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domingo, 17 de abril de 2011

UMA IGREJA PARTIDÁRIA


Como é que gente da minha Igreja não consegue fazer um acto de contrição, que prefira manter fora da Igreja um Pastor que deseja estar de pleno direito na Igreja que serve? Por ser político? E Cristo, não o foi? Cristo não defendeu o que muitos políticos, mesmo aqui próximo de nós, defendem na sua actividade em defesa dos pobres e dos que não têm voz?


Para mim é um não caso, o do Senhor Padre Martins Júnior. A sua suspensão "a divinis" definida pelo Bispo Francisco Santana não é, apenas política, é claramente partidária. A narrativa dos acontecimentos (in Jardim, a Grande Fraude), o seu percurso de vida, a carta do Padre Mário Tavares, escrita a 10 de Março de 1985, ao Senhor Bispo António Teodoro, parece-me bem clara. O Padre Mário Tavares, a páginas tantas sublinha: "(...) mas porventura a ilha da Madeira conheceu algum político mais activo do que D. Francisco Santana, enquanto Bispo do Funchal?".
Passados todos estes anos, D. Teodoro passou ao lado (e percebo porquê) de um problema que deveria ter resolvido e, o agora Bispo D. António Carrilho denuncia lavar as mãos. Passaram-se quatro anos desde que aqui chegou. Que grande engrenagem esta! Como é que gente da minha Igreja não consegue fazer um acto de contrição, que prefira manter fora da Igreja um Pastor que deseja estar de pleno direito na Igreja que serve? Por ser político? E Cristo, não o foi? Cristo não defendeu o que muitos políticos, mesmo aqui próximo de nós, defendem na sua actividade em defesa dos pobres e dos que não têm voz? Há algum "crime" em subir ao púlpito e falar a verdade, muito para além, perdoem-me a franqueza, da lengalenga das Leituras que todos já as conhecemos de fio a pavio? Haverá mal algum em denunciar a pobreza, os escândalos, a inversão das prioridades, as carências e as meias-verdades? Haverá algum mal em olhar para a Cruz de uma forma redentora e não pelo seu peso na vida de cada um? E que peso na consciência dos líderes da Igreja quando o que parece estar em causa é uma troca de silêncios por subsídios? Então o Presidente do Governo pode falar (já discursou) no púlpito com intervenções políticas e os Senhores Padres não?
Já agora... Inaceitável, com todo o respeito por Sua Excelência Reverendíssima, o Senhor Bispo D. António Carrilho, que existindo uma carta, há mais de um ano, no Paço Episcopal, solicitando uma audiência com o Grupo Parlamentar do PS-Madeira, no quadro do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social (2010), essa carta nem resposta tivesse tido. Foi ignorada. Cruzei-me com D. António, no decorrer das cerimónias do dia da Força Aérea, realizadas na Madeira, falou-me de condicionamentos de agenda, embora não lhe tivesse feito qualquer abordagem nesse sentido. Enfim, o Ano Europeu lá vai, porém, a pobreza continua e cresce na Madeira. Daí que o pedido de audiência se mantenha. Porque somos poucos para trabalhar nessa área.
Portanto, fica claro, que se o encontro não se realiza é porque existe uma claríssima intervenção política e sobretudo partidária nesse sentido, que não abona a independência da Igreja e mais do que isso, a sua necessidade de trabalhar com todos independentemente dos posicionamentos político-partidários. Não é esta a minha Igreja, a Igreja dos Homens que marcam uma diferença entre as palavras e os actos.
Uma palavra final: resolvam lá o problema que criaram ao Senhor Padre Martins Júnior. Porque os Homens passam e a Igreja continua. Mesmo sem fogueiras e torturas, há para aí uma espécie de intolerável e moderna "Inquisição". Basta!
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Há muito que não tenho grande apreço pela Igreja Católica. Para mim, as religiões não me merecem grande respeito porque acho que não passam de meras engrenagens das máquinas do poder. Mas não lhes falto ao respeito porque, desde a meninice, que aprendi a respeitar os outros...
O caso madeirense dá que pensar. Vários sacerdotes católicos foram aqui perseguidos pela hierarquia católica madeirense por terem sido acusados de se meterem na política (embora sem direito a defesa). Porém, houve um "sacerdote" que foi julgado e condenado (com direito a defesa) por um crime gravíssimo, de contornos mais que escandalosos e repugnantes para a moral católica. Mas foi protegido e defendido pelo seu bispo, que o comparou a Cristo. Condenado esse a quem foi facilitada a fuga para o Brasil em circunstâncias muito mal averiguadas.
Isto diz tudo!

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário. Ainda há pouco estive a ler o caso do "padre Frederico" narrado no livro "Jardim, a Grande Fraude". Uma vergonha.

Anónimo disse...

Este sr. Fernando Vouga deve ter cuidado. Olhe que Ele está em toda a parte ! Ou se redime a tempo ou ainda apanha umas boas palmatoadas quando chegar lá cima ! Quem me avisa meu amigo é !...

Fernando Vouga disse...

Caro anónimo

Obrigado, sinceramente, pelo aviso, ao qual achei imensa piada. Mas, como não sou sócio da Igreja católica, as suas leis e demais posturas não me são aplicáveis.
Quem deve ter cuidado é o "padre" Frederico e quem o protegeu. Esses sim, porque se inscreveram e aceitaram as regras.