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sábado, 21 de maio de 2011

ENTRE A DEFESA DO ESTADO SOCIAL E O ULTRALIBERALISMO


Considero, pois, pouco relevante falar-se de vencedores do debate. Prefiro a abordagem propositiva e o que se esconde por detrás das propostas. Penso ser mais importante do que a transformação ou redução do debate a um resultado de uma partida de futebol. Se foi 4-0 ou 3-1 pouco me interessa. Importante foi perceber que paradigmas foram desenvolvidos e isso, do meu ponto de vista, ficou claro. 


Assisti ao debate entre os candidatos Engº José Sócrates e o Dr. Pedro Passos Coelho. Ficou claríssimo, pelo menos na minha leitura, dois políticos com dois projectos distintos para Portugal. O socialista José Sócrates com uma preocupação em manter o Estado Social, o outro, o social-democrata Pedro Passos Coelho, muito distante daquele conceito. Isso ficou bem marcado quando José Sócrates, factualmente, confrontou-o com as suas posições escritas, em livro, em declarações e em programa eleitoral, e assisti a uma preocupação de Passos Coelho fugir a esses temas. A questão da Segurança Social, da protecção dos trabalhadores, dos sistemas de saúde e educação, o candidato do PSD não teve capacidade para explicar e fundamentar fosse o que fosse. Marcante, ainda, a posição de José Sócrates, quando, face a um relatório, assinado por Passos Coelho, enquanto administrador de uma empresa (2010) se referia à conjuntura adversa, no plano nacional, consequência da crise internacional. Uma vez mais, aqui, o social-democrata, viu-se incomodado para justificar as suas posições de hoje relativamente às de ontem, no que concerne ao quadro geral da economia e das finanças. Estes foram, do meu ponto de vista, os momentos mais definidores do debate: por um lado, o porquê da crise e a posição que Passos Coelho assumia antes de ser candidato; por outro, a grande diferença na postura política entre quem defende o Estado Social e quem se apresenta liberal ou ultraliberal nesse campo.
Depois, vieram os comentadores (refiro-me à RTP 1). Eu que acompanhei o debate na presença de outras pessoas (que não são da área socialista), demos com "analistas", das duas uma, ou mal preparados ou manifestamente sectários e, diria mais, partidários. Neste aspecto, destaco, pela negativa, Maria João Avilez que me pareceu estar a comentar um outro qualquer debate. Aquele, certamente, não. Mas isso, até consigo dar de barato, porque, é evidente que o jornalista, em todos os momentos, transporta não só os seus conhecimentos, mas também as suas crenças, atitudes, presunções, preconceitos, emoções e experiências. E, quando comenta, todos esses aspectos acabam por  serem verbalizados. O que para mim é grave é não assistir a um esforço mínimo em compreender o que se passou no Mundo nos últimos anos, isto é, quais os factores da crise, e equacionar, políticamente, as grandes diferenças entre os dois paradigmas de governação: um, apesar da pressão internacional (neste momento, dos 27 países da UE, 24 são de direita) que tenta manter uma luta na defesa dos valores sociais; outro, que se entrega às lógicas governativas marcadamente liberais. E o problema reside exactamente aí, ou nos defendemos, ou nos entregamos a essa avassaladora onda daqueles que, em seu proveito, geraram a crise e são portadores de uma vontade de aniquilamento de sociedades mais justas e mais fraternas. Lógico, numa análise política, social, económica, financeira e até cultural, seria assumir que José Sócrates não foi tão longe quanto seria desejável, apesar de se encontrar "amarrado" por uma dívida externa que terá de ser paga à custa de grandes constrangimentos do povo português. A contrária julgo que não, pois esse caminho significa acentuar as diferenças, encurralar dos pobres, favorecer o desemprego e proporcionar o crescimento de uns à custa dos demais. É isto que está aos olhos de todos, mas que alguns não conseguem ou não querem ver. 
Considero, pois, pouco relevante falar-se de vencedores do debate. Prefiro a abordagem propositiva e o que se esconde por detrás das propostas. Penso ser mais importante do que a transformação ou redução do debate a um resultado de uma partida de futebol. Se foi 4-0 ou 3-1 pouco me interessa. Importante foi perceber que paradigmas foram desenvolvidos e isso, do meu ponto de vista, ficou claro. 

6 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Dou-lhe razão no plano teórico. Aparentemente estavam em causa dois paradigmas. Mas o que verdadeiramente estava a ser jogado era a imagem de cada um dos candidatos. Quanto mais não seja, porque normalmente os vencedores, uma vez no poder, metem fatalmente os ditos paradigmas na gaveta...
Na minha análise, na disputa da imagem, o debate sagrou-se num empate, embora Coelho brilhasse pela capacidade de se aguentar "nas enclinas" em frente de tão poderoso contendor. Algo que eu, francamente, não esperava.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Pois, uma coisa é o discurso, outra a práxis política. Eu quero acreditar que é possível defender "o que resta" do Estado Social. Por isso, considero que Sócrates deveria ter ido mais longe nos princípios e valores que configuram (ou deveriam) os actos políticos da esquerda.

Anónimo disse...

O problema destes debates são sempre as meias verdades. A saúde é cara e alguém tem de pagar. O buraco financeiro nem é conhecido, nem interessa nestas discussões. Os orçamentos hospitalares são inadequados aos serviços a prestar e os pagamentos aos fornecedores vão ficando para trás. A maioria dos hospitais tem dividas desde janeiro de 2009. Por isso continuamos a ter uma saúde mais cara. Um produto "A" comprado em Portugal e pago a 365 dias é 3 vezes mais caro que na Alemanha ou no privado que paga a 30 dias.
Para além dos modelos sociais o que se tem de discutitir é quem e como se paga a saúde. Já hoje, quem tem dinheiro tem melhor saúde, educação, justiça (ou a fuga dela).

António Trancoso disse...

Meu Caro Amigo
Ganhou um? Ganhou outro?
Concordo com Fernando Vouga, quando sugere o empate; todavia, vou um pouco mais longe: ganharam os dois.
E,infelizmente,tudo indica que continuarão a ganhar.
De uma coisa,contudo,estou certo; quem perderá,sempre...serão os mesmos de sempre, como se estivessem condenados à escolha do "mal menor" e não existissem mais opções,isentas de responsabilidades na desastrosa e incompetente gestão da Coisa Pública.
Permita-me,Caro Amigo,um desabafo: um povo,incapaz de se indignar,incapaz de punir quem o mereça,incapaz de subtrair-se ao medo,incapaz de promover e exigir a mudança...é um povo amputado de Auto-estima,é um povo amputado de Dignidade,é um povo anestesiado.
Um dia,acordará.

André Escórcio disse...

Obrifado pelo seu comentário.
Concordo com a generalidade da sua posição. Tem de haver respeito pelos fornecedores.
Quanto aos custos da saúde e, já agora, da educação, obviamente, que a estrutura da oferta terá de assentar no rigor a todos os níveis. E é sobretudo uma questão de estabelecimento de prioridades para quem está no poder.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário, Caríssimo António Trancoso.
Oxalá, por aqui, esse povo anestesiado acorde, rapidamente.
É nesta terra que temos o dever de construir o novo! É a nossa terra.