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segunda-feira, 28 de março de 2011

A FARSA DO INQUÉRITO À COMUNICAÇÃO SOCIAL


Este relatório constitui um fatinho à medida dos interesses do Governo, quando, todo ele aponta as baterias, em primeiro lugar, ao Diário de Notícias, ao seu Director e jornalistas, depois, fala da "anarquia reinante na RTP/RDP-M, ao incumprimento deliberado da independência e isenção de alguns jornalistas" e, finalmente, defende o Jornal da Madeira.


Inesperadamente, a Comissão de Inquérito Parlamentar à Comunicação Social da Madeira, da responsabilidade da 1ª Comissão Especializada da Assembleia Legislativa da Madeira, votou, esta tarde, o respectivo relatório. Ao longo de alguns meses, por solicitação da maioria PSD, foram recebidos na Comissão centenas de documentos. Enchi três pastas "ambar" com esses inúmeros quadros da aplicação da publicidade institucional, por parte das instituições oficiais, aos quais se juntaram outros de empresas privadas. Nenhum destes documentos ou a compaginação dos mesmos foi analisada. Apenas se juntaram papéis para justificar ou dar a aparência pública que o inquérito estava a ser realizado, deu-se uma maçada dos diabos a tanta gente para elaborar e remeter à Comissão os documentos solicitados sob pena de, por incumprimento ou desrespeito pela Comissão, serem remetidos os processos ao Ministério Público e, afinal, dir-se-á que a montanha pariu um rato.
Penso que tinha eu razão quando, na primeira reunião da Comissão, há já uns meses, disse ao Presidente da mesma, que se não fosse para trabalhar a sério mais valia apresentar, ali mesmo, o relatório que o governo pretendia. E assim foi, o relatório, elaborado, unilateralmente, pelo PSD, sem debate algum, foi aprovado pela maioria PSD com votos contra do PS e do PCP. Este relatório constitui um fatinho à medida dos interesses do Governo, quando, todo ele aponta as baterias, em primeiro lugar, ao Diário de Notícias, ao seu Director e jornalistas, depois, fala da "anarquia reinante na RTP/RDP-M, ao incumprimento deliberado da independência e isenção de alguns jornalistas" e, finalmente, defende o Jornal da Madeira.
Voltarei a este relatório, a estas nove páginas que ensombram o 1º Órgão de Governo Próprio da Região. Pergunto: como é possível tanta gente vergar-se a isto? Já nem disfarçam, apenas cumprem o ritual, o que vem no livrinho dos comportamentos políticos. 
Ilustração: Google Imagens.

10 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Direi que tais atitudes são também o produto de uma autonomia mal entendida. Num meio pequeno é fácil fazer simulacros de democracia e usar a autonomia como forma de escapar ao controlo das instituições de hierarquia mais elevada. Basta um pequeno grupo de mafiosos para dominar o sistema.
E o pior é que é proibido, sob pena de excomunhão e descida aos infernos, não ser exacerbadamente autonomista.

Lembra-se que a seguir ao 25 de Abril todos (legionários incluidos) era fervorosos esquedistas?

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Se me lembro!
Um fervoroso adepto do regime de então, cruzando-se comigo, depois do 25 de Abril, disse-me, com uma distinta lata: "sabes que eu nunca tive nada a ver com aquela gente!"

Ambiente Plural disse...

Não foi uma Comissão Parlamentar da ALR que fez e votou o relatório?
Estava à espera de quê?
Claro que o relatório só pode espelhar o ponto de vista da maioria. Assim funcionam as democracias. Ou não?
Queria o seu ponto de vista?
Toda esta cena é cínica.
Se quer um relatório com o seu ponto de vista faça-o. Será o relatório do grupinho parlamentar do PS.
Não se entende é que o DN vá neste jogo das minorias. Claro que, assim, só valida a absoluta necessidade de suportar o JM a todo o custo. Caso contrário perde-se, na Madeira, a pluralidade. Pois é necessário o JM para contrabalançar o DN. A democracia faz vingar a vontade das maiorias.
Se não gosta, há outras opções. Já todas experimentadas (na China, Coreia do Norte, etc).

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Eu tento ser claro naquilo que escrevo. Lamento não ser perceptível por algumas pessoas.
É óbvio que não me compete fazer o relatório. Apenas sou um membro da Comissão (o PSD dispõe de 7 elementos, o PS 1 e o PCP 1). Depois, sempre me subordinei a qualquer votação democrática, isto é, ganha quem tem a maioria. Ponto final. Outra coisa é discutir os documentos recebidos, cruzar toda a informação, promover sínteses e assumir um relatório consentâneo com os documentos recebidos.
O problema é que nada foi discutido. Encenou-se uma Comissão de Inquérito, tipo faz-de-conta, o que, em rigor democrático, valeu zero. O problema está aqui e não no resultado final da votação.

Anónimo disse...

Senhor Professor,

A propósito da sua resposta a Fernando Vouga, lembrei-me de um Post que publiquei em tempos no meu "excêntrico" e já extinto Blog "O Garajau - O Regresso dos Voos" (do qual nunca tive o prazer de saber Vexca seu leitor....), partilhando já na altura um dos meus maiores receios em relação ao que poderá suceder no período "pós-Jardim":
o Revisionismo Histórico! - coisa terrível e malogradamente injusta.

Permita-me recordá-lo e passo a citar:

"Desresponsabilização" (era o seu título)

"Através dos testemunhos meticulosamente registados em 1946 por Leon Goldensohn, psiquiatra ao serviço do exército americano destacado para a prisão de Nuremberga, foi possível compilar e trazer ao nosso conhecimento declarações verdadeiramente ensandecidas de criminosos nazis, que constituíram uma desconcertante e brutal auto-desresponsabilização, com o objectivo único de evitar ou atenuar a condenação que sentiam aproximar-se. É esta atitude de desresponsabilização (e apenas esta!!) covarde e infantil – naturalmente despojada de todo o restante enquadramento material! - que aqui pretendo evidenciar para o conteúdo deste post.

“…não entendo o que quer dizer com ficar perturbado com estas coisas porque eu, pessoalmente, não assassinei ninguém. Eu era apenas o director do programa de extermínio em Auschwitz.”
Rudolf Hoess, 11 de Abril de 1946

Acredito com convicção que assistiremos, no futuro, a declarações com igual propósito e objectivo de desresponsabilização pessoal, a fim de atenuar a censura social que certamente irá recair nos milhares de protagonistas, muitos deles anónimos, desta outra história que nos é mais próxima:

- “….eu era um simples funcionário do partido, apenas organizava a tratava de todas as burocracias da Festa…..”;

- “Sabe, o combate parlamentar naquela casa não era fácil. As ordens que tínhamos eram as de derrubar impiedosamente os nossos opositores, ainda que para isso tivéssemos de gritar e ameaçar. De contrário já não faríamos a próxima legislatura, isso era certo!....”;

- “Nós na redacção vivíamos um misto de medo e de vontade subversiva. Era interessante como doseávamos diariamente este misto de impulsos, com naturais reflexos nas notícias e, ao fim e ao cabo, na linha editorial. O nosso trabalho era o possível, ninguém nos pode agora pedir que fôssemos super-heróis!”;

- “Neste meio do audiovisual ninguém imagina as pressões a que somos sujeitos. O código de conduta era, naturalmente, o da isenção e o do pluralismo; a prática ditava invariavelmente outros caminhos mais “refinados”; o povo não desconfiava e a matriz de influência do poder instituído acabava sempre por passar. Na verdade não tínhamos alternativa. Todos nós tínhamos família a cargo. Fizemos o que estava ao nosso alcance”;

- “…Mais para o fim estávamos cientes do plano inclinado em que permanecíamos, todavia sentíamo-nos sem possibilidade de reagir: as consequências no plano pessoal e profissional seriam terríveis. Por isso, a sofrer, antes os outros do que nós….”;

- “Nós os empresários, que criamos riqueza e demos de comer a tanta família cá do burgo, sabíamos que não podíamos continuar na nossa actividade sem o beneplácito da “estrutura” (…) Tínhamos de aceitar as regras do jogo se não teríamos de montar arraial noutras longitudes. Além disso, sabe como é que é, uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.”;

- “Eu acreditava firmemente na linha programática do partido. Actuei sempre convencido que as decisões tomadas eram as melhores para o povo. E o amigo, que é de cá, sabe que nem sempre era fácil lidar com aquela gente de campo. Nós é que lhes mostrámos o caminho do desenvolvimento, se agora dizem mal isso só pode significar que são uns grandes ingratos!”;

- (…)

Os exemplos hão-de suceder à exaustão. Espero que as pessoas de bem, na altura, não fraquejem nas respostas.

Publicado por Vico D´Aubignac, Novembro de 2008"

Fim de citação.

Obrigado pela sua atenção.

V.D´A.

Anónimo disse...

Será que o Sr. Fernando Vouga tem algo contra a autonomia ? Parece-me que o país no seu todo, em relação à União Europeia tem-se portado bem pior do que a Madeira em relação ao país do qual faz parte integrante ! Portugal está na cauda da Europa e cada vez mais ! A Madeira,na sua globalidade, considerando as várias regiões do país, não está na cauda do país !

Fernando Vouga disse...

Caro Dr. André Escórcio

A propósito de um comentário discordante, e em concordância com este último e extenso comentário que muito apreciei, não posso deixar de lastimar a mentalidade dominante das hostes (hordas?) ligadas ao poder (sempre prontas a virar a casaca quando chegar a altura...). Pare eles, uma farsa deixa de o ser quando obtém a maioria de votos.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Quero que saiba que muito aprecio os seus comentários e a sua visão do que aqui e em muito lado se passa.
Quanto ao "anónimo", bom, basta ver as estatística para verificarmos onde se encontra a Madeira. Infelizmente.
Um abraço.

Anónimo disse...

Só para esclarecimento, os comentários anónimos acima não pertencem à mesma pessoa. Eu sou o 2º anónimo (comentário menos extenso). Quanto à Autonomia, lá porque os seus executantes não a têm usado com ética, bom senso, e responsabilidade adequadas, não é razão para acabar com ela ! Se assim fosse o "rectângulo", por indecente e má figura, em relação à Europa e ao seu próprio povo, já teria "fechado as portas" long time ago ! Tanto cá como lá a esperança está no "sangue novo" portador de outras posturas mas que tarda em chegar...

Fernando Vouga disse...

Caro senhor

Com todo o respeito, não me parece que alguém tenha aqui posto em causa a autonomia. No que me diz respeito, acho muitíssimo bem que exista.
O que se põe em causa é a tendência para ser usada muitas vezes como arma de arremesso e como forma de fugir à fiscalização do governo central. Mas é a minha opinião e, como tal, discutível.
Para terminar, as pessoas que são contra a autonomia têm todo o direito a sê-lo e a serem respeitadas.