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terça-feira, 29 de março de 2011

A VIDA DE UM PROFESSOR É APAIXONANTE


A Escola perfeita? "Seria uma comunidade educativa que tivesse em conta o lugar onde está inserida, que conhecesse bem a sua realidade, porque sem conhecer o contexto não se pode entender bem o texto. Seria uma escola com muita participação dos alunos com um programa que supusesse uma preparação para a vida, com dinâmicas inovadoras, não rotineiras, integrada por profissionais que amassem a sua profissão, com um líder ou um conjunto de pessoas que ajudassem os outros a crescer. Uma instituição criativa, com capacidade para se reinventar, flexível, com possibilidade de modificar as coisas que estão a ser feitas, com uma enorme capacidade de exigência e com capacidade de auto-crítica".


No revista "A Página da Educação", número referente à edição da Primavera 2011, li uma importante entrevista com Miguel Santos Guerra, um professor com um currículo invejável: leccionou em todos os graus de ensino e dirigiu escolas. Doutorou-se em Ciências da Educação, é Catedrático de Didáctica e Organização Escolar  na Universidade de Málaga. Trata-se de um professor internacionalemnte reconhecido.
A entrevista de sete páginas que vivamente aconselho a sua leitura, constituiu, para mim, uma lavagem de alma, um regresso, que já não acontecerá, à Escola que sempre sonhei. Como ainda ontem me dizia a Colega Elvira, "uma escola faz-se de pessoas, de emoções. Eu só desejava uma coisa: Ser feliz na profissão que não hesitei em escolher". A entrevista que acabo de ler vai nesse sentido, no sentido da felicidade de todos os que pertencem a uma determinada comunidade educativa. É-me difícil sintetizar passagens da entrevista, porque não há linha nem palavra que não seja importante, que não nos transporte para o pensamento organizacional, curricular e programático do nosso sistema educativo. Portanto, o que aqui ficará, nem de perto nem de longe constitui uma síntese. Talvez, alguns excertos que prenderam a minha demorada leitura. 
Diz, logo de início, o Professor Miguel Guerra: "(...) disse um pedagogo italiano que para ensinar Latim ao João, mais do que saber Latim, é preciso conhecer o João" (...) os alunos aprendem daqueles professores que amam e, por sua vez, quando o professor ama a sua missão e ama as pessoas, torna possível o processo educativo e o processo aprendizagem, porque o verbo aprender, tal como o verbo amar, não se podem conjugar no imperativo. Despertar o desejo de aprender, despertar o desejo de ser uma pessoa melhor, só se consegue com amor".
E logo mais adiante: "(...) a educação tem a meu ver, duas componentes: a componente crítica, ser capaz de analisar e de entender o que se passa. Mas para que haja educação, tem de haver uma dimensão ética, que consiste em saber conviver, na solidariedade, em ter compaixão para com os desfavorecidos. A Educação é o principal elemento que nos afasta da selva, onde o mais forte come e destrói o mais débil (...) acho que as aprendizagens seriam melhores se os alunos participassem mais, se não fossem meros aprendizes, profissionais da obediência - vocês têm de fazer o que os outros pensaram, o que decidiram para vocês fazerem, ou seja, ver a Escola mais como um projecto partilhado. Muitos dos problemas de hoje das escolas não se resolvem com mais vigilância, com mais ameaças e com mais castigos. Acredito que se resolvem com mais participação".
É claro que estes são conceitos que implicam uma nova Escola do ponto de vista organizacional. O Professor Miguel Guerra sabe o que diz, não fosse ele professor catedrático em organização escolar. Nesta entrevista ele refere a necessidade de escolas com menos alunos e "não muitos alunos por turma", a par de outro tipo de dinâmicas que não sejam, digo eu, a escola do toca-entra-toca-sai. Por aí a "vida de um professor é apaixonante. As dificuldades vivem-se de maneira diferente, com atitudes diferentes". Hoje "acho que posso classificar a situação do professor de problemática, complexa, difícil, mas se me perguntarem  se existe um adjectivo que defina a profissão docente, eu diria que é apaixonante".
Depois, toca na formação inicial dos professores para salientar que "para essa missão tão complexa tem de ser melhor do que habitualmente é. Esta é uma tarefa problemática, mas a formação para desenvolvê-la é muito teórica, muito retórica, é excessivamente academicista".
O professor, a par destes conceitos, também sublinha: "sem a família, impossível", aliás o título de uma sua obra. Se não existe uma complementaridade, os seus pais estão a alimentar um monstro, e os primeiros a serem devorados por esse monstro são eles". O que implica, obviamente, aquilo que há muito venho aqui a escrever, exactamente, a ausência de políticas de família sérias, corajosas, de rigor e de respeito.
Ao longo da entrevista detive-me na parte que o Professor se refere à avaliação do desempenho dos docentes. "A avaliação deve ser entendida como um instrumento para compreender e para melhorar, não como um juízo, não como uma competição, como uma ameaça, mas como um instrumento que permita saber  o que se passa e melhorar através dessa compreensão. É preciso saber porquê, para quê e como se faz". Aliás, diz o professor, "a escola não é uma empresa".
A entrevista termina com uma pergunta: como definiria uma escola perfeita? "Seria uma comunidade educativa que tivesse em conta o lugar onde está inserida, que conhecesse bem a sua realidade, porque sem conhecer o contexto não se pode entender bem o texto. Seria uma escola com muita participação dos alunos com um programa que supusesse uma preparação para a vida, com dinâmicas inovadoras, não rotineiras, integrada por profissionais que amassem a sua profissão, com um líder ou um conjunto de pessoas que ajudassem os outros a crescer. Uma instituição criativa, com capacidade para se reinventar, flexível, com possibilidade de modificar as coisas que estão a ser feitas, com uma enorme capacidade de exigência e com capacidade de auto-crítica".
Ilustração: Google Imagens.

8 comentários:

elvira disse...

Santos Guerra é, na verdade, o Arqueólogo das Emoções da escola.
Acredito que, algures, ainda há uma escola perfeita...
Se sou sonhadora? Sim, assumo. E daí?
Obrigada pelo artigo.
elvira

Pica-Miolos II disse...

Senhor Professor
Destas coisas percebo pouco,todavia, pelo que oiço e vejo,talvez não fosse má ideia que os actuais Conselhos Pedagógicos passassem a designar-se por "Conselhos de Avaliação e de Apoio Didáctico-Pedagógico",constituídos por três docentes de cada grupo,competindo-lhe agir em conformidade com a nova nomenclatura.
Já sei que não me devia meter nisto...mas apeteceu-me...picar.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário, Colega Elvira. Torna-se obrigatório, mais do que nunca, continuar a sonhar. Porque só "quando o Homem sonha o Mundo pula e avança". A nossa Escola precisa de professores com sonho, porque são esses os capazes de promoverem a mudança.
Obrigado, quando tantas vezes uma pessoa se sente só nesta luta.

André Escórcio disse...

Obrigado "Pica-Miolos" pelo seu comentário. O Senhor sabe muito disto! Por lá passou e por lá perdeu cabelo. Essa designação parece-me perfeita e abrangente. Continue a meter-se ONDE É CHAMADO!

claudia disse...

Exmo. Senhor,
Já por algum tempo ando à procura do autor de uma citação que usou, pensando que teria sido Chesterton. A citação é aquela que diz que "mais do que conhecer latim, é preciso conhocer o João..." mas como referiu, o autor foi um pedagogo italiano.Seria possível dizer-me o seu nome, pois estou neste momento a elaborar um projecto de formação de professores e esta informação ser-me-à muito útil.
Claudia de Sousa

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Sou assinante e colaborador permanente da Revista A Página da Educação. A revista nº 192, Primavera 2011, na página 8, inclui uma entrevista com o Professor Doutor Miguel Santos Guerra, Catedrático de Didáctica e Organização Escolar, na Universidade de Málaga. Na página 10, quando o jornalista perguntou, quais as grandes diferenças entre os vários níveis de ensino, ao Professor respondeu: "(...) disse um pedagogo italiano que para ensinar Latim ao João, é preciso conhecer o João (...)".
Ele não se refere ao autor e eu apenas referenciei o nome do Professor Miguel Guerra.
Eu que acompanho o que de bom se publica, desconhecia a frase.
Mas, já agora, a Colega é da Madeira?

claudia disse...

Boa noite Professor,
Muito obrigada por responder tão prontamente à minha questão sobre o autor. Não sou da Madeira, sou de Ourém, uma cidade perto de Fátima. Estive na Madeira em Setembro passado a dar uma palestra pela APPI.

André Escórcio disse...

Bom dia, Caríssima Colega.
Se precisar de alguma colaboração estarei sempre disponível.