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quinta-feira, 10 de março de 2011

TRÊS MILHÕES E MEIO...


(...) A Palavra que coloque certos senhores em acto de contrição pela forma como actuam, que coloque em causa os seus actos, que fale aberta e de forma independente dos problemas reais, que toque nas feridas sociais que sangram, que ela nunca seja um meio de estupidificação, mas de libertação, que faça da Igreja um contrapoder ao pensamento oportunista, reles e que nada tem a ver com os princípios orientadores da condução do Homem na Vida. 


Não aceito que um governo, com problemas financeiros até ao céu de boca, se dê ao luxo de aplicar mais três milhões e meio de euros em dois templos. Fora os outros!
Não entendo, por três motivos: primeiro, porque o número de fiéis que cumprem os rituais da Igreja Católica, visivelmente, diminuiram; segundo, porque 3,5 milhões (fora outros) muita falta fazem no combate à pobreza e à fome (2010 foi o ano europeu do combate à pobreza e à exclusão social); terceiro, porque demonstra, inequivocamente, a inversão das prioridades políticas do governo. Se, a essência, digo eu, da Igreja, circuncreve-se à mensagem "amai-vos uns aos outros como vos amei", este sinal dado pelo governo da Madeira, contraria, completamente, aquele nobre princípio, porque ele se inscreve numa lógica não de amor ao próximo e de partilha dos bens públicos, mas de poder. É o PODER político que está em jogo compaginado com a ignorância.
Já há dias disse-o aqui que, no plano da Palavra, sou tão Católico como qualquer outro que, diária ou semanalmente, assista aos rituais. No plano pessoal e familiar a Palavra está sempre presente e não preciso de outras formas, muitas delas exaustivamente repetidas, enviesadas e sem conteúdo que vão sendo propaladas. Preciso, isso sim, de ouvir a Palavra que coloque certos senhores em acto de contrição pela forma como actuam, que coloque em causa os seus actos, que fale aberta e de forma independente dos problemas reais, que toque nas feridas sociais que sangram, que utilizem a Palavra, que ela nunca seja um meio de estupidificação, mas de libertação, que faça da Igreja um contrapoder ao pensamento oportunista, reles e que nada tem a ver com os princípios orientadores da condução do Homem na Vida. E para isto não são necessários mais templos. Necessário se torna, apenas, menos opulência e mais verticalidade, independência e objectividade nas acções.
Ficaria feliz, por exemplo, se esses 3,5 milhões (fora os outros) fossem destinados às crianças com uma alimentação desequilibrada, às famílias desempregadas e aos idosos com pensões de miséria. Aplaudia se esse fosse o gesto.
O problema é que a Madeira tem um governo que conjuga este tipo de apoios com, por exemplo, os muitos milhões (fora outros) ao futebol.  Gastam à tripa forra porque a fome pode esperar. Não é esta a Palavra de Cristo. Pelo menos para mim.
Ilustração: Google Imagens.

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