos nem escravos seria um bom refrão para um canto quotidiano. Só seremos escravos se formos parvos. E somos parvos se nos deixarmos escravizar.
É verdade que, sendo a educação um bem precioso, a escola actual está longe de responder aos desafios sociais e pessoais. Prisioneira do passado, esmagada de burocracia, asfixiada por governantes sem rumo, debate-se num mal-estar que só terá saída numa visão de escola liberta de interesses particulares e de retóricas passadistas.
Termino com uma citação de Cynthia Fleury (Les Pathologies de la Démocratie, 2005, Paris, ed. Fayard) que me conforta na certeza de não estar só:
“(…) é forçoso constatar que a escola se esforça sobretudo em formar não-perturbadores, pensando que tanto melhor preservará a saúde da democracia quanto mais produzir conformistas. Nada disso. Ensinando unicamente a norma e não o seu questionamento, instalamos a inevitável entropia: orquestramos o declínio da democracia. (…) É esta a razão pela qual o facto de reflectir sobre as novas práticas inovadoras da pedagogia, é trabalhar directamente sobre a saúde democrática, no sentido em que isso significa pensar os fundamentos do projecto democrático. A educação é, por isso, a própria fonte da democracia e não apenas uma consequência da democracia. Assim, se é importante ensinar conteúdos, não é esse o desafio principal do ensino público. (…) É preciso sermos capazes de nos servirmos do que sabemos e saber ainda por que razões e para quê utilizamos esses saberes” (pp. 201-209).
Acabem com a Área de Projecto e com o Estudo Acompanhado, acabem, recusem qualquer mudança inteligente, criminalizem o bullying e verão as gerações do futuro desprezarem a democracia".
Ilustração: Google Imagens e arquivo próprio.

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